Estado Islâmico diz que decapitou jornalista americano

As imagens foram postas a circular na Internet e mostram um homem, de joelhos, a dizer que os líderes americanos são assassinos. Depois é aparentemente executado, por decapitação. O grupo Estado Islâmico, que pôs a circular o vídeo sob o título "Uma mensagem para a América", afirma que o decapitado era James Foley, um jornalista americano desaparecido na Síria em novembro de 2012. A autenticidade do vídeo está a ser analisada e ainda não há confirmação oficial.

Graca Andrade Ramos, RTP /
Imagem do vídeo da aparente execuação do jornalista norte-americano James Foley às mãos de um alegado militante do grupo Estado Islâmico por vingança de ataque norte-americanos no Iraque contra as suas posições. DR

A mãe de Foley, Diane, reagiu no Facebook, orgulhosa do filho. "Ele deu a sua vida ao tentar denunciar ao mundo o sofrimento do povo sírio", escreveu.

A Casa Branca diz que, se o vídeo for autêntico, a América ficará "horrorizada".
Vingança e ameaças
Nas imagens veem-se dois homens, com uma paisagem desértica em fundo. Um está de joelhos, vestido de cor-de-laranja, junto ao outro vestido de negro e de pé. Este afirma, num inglês de sotaque britânico, que a execução de Foley é uma vingança dos ataques americanos dos últimos dias contra as forças do Estado Islâmico (EI).

Identificando-se como membro do EI, o militante exige a suspensão imediata dos ataques, ameaçando executar um segundo refém americano se o Presidente Barack Obama não suspender as operações militares no Iraque.

No vídeo, o homem de joelhos lê uma mensagem presumivelmente escrita pelos seus captores onde afirma que o seu verdadeiro assassino "é a América".

"Desejava ter mais tempo. Gostava de ter tido a esperança da liberdade para ver de novo a minha família", acrescenta. Depois é aparentemente executado.
Atração pelos conflitos
Foley é um fotojornalista que trabalha sobretudo no Médio Oriente, para a America's Global Post e outros media incluindo a Agência francesa AFP.

James Foley, jornalista norte-americano desaparecido em novembro de 2012 na Síria (foto EPA)

Numa entrevista à BBC em 2012, Foley explicou a sua paixão por cobrir conflitos.

"Sou atraído pelo drama do conflito e por tentar expor histórias ainda não contadas", afirmou, consciente dos perigos: "Há violência extrema, mas há uma vontade de perceber quem são realmente estas pessoas, E penso que é isso que é realmente inspirador".

James Foley e a jornalista também norte-americana Claire Gillis, chegam ao hotel Rixos após serem libertados pelo governo Líbio a 18 de maio de 2011. Haviam sido raptados no início de Abril de 2001 (Foto: Reuters)

Foley foi igualmente detido algum tempo na Líbia em 2011, antes de desaparecer na Síria em 2012.

A família publicou na internet uma página apelando à sua libertação, incluindo uma breve biografia do jornalista.

O mais velho de cinco irmãos, James, ou Jim, Foley nasceu em Rochester, New Hampshire. Tinha 40 anos quando desapareceu na Síria a 22 de novembro de 2012 quando trabalhava como freelancer para a Agência France Presse e a empresa de media de Boston Global Post.

O carro em que seguia foi parado por quatro militantes numa zona de combates disputada por grupos rebeldes sunitas e forças governamentais sírias. Nunca mais se soube nada dele.
Estratégia de terror
Não é a primeira vez que o EI, anteriormente EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) executa reféns, incluindo outras decapitações, fazendo vídeos que publica depois online.

Esta é contudo a primeira execução de um cidadão norte-americano desde o início da revolta síria em março de 2011.

A estratégia inclui-se no plano dos islamitas para tentar estabelecer um Califado em territórios atualmente pertencentes ao norte do Iraque, leste da Síria e leste do Líbano.

No vídeo da aparente execução de Foley publicado na internet pelo Estado Islâmico, só é mostrado o momento do início da decapitação seguindo-se depois imagens da cabeça separada sobre o corpo.

No final do vídeo, que se inicia com declarações de Barack Obama sobre a recente intervenção militar norte-americana no norte do Iraque, o militante que aparentemente executou Foley mostra um segundo homem que identifica como outro jornalista americano, Steven Stoloff e avisa que poderá ser o próximo refém a ser executado.

Stoloff foi raptado perto da fronteira síria-turca em agosto de 2013. Trabalhava como freelance para revistas norte-americanas.
Apelo de mãe
"Vimos um vídeo que será o assassínio do cidadão americano James Foley pelo ISIS (sigla americana para o EIIL)", disse a porta-voz no Conselho de Segurança Nacional Caitlin Hayden."A comunidade dos serviços de informação está a trabalhar o mais rapidamente possível para determinar a sua autenticidade. Se for genuíno, ficamos horrorizados pelo assassínio brutal de um jornalista americano inocente e expressamos as mais profundas condolências à sua família e amigos. Daremos mais informações quando estiverem disponíveis".

Barack Obama foi informado sobre o vídeo e aguarda confirmação da autenticidade.

A mãe de Foley apelou no Facebook aos militantes do EI para que libertem outros reféns que tenham detidos.

"Tal como Jim, eles são inocentes. Não têm qualquer controlo sobre a política norte-americana no Iraque, na Síria, ou em qualquer outra parte do mundo", escreveu Diane.

"Agradecemos ao Jim toda a alegria que nos deu. Ele era um filho, irmão, jornalista e pessoa exraordinária. por favor respeitem a nossa privacidade nos próximos dias enquanto fazemos o nosso luto e celebramos o Jim" lê-se ainda na sua mensagem.

A ofensiva do EIIL para criar o seu Califado já levou à deslocação de pelo menos 1.200 milhões de pessoas só no Iraque, a maioria perseguida por motivos religiosos e sob ameaça de execução.

Os membros do EIIL seguem o wahabismo, uma interpretação extremista do ramo sunita do Islão, desenvolvida nos últimos 250 anos.
PUB