"Estado da América Negra". Relatório expõe as desigualdades entre comunidades nos EUA

A Liga Urbana Nacional divulgou esta terça-feira o seu relatório anual sobre o "estado da América Negra" que dá uma imagem pessimista da situação, ao expor as desigualdades económicas e sociais entre os norte-americanos brancos e afro-americanos. Para além das diferenças salariais e educacionais, o relatório destaca as crescentes ameaças ao direito de voto da comunidade negra.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Reuters

O relatório anual apresentado esta terça-feira calcula um índice de igualdade que revela as disparidades para os norte-americanos negros em relação aos norte-americanos brancos em oportunidades económicas, na educação, saúde, justiça e participação cívica.

Em termos económicos, o índice revela que o rendimento familiar médio dos afro-americanos é de 43.862 dólares, ou seja, 37% inferior ao rendimento dos norte-americanos brancos (69.823 dólares). Os afro-americanos são também menos propensos a terem de casa própria. Os dados dos censos mostram que casais negros têm duas vezes mais probabilidade de verem uma hipoteca ou um empréstimo negado pelos bancos.

“Na área da riqueza, não vimos quase nenhuma mudança desde os dias dos direitos cívicos”, disse o responsável pela Liga Urbana Nacional, Marc Morial, em entrevista à Associated Press (AP). “A disparidade de riqueza aumentou”, acrescentou.

Na área da saúde, o relatório concluiu que a esperança média de vida diminuiu ligeiramente neste último ano para os afro-americanos. Uma criança negra nascida hoje pode viver até aos 74,7 anos, o que representa menos quatro anos em comparação com uma criança branca. O relatório destaca ainda que uma mulher negra tem 59% mais probabilidades de morrer durante o trabalho de parto e 31% com cancro da mama. Por sua vez, os homens negros têm 52% mais probabilidade de morrer de cancro da próstata do que os norte-americanos brancos.

Na educação, as desigualdades também são evidentes. Apesar de o método de ensino ser semelhante para negros e brancos, as escolas que acolhem mais alunos pertencentes a minorias são mais propensas a terem professores inexperientes, com menos habilitações ou até mesmo não certificados. Para além disso, o relatório demonstra que uma pequena parcela destes alunos estão matriculados em disciplinas classificadas como STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), que são geralmente associadas a empregos com melhores salários.

No campo da justiça, o relatório observa, com base em estatísticas do Departamento de Justiça dos EUA, que um afro-americano tem duas vezes mais probabilidades de ser ameaçado ou alvo de uso de força durante confrontos policiais do que um norte-americano branco, e três vezes mais probabilidades de ser detido.

Ameaças ao direito de voto
Entre todas as desigualdades, o relatório, intitulado “Sob cerco: a conspiração para destruir a democracia”, destaca as crescentes ameaças ao direito de voto da comunidade negra.

Depois das controversas eleições de 2020, que foram ampla e infundadamente intituladas por Donald Trump e seus aliados de fraudulentas devido ao elevado número de votos por correspondência, vários Estados norte-americanos aprovaram leis para limitar o acesso das minorias às urnas.

O ano passado, 19 Estados norte-americanos aprovaram 34 leis que dificultam o voto dos afro-americanos, limitando a votação por correspondência, impondo requisitos de identificação do eleitor e reduzindo o número de urnas.


“A participação histórica dos eleitores [afro-americanos] nas eleições de 2020 desencadeou o início de um dos ataques partidários mais insidiosos aos direitos de voto da história norte-americana”, escrevem os autores do relatório.

"Se não temos o direito de votar em funcionários que partilham as preocupações da nossa comunidade, não temos voz", disse Morial à CNN. "Não temos voz e a democracia americana está comprometida. Lutaremos para proteger a democracia americana e o direito de voto", sublinhou.
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