Estudo. Atividade humana está a impulsionar fenómenos de precipitação extrema

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Navesh Chitrakar - Reuters

Um estudo publicado na terça-feira na revista "Nature Communications" concluiu que o aquecimento global impulsionado pela atividade humana tem influência na pluviosidade, sendo um dos principais responsáveis pelo aumento de ocorrências de precipitação extrema, como inundações.

Variações naturais do clima, provocadas por fenómenos como El Niño, são um dos fatores que influenciam a pluviosidade. No entanto, cada vez mais estudos têm também vindo a apontar a atividade humana como um dos fatores chave para o aumento de eventos extremos de precipitação em todo o mundo, como inundações e deslizamento de terras.

O mais recente estudo sobre este tema, publicado na terça-feira na revista Nature Communications, observou os registos climáticos globais para estudar como a influência antropogénica no clima afetou a precipitação extrema.

Ao examinarem vários dados de pluviosidade, os investigadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) foram capazes de estabelecer uma ligação entre o aquecimento antropogénico do clima, provocado pela emissão de gases de efeitos de estufa e pela exploração de terras, e a maior frequência e gravidade de eventos extremos de precipitação, que podem ter impactos devastadores na sociedade, como inundações, erosão do solo e danos agrícolas.

Tal como é explicado no estudo, o aquecimento global motivado pela atividade humana intensifica o ciclo hidrológico da Terra. Ao provocar o aquecimento da temperatura terrestre, a humidade atmosférica aumenta, o que resulta, por sua vez, em precipitação extrema.

“O mecanismo dominante [que leva à precipitação extrema] para a maioria das regiões do mundo é que o ar mais quente pode reter mais vapor de água”, explica Gavin Madakumbura, principal investigador do estudo, citado por The Guardian. “Isso alimenta tempestades”, acrescenta.

O estudo sublinha que as projeções futuras de modelos climáticos, que seguem cenários de alterações climáticas, “mostram um aumento robusto na precipitação extrema, a nível global e à escala regional”, sendo que estas mudanças na precipitação extrema podem já se ter tornado evidentes em várias regiões. Este aumento dos períodos de chuva intensa constitui uma grande ameaça para a sociedade e para o meio ambiente, podendo provocar inundações de grande escala.
Aumento de ocorrências climáticas extremas
O estudo projeta ainda um aumento de ocorrências climáticas extremas provocados pelo aquecimento global. Para além do aumento de episódios de precipitação extrema, o oposto também é expectável, com um aumento da seca extrema, o que pode provocar igualmente impactos devastadores na sociedade.

Estas ocorrências extremas são já bem visíveis no planeta. No último ano o mundo assistiu às inundações na Austrália, que desalojaram 18 mil pessoas, e na Indonésia, que provocaram perto de uma centena de mortes. Ao mesmo tempo, os EUA e o Canadá estão a ser alvo de uma onda de calor extremo, tendo sido atingidas temperaturas históricas de quase 50 graus Celsius. O Estado norte-americano da Califórnia enfrenta mesmo a maior seca desde 1977.

Já estamos a observar um aquecimento de 1,2 graus Celsius em comparação aos níveis pré-industriais. Se o aquecimento continuar a aumentar, teremos episódios mais intensos de precipitação extrema, mas também de seca extrema”, explicou Sihan Li, investigador da Universidade de Oxford, que não participou no estudo.

Para Madakumbura, “é vital identificar as alterações [nos padrões de precipitação] causados pela ação humana, em comparação com as alterações provocadas pela variabilidade natural do clima”. Isso irá permitir-nos “gerir os recursos hídricos e planear medidas de adaptação às mudanças impulsionadas pelas alterações climáticas”.
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