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Espanha. Escasseiam profissionais de saúde para enfrentar segunda vaga da pandemia

por RTP
Vincent West - Reuters

Os números de infeções em Espanha não deixam dúvidas: o país já está a enfrentar a segunda vaga da pandemia. Mas, à semelhança do que aconteceu na primeira onda da Covid-19, as falhas dos sistemas de saúde também se tornam mais evidentes, à medida que a epidemia evolui e que se esperam mais respostas. Não há profissionais de saúde suficientes para enfrentar uma nova vaga do novo coronavírus.

Os serviços de saúde em Espanha começam a ameaçar entrar em colapso, com o número de doentes com covid-19 a aumentar. A opinião é unânime e partilhada por sindicatos, sociedades médicas e até líderes políticos: faltam médicos e enfermeiros no Sistema Nacional de Saúde espanhol para enfrentar uma segunda vaga da pandemia. A denúncia foi avançada, esta terça-feira, no El País.

Já na segunda-feira a presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, reconheceu que "Espanha tem um problema de falta de médicos e enfermeiros".

Em comparação com a União Europeia, Espanha está abaixo da média em termos de números de médicos e enfermeiros e profissionais essenciais para travar a segunda onda da covid-19. O país tem uma média de 76,5 médicos por 100 mil habitantes (contra uma média de 123,4 na UE) e de 520 enfermeiros (contra os 840 na Europa).

Fernando Simón, diretor do Centro de Coordenação de Alertas de Saúde e Emergências do Ministério da Saúde, admitiu ao jornal espanhol que há "uma queixa crónica de falta de recursos ou sobrecarga". No entanto, garantiu que "há equipamento suficiente para trabalhar, os médicos em Espanha são os que existem, a primeira vaga passou com dificuldades, mas passou graças ao esforço desumano dos profissionais".

"Acho que [a segunda onda] não será tão difícil, mas é claro que gostaríamos de ter um número maior de médicos, porque na Espanha, como em todos os países, é limitado", acrescentou.
Precariedade e falta de contratação
Uma coisa é certa: desde o final da época de férias, quando o número de infetados pelo novo coronavírus voltou a aumentar, os serviços de saúde voltaram a estar sobrecarregados, principalmente os de saúde primária como os centros de saúde. Os sindicatos e as sociedades médicas consideram que se trata de um problema estrutural e que dificilmente se resolve nos próximos meses.

Uma das causas apontadas para esta falha dos sistemas de saúde espanhóis é a falta de contratação e a precariedade "crónica" em que se mantém os profissionais.

Segundo um estudo da Organização Médica Colegiada, metade dos médicos do Sistema Nacional de Saúde não tem domicílio próprio. Destes, 40 por cento assinaram contratos de menos de seis meses.

A contratação dos profissionais de saúde podia resolver parte do problema, mas não completamente, uma vez que continuariam a não ser suficientes.

A presidente da Comunidade de Madrid afirmou, na segunda-feira, que o sistema não forma profissionais suficientes para substituir os que se aposentam, e que nos próximos anos isso vai ser mais notório. Por isso, Ayuso pediu a Pedro Sánchez incentivos de forma a atrair médicos e enfermeiros, ou que pelo menos tentasse acabar com a precariedade dos atuais profissionais.

Lorenzo Armenteros, da Sociedade Espanhola de Medicina Geral e de Familiar, explicou à publicação que para o bom funcionamento dos sistemas faltam entre quatro mim e seis mil médicos de família, ou seja, cerca de 14 por cento dos que já existem. E isso numa época normal sem a sobrecarga de uma pandemia.

Portanto, se os profissionais de saúde já escasseavam nos serviços, com a covid-19 a situação só piorou e a falta de capacidade de resposta tornou-se mais evidente.

"Sobrecarregou mais o sistema, gerou uma situação de sobrecarga burocrática crescente para o ensino básico: procedimentos, prescrições, altas médicos, recibos de escola, licenças médicas dos pais, além do acompanhamento de casos de covid-19", afirmou Serafín Romero, presidente do Conselho Geral das Associações Médicas Oficiais (CGCOM), que defende um "plano Ifema" na escola primária.

"Assim como os pacientes com o novo coronavírus foram encaminhados para uma infraestrutura especial, pedimos que certos encargos sejam retirados aos médicos, tanto burocráticos como a nível da realização de exames e comunicação dos resultados para que possam ficar com seu verdadeiro trabalho: cuidar dos pacientes e monitorizá-los adequadamente, tanto para a covid-19 como para outras doenças", continuou Romero.
Profissionais apelam a uma melhor gestão da pandemia

Espanha está de novo a enfrentar um aumento de casos de covid-19, ainda no rescaldo de uma primeira vaga. E para os profissionais de saúde e cientistas é claro que é preciso ter uma resposta "coordenada, equitativa e baseada em evidências científicas", com critérios claros e com indicadores comuns e transparentes, ter profissionais de saúde e apoiar a saúde primária, que neste momento está em colapso.

Segundo o La Vanguardia, os profissionais acusam a classe política de tomar medidas tardias e nem sempre acertadas por não avaliarem as questões de saúde pública.

Cerca de 55 sociedades científicas, representando mais de 170 mil profissionais de saúde sssinaram, este fim de semana, um documento no qual pedem que a tomada de decisão para enfrentar a pandemia seja orientada por critérios "estritamente sanitários", baseados nas melhores evidências científicas disponíveis, e "desvinculada de qualquer outro interesse que não o interesse geral da população".

Os representantes das sociedades científicas, incluindo a Sociedade Espanhola de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica, a Sociedade de Farmacogenética e Farmacogenómica, a Sociedade de Médicos Gerais e de Família e a Sociedade de Virologia, apelam à "responsabilidade dos representantes em alcançar um clima de diálogo e consenso que permita a tomada das melhores decisões na gestão da pandemia", como um protocolo nacional baseado nas melhores evidências científicas disponíveis "e, portanto, necessariamente flexível em função do avanço do conhecimento".

Este protocolo deve abordar, entre outras questões, medidas preventivas gerais, o tratamento de pacientes infetados, estratégias de rastreamento de contactos e a gestão dos centros de saúde, e deve ainda estabelecer critérios de ação e indicadores de avaliação comuns, explicaram os especialistas ao jornal.

"Dizemos aos nossos dirigentes políticos que estamos fartos. Exigimos a implementação de medidas urgentes", lê-se nos apelos assinados pelos especialistas que denunciam a situação de "emergência" em que o país e os sistemas de saúde sobrecarregados se encontram.

A este movimentos juntaram-se ainda 20 especialistas em Saúde Pública da comunidade internacional que pediram, uma vez mais e através de uma carta no The Lancet Public Health, que o Governo espanhol pedisse urgentemente uma análise independente da pandemia em Espanha. Os signatários acreditam que Espanha tem um dos piores números da Europa, apesar de ser um estado do G-20.
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