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Estados Unidos retiram diplomatas de Cuba após ataques “sónicos”

por Andreia Martins - RTP
Alexandre Meneghini - Reuters

Washington decidiu chamar grande parte dos diplomatas destacados na ilha depois dos ataques acústicos ocorridos nos últimos meses, que provocaram vários problemas de saúde ao pessoal da Embaixada dos Estados Unidos em Cuba. O Departamento de Estado norte-americano sugere também aos cidadãos que evitem deslocações ao arquipélago na sequência destes ataques de origem desconhecida.

Um responsável citado pela Associated Press refere que o Departamento de Estado deu ordem de retirada a 60 por cento do pessoal da Embaixada norte-americana em Havana e vai congelar a emissão de vistos por tempo indeterminado. 

Prevê-se no entanto que a Embaixada continue aberta, uma vez que apenas as famílias do pessoal diplomático e os funcionários considerados não essenciais receberam ordem de retirada. O Departamento de Estado alega razões de “segurança” que justificam a decisão. 

“Até que o Governo de Cuba consiga assegurar a segurança dos nossos diplomatas, a nossa Embaixada ficará reduzida ao pessoal de emergência, de forma a minimizar o número de diplomatas em risco ou expostos a situações de perigo”, revelou o secretário de Estado, Rex Tillerson, numa declaração esta segunda-feira. 

Em causa estão os misteriosos ataques registados desde finais de 2016, cuja origem continua a ser desconhecida. Washington garante que pelo menos 21 funcionários da Embaixada norte-americana foram visados por um ataque acústico, mas um responsável citado pela CNN fala em pelo menos 50 ataques

Já em fevereiro, o Departamento de Estado concluía que os diplomatas norte-americanos eram o alvo de uma campanha de assédio contra os funcionários, e que seria necessário levar a questão até às autoridades em Havana. 

Com muitas questões ainda por esclarecer, sabe-se que vários diplomatas relataram incidentes em que sentiram problemas de saúde anómalos, desde perda de audição, tonturas, vómitos ou mesmo lesões cerebrais. Houve pelo menos um caso registado de perda permanente de audição. 

Em agosto, funcionários da embaixada ouvidos pela CNN relataram dezenas incidentes em que acordaram abruptamente durante a noite com indisposições com sons estranhos, semelhantes ao barulho de insetos e do embate de metais no chão. 

Segundo o relato de dois funcionários, foi impossível determinar de onde provinham os sons incómodos, mas que estes se circunscreviam aos respetivos quartos ou casas.

Ainda não foi possível identificar a causa concreta nem os autores destes ataques, sendo possível que origem dos problemas de saúde poderá ser o uso deliberado de armas “sónicas” que emitem frequências de som. Apesar de não serem audíveis, estes ruídos podem provocar graves danos físicos. No entanto, ainda nenhum dispositivo desta natureza foi encontrado junto aos locais dos incidentes.

Até ao anúncio da retirada de funcionários, vários responsáveis norte-americanos já tinham sido obrigados a regressar aos Estados Unidos devido a complicações de saúde. A variedade de sintomas que apresentaram aos médicos norte-americanos não permitiu chegar a conclusões claras sobre o que poderá ter estado na origem dos problemas. 

Os nomes dos diplomatas visados pelos ataques não foram revelados até ao momento. A CNN refere apenas que a Embaixada norte-americana e a residência do Embaixador permanecem até ao momento imunes aos ataques. Os casos relatados aconteceram todos em casas particulares ou hotéis. 
Embaixada em risco? 
Na terça-feira, o Ministério cubano dos Negócios Estrangeiros emitia um comunicado a esclarecer que o Ministério do Interior tinha aberto uma “investigação prioritária” aos acontecimentos logo no momento em que foram comunicados ao governo de Havana. O MNE de Cuba refere ainda que foram desde logo adotadas “medidas adicionais de forma a proteger os diplomatas norte-americanos e os seus familiares”.

No discurso perante a Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, na semana passada, o ministro cubano dos Negócios Estrangeiros, Bruno Rodríguez Parrilla, assegurou que o Governo “teve em conta os dados cedidos pelas autoridades norte-americanas e até agora não encontrou qualquer evidência sobre as causas ou a origem dos distúrbios referidos pelos diplomatas dos Estados Unidos e os seus familiares”. 

Segundo responsáveis norte-americanos, o Presidente Raúl Castro autorizou a entrada no país de equipas do FBI de forma a permitir que colaborassem com a investigação das autoridades cubanas, mas nem todos os políticos acreditam na inocência do regime.
 
No início de setembro, vários senadores republicanos, incluindo o antigo candidato presidencial Marco Rubio, exigiram ao secretário de Estado Rex Tillerson que declarasse todos os diplomatas cubanos com creditação nos Estados Unidos como persona non grata, bem como o encerramento imediato da Embaixada norte-americana em Havana. 

Marco Rubio foi igualmente um dos principais opositores à abertura da Embaixada norte-americana em Cuba, em dezembro de 2014, quando o antigo presidente Barack Obama anunciava o restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países ao fim de 54 anos de costas voltadas.

Após a eleição de Donald Trump, em novembro de 2016, muitos acreditaram que a política de aproximação a Cuba fosse descontinuada pelo novo inquilino na Casa Branca. Em junho último, o Presidente norte-americano anunciava a revisão do acordo entre os Estados Unidos e Cuba e anunciava o fim do processo de abertura ao arquipélago, que só seria retmado após a realização de eleições livres e a libertação dos presos políticos.

Rex Tillerson assegura no entanto que, para já, esta retirada de diplomatas acontece apenas por "motivos de segurança" e não afeta as relações entre Washington e Havana.  

Apesar das garantias de Tillerson, o regime cubano vê a retirada de diplomatas como uma crítica à forma como as autoridades cubanas estão a conduzir as investigações.

"Consideramos a decisão anunciada hoje pelo Governo norte-americano através do Departamento de Estado é precipitada e vai afetar as nossas relações bilaterais", reiterou Josefina Vidal, responsável pelos assuntos norte-americanos no Ministério cubano dos Negócios Estrangeiros, durante uma declaração transmitida pela televisão estatal.

A mesma responsável reafirmou a vontade de Cuba em continuar a cooperar com as autoridades norte-americanas nas investigações de forma a apurar o que esteve na origem destes ataques.

(com agências internacionais)
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