Espanha começa a vacinar crianças dos cinco aos 11 anos. Como decorre o processo no país vizinho?

As autoridades sanitárias de Espanha começam esta quarta-feira a pôr em prática a vacinação dos menores entre os cinco e os 11 anos de idade, três dias antes do início do processo em Portugal, que terá início com as faixas etárias dos dez e 11 anos. As regras, no país vizinho, apresentam algumas diferenças entre comunidades, como por exemplo a necessidade de consentimento verbal ou autorização por parte de um ou ambos os pais.

Carlos Santos Neves - RTP /
Desde o advento da pandemia, Espanha reportou 399 mil casos de infeção em crianças abaixo dos nove anos

Na base da decisão, em Espanha, de vacinar os menores dos cinco aos 11 anos está o aumento dos casos de infeção reportado ao longo das últimas semanas. Esta vacinação pediátrica contra a covid-19 foi determinada no passado dia 7 de dezembro pela Comissão de Saúde Pública, que integra o Ministério espanhol da Saúde e as comunidades do país.

Há 3,26 milhões de menores nas faixas etárias a vacinar a partir desta quarta-feira em Espanha. Tal como em Portugal, ficam, por ora, arredados do processo as crianças com idades inferiores aos cinco anos. Isto porque a vacinação, neste caso, carece ainda de aprovação da Agência Europeia de Medicamentos.

Desde o advento da pandemia, Espanha reportou 399 mil casos de infeção em crianças abaixo dos nove anos. Destas, 3.398 tiveram de ser hospitalizadas, 177 foram internadas em unidades de cuidados intensivos e 20 acabaram por morrer, segundo dados avançados na edição online do jornal espanhol El País. Quanto às faixas etárias a partir dos 12 anos de idade, cuja vacinação começou no verão, Espanha figura, juntamente com Portugal, Islândia e Finlândia entre os países da Europa com mais adolescentes inoculados. Completaram o processo, no país vizinho, mais de 85 por cento destes jovens.

Em Espanha, o entendimento das autoridades sanitárias foi o de que a vacinação dos menores “pode reduzir a transmissão no agregado familiar, nos centros educativos e na comunidade, contribuindo para a proteção das populações mais vulneráveis”. De resto, os menores abaixo dos 12 anos constituem agora o grupo em que a incidência da covid-19 é mais alta: 640 casos por 100 mil pessoas a 14 dias.

O país ibérico está a viver a sexta vaga da pandemia. Em duas semanas, de 30 de novembro a 14 de dezembro foram reportados 490 óbitos associados à covid-19 e mais de 200 mil contágios, dos quais 26.136 nas últimas 24 horas.
Reforço para menores com condições de risco

Tal como em Portugal, as crianças espanholas elegíveis para a vacinação vão receber duas doses com um intervalo de aproximadamente oito semanas.

Cada uma das doses conterá um terço do princípio ativo das vacinas dadas aos maiores de 12 anos de idade – em Espanha, quem completar 12 anos no intervalo entre as duas doses será, à segunda vez, inoculado como tal.

O Conselho Interterritorial de Saúde de Espanha recomendou que o processo tivesse início com as crianças de dez e 11 anos, como vai suceder em Portugal. Mas algumas comunidades, como a Catalunha, optaram por abranger todas as faixas já no arranque da vacinação.

As crianças espanholas que já tenham estado infetadas vão ser inoculadas com uma dose única quatro semanas após o diagnóstico ou do início da sintomatologia associada à covid-19. Se for contagiada entre doses, a criança receberá a segunda depois das mesas quatro semanas desde a infeção.

Em Portugal, será dada prioridade na vacinação a crianças com doenças ou condições consideradas de risco. Em Espanha, este grupo receberá uma terceira dose uma vez decorridas quatro semanas depois da segunda.

A maior parte das comunidades espanholas vai inocular as crianças em centros de saúde ou de vacinação previamente instalados. Madrid acrescenta às estruturas de vacinação os hospitais. E a Comunidade Valenciana, a Extremadura, Castilla-La Mancha e La Rioja incluem estabelecimentos de ensino.
Consentimento parental

Os menores espanhóis serão vacinados mediante consentimento verbal ou autorização de um dos pais na maioria das comunidades. São exceções a Extremadura e a Comunidade Valenciana, que exigem a autorização de ambos os progenitores.

Se um dos pais se opuser à vacinação, deverá comunicar a sua posição ao sistema de saúde pública. Caberá à justiça dirimir.

Em Portugal, quem agendou a vacinação dos menores através do portal da Direção-Geral da Saúde começou a receber uma mensagem prévia à marcação da hora: “Vai receber uma proposta de agendamento para vacinação 10-11 anos. Caso responda SIM, deve obter o consentimento dos seus pais ou representante legal”.
A campanha em Portugal
Ao início da noite de terça-feira, havia já perto de 30 mil crianças de dez e 11 anos de idade com pedidos de autoagendamento da vacinação. “Um bom indicador”, nas palavras do secretário de Estado adjunto e da Saúde.

António Lacerda Sales voltou a enunciar “três grandes objetivos”: “Proteger, em primeiro lugar, as crianças, proteger também a normalização da sua vida, nomeadamente na escola, e também proteger a vida em sociedade”.

Recorde-se que o autoagendamento online da vacinação de crianças de dez e 11 anos está aberto desde as 20h00 de segunda-feira.

Nos dias 18 e 19 de dezembro serão então vacinados menores daquela faixa etária. De 6 a 9 de janeiro vão ser vacinadas as crianças entre os sete e os nove anos. Os dias 15 e 16 de janeiro estão reservados para as faixas dos seis e sete anos. Por último, serão vacinadas com a primeira dose, a 22 e 23 de janeiro, os menores com cinco anos de idade.

A administração das segundas doses está prevista para o período de 5 de fevereiro a 13 de março, completando-se assim o esquema vacinal.São mais de 600 mil as crianças em Portugal abrangidas por este processo de vacinação. Aos menores com comorbilidades é dada prioridade mediante prescrição médica; nestes casos, basta que se desloquem aos centros de vacinação.


A decisão de vacinar as crianças dos cinco aos 11 anos foi anunciada pela Direção-Geral da Saúde a 7 de dezembro, uma vez auscultada a Comissão Técnica de Vacinação e avaliada a logística com o núcleo de coordenação de apoio ao Ministério da Saúde – designadamente a disponibilidade da versão pediátrica das vacinas do consórcio Pfizer-BioNTech.

Perto de 300 mil doses de vacinas pediátricas contra a covid-19 chegaram na última segunda-feira a Portugal.

De acordo com os últimos dados disponíveis – que constam no parecer da Comissão Técnica de Vacinação -, Portugal somou, desde o início da pandemia, 175 mil casos de covid-19 em menores de 18 anos. Destes, cerca de 69.800 foram diagnósticos em crianças dos cinco aos 11 anos de idade.

“Durante 2021, 6,9 por cento do total de casos de covid-19 ocorreram em crianças dos cinco aos 11 anos. Esta percentagem apresenta tendência crescente desde o início do ano, tendo subido de quatro por cento, a 1 de janeiro, para 14 por cento em novembro”, lê-se no parecer.

c/ agências
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