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Estudo. Poluição dos plásticos pode superar gases com efeito de estufa até 2030

por RTP
Reuters

A produção intensiva de carbono nos plásticos está prestes a superar, ainda nesta década, as emissões poluentes dos gases de efeito de estufa das centrais elétricas movidas a carvão. A conclusão é de um relatório do projeto Beyond Plastics do Bennington College que indica que as emissões do setor dos plásticos nos Estados Unidos igualaram as de 116 centrais elétricas movidas a carvão só no ano passado.

Com dezenas de novas instalações de produção e reciclagem de plásticos planeadas, a indústria dos plásticos nos Estados Unidos vai emitar mais gases de efeito de estufa do que as centrais movidas a carvão até 2030, afirmam os autores do estudo divulgado na quinta-feira.

"À medida que as empresas de combustíveis fósseis tentam recuperar os lucros em queda, estão a aumentar a produção de plásticos e a suspender as medidas de redução dos gases de efeito de estufa", refere o documento.

As emissões do setor dos plásticos igualaram as de 116 centrais elétricas no ano passado, ou seja cerca de 232 milhões de toneladas de gases de efeito de estufa por ano, de acordo com o relatório do projeto Beyond Plastics do Bennington College. Paralelamente, 42 instalações de produção e de reciclagem de plásticos foram inauguradas, ou estão em processo de construção ou autorização, desde 2019.

"A indústria dos combustíveis fósseis está a perder dinheiro com os mercados tradicionais da produção de energia e os transportes. Estão a contruir novas instalações de plástico a um ritmo surpreendente para poderem usar os seus produtos petroquímicos nos plásticos. Esta construção petroquímica está a anular os esforços globais para desacelerar as alterações climáticas", escreveu no relatório a autora Judith Enck, ex-administradora regional da Agência de Proteção Ambiental (EPA) e presidente da Beyond Plastics.

"O plástico é o novo carvão e é uma grande preocupação a nível ambiental", continuou. "Os impactos das emissões na saúde são desproporcionalmente suportados por comunidades mais pobres e comunidades de cor".

Noventa por cento da poluição referente à indústria dos plásticos ocorre em apenas 18 regiões norte-americanas, onde os residentes ganham 28 por cento menos do que a média das famílias nos EUA e têm 67 por cento mais probabilidade de pertencerem a comunidades minoritárias.

"Além de acelerar as alterações climáticas, o plástico polui a água, o ar, o solo, a vida selvagem e a saúde pública", é reportado no documento. "A indústria de plásticos dos EUA reportou a emissão de 114 milhões de toneladas de gases de efeito estufa em todo o país em 2020".

Contudo, esta indústria reporta menos de metade do que os valores reais das suas emissões, segundo a investigação.

"Além dos 114 milhões de toneladas de gases de efeito estufa (...), foram identificadas mais 118 milhões de toneladas de emissões de gases de efeito de estufa, o equivalente a mais dióxido de carbono do que 59 centrais termoelétricas a carvão de tamanho médio".
Custos climáticos

O relatório identificou dez diferentes níveis em que a produção de plásticos emite os gases de efeitos de estufa mais significativos. Estima-se, portanto, que no fraturamento hidráulico sejam emitidas 45 milhões de toneladas de metano anualmente nos EUA, até 2025. Já o transporte e o processamento de gases fraturados emitem cerca de 4,8 milhões de toneladas de metano por ano.

As instalações de processamento de gás etano petroquímico emitem, pelo menos, 70 milhões de toneladas de gases de efeito de estufa por ano. E a produção de outras matérias-primas plásticas é responsável pela emissão de 28 milhões de toneladas por ano.

Há ainda as exportações e as importações de matérias-primas e de produtos plásticos que emitem, pelo menos, 51 milhões de toneladas de gases de efeito de estufa por ano, o equivalente a mais de 25 centrais termeoelétricas a carvão.

"Nos locais de hidro-fraturamento, é emitido etano para a atmosfera. A melhor maneira de evitar isso seria fechar e vedar adequadamente o hidro-fraturamento. Em vez disso, a indústria petroquímica encontrou uma maneira de usar o etano como um matéria-prima para plásticos", disse Enck numa conferência de imprensa, citada pelo Guardian.

"As empresas do setor captam o etano, constroem novos ductos, enviam o gás para as instalações do processamento de etano, que é aquecido a temperaturas muito altas e fraturado, e aí torna-se o principal componente do plástico descartável. Isto requer o uso de uma quantidade enorme de energia, só para produzir mais embalagens de plástico descartáveis", explicou ela.

Mas as empresas não relatam os valores reais e totais das suas emissões porque as autoridades norte-americanas não o exigem.

"As agências federais ainda não contabilizam muitas emissões porque os regulamentos atuais não exigem que a indústria os relate. Por exemplo, nenhuma agência rastreia a quantidade de gás de efeito estufa que é emitido quando o lixo de plástico é queimado em fornos de cimento, nem quando o metano é extraído no processamento de gás, nem quando o gás é exportado do Texas para fazer plásticos de uso único na Índia", acrescentou o co-autor do relatório Jim Vallette, presidente da Material Research.

"A escala das emissões de gases de efeito de estufa da indústria dos plásticos é impressionante, mas é igualmente preocupante que poucas pessoas no Governo ou na comunidade empresarial abordem o assunto. Isto tem de mudar rapidamente se esperamos limitar o aumento da temperatura global", referem ainda os autores.

No relatório os especialistas deixaram um alerta: "Não há plano B. Estamos numa crise climática".
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