Estirpe brasileira fora de controlo. Canadá tornou-se o segundo local mais atingido

por Joana Raposo Santos - RTP
Até ao momento foram já registados 877 casos da P1 na Colômbia Britânica. Blair Gable - Reuters

A província canadiana da Colômbia Britânica tornou-se o local do mundo - à exceção do Brasil - mais atingido pela estirpe brasileira P1, que os especialistas dizem ser altamente contagiosa e mais fatal entre faixas etárias jovens. A propagação desta variante do novo coronavírus no Canadá terá começado na conhecida estância de esqui da cidade de Whistler, que está agora confinada. No Brasil o cenário é ainda mais desanimador, com especialistas a alertar para o risco de o país alcançar as cinco mil mortes diárias já este mês de abril.

O primeiro alerta sobre a estirpe brasileira no Canadá deu-se na cidade de Whistler, eleita por muitos como destino para praticar desportos de neve, quando no último mês de março lá foi detetada a variante, altamente contagiosa.

Espalhou-se rapidamente pela comunidade local e acabou por chegar a outras cidades canadianas, levando a números recorde de novos casos. Agora, a Colômbia Britânica – uma das dez províncias do Canadá – é o lugar do mundo onde mais casos da estirpe brasileira foram detetados fora do Brasil.

Até ao momento já se registaram 877 casos da P1 na Colômbia Britânica e os especialistas garantem que cerca de um quarto desse número está ligado ao surto que começou na cidade de Whistler.

A P1 é, segundo epidemiologistas, uma mutação altamente infeciosa do SARS-CoV-2 e aparenta ser mais fatal entre pessoas mais jovens. Está também provado que consegue reinfectar pessoas que já foram dadas como recuperadas.

Quando chegou à estância de esqui de Whistler, causou espanto entre especialistas. Continua a ser um mistério a forma como lá apareceu, uma vez que nenhuma das 84 pessoas inicialmente infetadas nesse local tinha viajado para fora do Canadá.

As autoridades de saúde canadianas têm tentado conter a propagação do vírus em Whistler, nomeadamente através da vacinação dos funcionários do resort, mas nem assim estão a ter sucesso. Os casos continuam a aumentar e pelo menos dois dos trabalhadores inoculados já foram reinfectados.

É também esta a estirpe apontada como a culpada pelo surto na equipa profissional de hóquei de Vancouver, os Canucks, que já infetou 21 dos jogadores.
Colômbia Britânica vai deixar de distinguir estirpes
Para o epidemiologista canadiano Jean-Paul Soucy, tudo podia ter sido impedido caso tivessem sido adotadas medidas de contenção mais eficazes desde o início. “O facto de nos termos atrasado a implementar medidas melhoradas de quarentena na fronteira não terá ajudado”, defendeu em declarações ao Guardian.

“Se essas medidas tivessem sido tomadas meses mais cedo, talvez [a propagação da estirpe] tivesse sido abrandada ou mesmo evitada”, acrescentou.

Esta semana, depois de se terem alcançado quase 900 casos da estirpe brasileira na Colômbia Britânica, as autoridades de saúde locais anunciaram que iriam deixar de identificar, nas pessoas contagiadas, qual a variante que provocou a infeção.

“Vamos simplesmente assumir que todos os casos positivos serão variantes. Que cada pessoa que testa positivo precisa de ser tratada como se tivesse contraído um desses vírus altamente transmissíveis”, explicou aos jornalistas Bonnie Henry, responsável de saúde pública da província canadiana.

A decisão está a ser criticada por muitos especialistas, segundo os quais a identificação das estirpes nos infetados permite um conhecimento crucial do modo como essas estirpes estão a espalhar-se.
Brasil pode chegar às 5000 mortes diárias já este mês
No Brasil, a variante P1 já levou ao colapso quase total do sistema de saúde do país e os peritos receiam que as casas funerárias sejam as próximas a não ter mãos a medir. Desde o início deste ano, uma segunda vaga incontrolável da Covid-19 fez o país ultrapassar a marca das 300 mil vítimas mortais.

Na quinta-feira foi batido um novo recorde no Brasil, com 4247 mortes devido ao novo coronavírus num só dia.

Os especialistas acreditam que o Brasil pode atingir as cinco mil mortes diárias já neste mês de abril, em grande parte devido à variante P1. “Estamos muito preocupados. O número de mortes crescente no Brasil em apenas alguns meses é a nossa maior preocupação”, confessou à Al Jazeera o virologista Humberto Debat. Os países vizinhos do Brasil têm vindo a encerrar as suas fronteiras numa desesperada tentativa de impedir que a estirpe P1 chegue aos seus territórios.

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, tem sido apontado como o principal culpado pelo estado a que o país chegou, uma vez que desde o início tem desvalorizado a gravidade da pandemia.

Ainda esta semana, o chefe de Estado disse aos brasileiros que “não vale a pena chorar sobre leite derramado”, referindo-se ao número elevado de mortes provocadas pela Covid-19 no país.
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