Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

Especialistas alertam para "tsunami" de doentes mais velhos com cancro

por Carla Quirino - RTP
David Araújo - RTP

Com o envelhecimento da população, os serviços de saúde globais serão atingidos por um "tsunami grisalho" de doentes mais velhos com cancro, nas próximas duas décadas, alertam oncologistas. Em Chicago, nos encontros da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, os especialistas pediram uma ação urgente para aumentar a força de trabalho médica ao alertarem para o facto de que o mundo "não está preparado" para essa explosão.

O tsunami grisalho é uma metáfora usada para descrever o envelhecimento populacional e os impactos económicos e de saúde associados aos mais velhos.

Com o aumento da esperança média de vida, estima-se que essa cada vez maior população envelhecida necessitará de cuidados específicos de saúde.

Se se somar à equação doenças do foro oncológico que surgem em grande parte nos pacientes com idades mais avançadas, os sistemas de saúde serão incapazes de lidar com o denominado “tsunami grisalho”, alertaram os médicos, durante o congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica - ASCO, a decorrer em Chicago.

“À medida que a população se expande e a incidência aumenta, estamos realmente preparados para lidar com essas necessidades? Acho que globalmente não estamos preparados”, adverte Andrew Chapman, diretor do Sidney Kimmel Cancer Center-Jefferson Health e especialista em oncologia geriátrica, citado na edição online do diário britânico The Guardian.

“Sabemos que o cancro é uma doença associada ao envelhecimento e há vários mecanismos biológicos que o explicam”, afirma Chapman. “O que muitas vezes é esquecido é que os objetivos, desejos, necessidades, preferências e problemas dos adultos mais velhos são muito diferentes dos do adulto médio”, sublinha.

A idade avançada é um fator de risco bem identificado pela comunidade médica, o que por momentos desencadeia uma atitude de desistência: “Às vezes há um niilismo – se você for mais velho não nos vamos incomodar – o que é horrível”, acrescentou.
Falência dos serviços médicos
Durante o encontro, somaram-se as vozes a alertar para a pressão sobre os já sobrecarregados serviços de saúde.

Os pacientes mais velhos com cancro têm necessidades únicas e os especialistas têm a responsabilidade de melhorar os serviços geriátricos para fornecer cuidados adequados. Os cientistas afirmam a escassez global de força de trabalho significa que o atendimento não está a melhorar.

“Até 2040, estima-se que a carga global cresça para 27,5 milhões de novos casos de cancro e 16,3 milhões de mortes, simplesmente devido ao crescimento e envelhecimento da população”, explica Julie Gralow, diretora médica e vice-presidente executiva da ASCO. E acrescenta que os sistemas de saúde “devem agir imediatamente para evitar serem sobrecarregados pelo dramático aumento de pacientes idosos” com doenças do foro oncológico.

"Haverá mais pessoas idosas com diagnóstico de cancro e, claro, vão requerem cuidados multidisciplinares", reiterou Charles Swanton, clínico-chefe da Cancer Research UK. “Este grupo geralmente tem patologias e outras doenças, como doenças cardiovasculares, problemas cardíacos ou respiratórios”, assinalou.

“A questão é: como é que o sistema de saúde vai lidar com isto? É uma grande preocupação quando se trata de planeamento da força de trabalho. Se estivermos a lidar com 30 por cento a mais de diagnósticos de cancro e esses diagnósticos forem mais complexos, precisaremos de pelo menos 30 por cento a mais de oncologistas, cirurgiões e patologistas para gerir aumento de número de casos”, argumenta Swanton.

Nos Estados Unidos, o National Cancer Institute projeta que, até 2040, quase três quartos das pessoas com cancro terão mais de 65 anos, o que corresponderá a 73 por cento desse grupo “prateado”.

No Reino Unido, o número de pessoas diagnosticadas com a doença aumentará em um terço até 2040, elevando o número de novos casos todos os anos de 384 mil para 506 mil pela primeira vez, de acordo com análise da Cancer Research UK.

“A menos que se aprenda mais sobre como a doença afeta pacientes de várias idades, a medicina falhará com o envelhecimento da população”, rematam os especialistas.
Tópicos
pub