Especialistas pedem educação e multas para prevenir mortes durante tufões em Macau e Hong Kong

Especialistas admitiram à Lusa que, além de educar mais a população, poderá também ser necessário impor multas para prevenir comportamentos perigosos durante a passagem de tufões, como o Ragasa, por Macau e Hong Kong.

Lusa /

Uma mulher e o filho de cinco anos continuam nos cuidados intensivos de um hospital de Hong Kong, depois de, na terça-feira, terem sido levados por ondas em Chai Wan, uma zona ribeirinha da cidade.

Segundo os bombeiros, a família decidiu ir ver o mar quando as autoridades já tinham recomendado à população que procurasse abrigo, devido à passagem do supertufão Ragasa, a mais poderosa tempestade registada no planeta em 2025.

"Quando acontece um desastre, como tufões ou `tsunamis`, se as pessoas forem alertadas, a hipótese de haver ferimentos é muito reduzida ou mínima", sublinhou Faith Chan Ka Shun.

"A não ser que estejamos a falar de pessoas loucas, que ainda vão fazer surf ou para a praia dar uma olhadela, aí estão a correr um risco", acrescentou o professor na Universidade de Nottingham Ningbo.

Yau Yung, professor da Universidade Lingnan, em Hong Kong, defendeu que é preciso "educar as pessoas para realmente terem consciência e lidar com estas climáticas extremas".

"Eu diria que, no momento atual, a formação da população não é suficiente, em Hong Kong e também em Macau", lamentou o especialista em planeamento urbano, que apontou o Japão como uma boa referência.

O Japão está situado no Anel de Fogo, uma das zonas sísmicas mais ativas do mundo, e sofre tremores com relativa frequência, pelo que as infraestruturas no país foram especialmente concebidas para resistirem nestas ocasiões.

Além disso, sublinhou Yau, as escolas públicas no Japão incluem, desde o ensino primário, educação sobre "a importância e como devem responder a este tipo de situações de emergência".

Além disso, defendeu o especialista em sustentabilidade, apostar na educação das crianças pode gerar "uma espécie de ciclo virtuoso", porque estas "podem, na verdade, ensinar os adultos".

Em Macau, foram partilhadas nas redes sociais vídeos de pessoas a apanhar, em ruas inundadas, peixes que tinham escapado de viveiros e aquários em lojas e restaurantes, numa altura em que ainda estava em vigor o alerta máximo de tufão.

"Claro que é possível rir da situação e dizer que, realmente, isso depende das pessoas, se querem morrer para poder ver as ondas a subir", admitiu Faith Chan, académico nascido em Hong Kong.

Mas o professor de ciências ambientais recordou que comportamentos perigosos durante a passagem de tufões podem também levar à morte de bombeiros ou agentes de polícia, caso seja necessário uma operação de salvamento.

Após a passagem do Ragasa, a polícia de Hong Kong deteve quatro pessoas por suspeitas de negligência infantil, por terem levado crianças para ver as ondas junto à costa, quando o sinal de alerta já tinha sido emitido.

Além disso, um homem de 54 anos foi multado por alegadamente nadar numa praia pública fechada quando o alerta máximo -- nível 10 -- estava em vigor, na quarta-feira.

Tanto em Macau como em Hong Kong, a escala de alerta de tempestades tropicais é formada pelos sinais 1, 3, 8, 9 e 10, com a emissão a depender da proximidade da tempestade e da intensidade do vento.

Na quinta-feira, o secretário para a Segurança de Hong Kong, Chris Tang Ping-keung, prometeu considerar a promulgação de uma nova lei, depois de dezenas de residentes terem ignorado os alertas.

Faith Chan admitiu que poderá ser necessário punir comportamentos perigosos e deu como exemplo a metrópole vizinha de Shenzhen, onde a polícia aplicou multas de dois mil yuan (240 euros) a quem não ficou em casa.

"Pode ser criticado, mas se o Governo [da China] continental não for rigoroso, algumas pessoas vão acabar por pagar pela ofensa com a própria vida", avisou Chan.

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