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EUA: Após 63 anos, caso de assassinato de jovem negro é reaberto

por RTP
Fotografia de Emmett Till com a mãe, numa exposição em Geórgia Tami Chappell - Reuters

A investigação do assassinato de Emmett Till, um rapaz afro-americano de 14 anos que foi raptado e assassinado em 1955, no Mississipi, foi reaberto pelo Departamento de Justiça dos EUA.

Foi há cerca de 60 anos que o rapaz de 14 anos foi assassinado, supostamente depois de ter assobiado a uma mulher branca, Carolyn Bryant. Apesar de testemunhos e de uma confissão, os assassinos nunca foram condenados.
Emmet Till morava em Chicago, num bairro de classe trabalhadora
A recente confissão da esposa de um dos assassinos, que mentiu ao juiz na altura, veio reabrir o caso. Em 2004 o caso foi reaberto, mas fechou três anos depois devido à falta de algumas provas.

Segundo o jornal El País, a Associated Press divulgou na quinta-feira, documentos encontrados num relatório do Departamento da Justiça emitido em Março deste ano, que o Governo irá reabrir o caso de Till por ter novas provas sobre a morte.

O escritor Timothy Tyson tinha declarações de Carolyn Bryant, que em 2008 numa entrevista disse que não era verdadeira a versão que tinha contado ao juiz. Embora o seu depoimento não tenha sido utilizado para o caso, Bryant alegou na altura que o adolescente lhe tocou.

Em 1955, o rapaz viajou até ao Mississípi para visitar familiares, a mãe alertou-o para o racismo que havia naquela altura. No dia 24 de agosto, Till foi com os primos a uma loja local comprar pastilhas, e na brincadeira disse que tinha uma namorada branca. Os rapazes incentivaram-no a falar com Carolyn Bryant, que estava a trabalhar na loja. Segundo a revista norte-americana Time, não se sabe ao certo se Till quando se foi embora disse algo a Carolyn ou assobiou.

Quatro dias depois, Roy Bryant, marido de Carolyn foi até casa dos familiares de Till com o meio-irmão JW Milam, entraram em casa do tio e levaram-no. O rapaz foi levado até um rio, onde foi obrigado a despir-se, e depois foi amarrado com fio de algodão a um ventilador que os assassinos tinham no camião. Os dois homens bateram-lhe com tanta violência que o jovem ficou irreconhecível e sem um olho. No final, o corpo foi atirado ao rio.

O cadáver foi encontrado três dias depois por miúdos que estava a pescar. Mamie Till, mãe de Till, pediu para o corpo ser enviado para Chicago. O caixão foi aberto para “deixar as pessoas verem o que eu vi”, disse. Foram publicadas várias fotografias do jovem numa revista afro-americana.
O assassinato incentivou à criação do movimento pelos direitos civis, para acabar com a segregação dos afro-americanos.
Anos mais tarde, numa entrevista feita pela revista Look, os dois homens admitiram o crime mas nunca foram julgados. “Bem, o que podemos fazer? Ele era um caso perdido (…) Eu não sou valente, eu nunca magoei um negro na minha vida. Eu gosto de negros, mas no seu lugar (…) Mas estava na altura de as pessoas saberem. Enquanto eu for vivo e conseguir fazer alguma coisa, os negros vão ficar no lugar deles”, disse J.W. Milam na entrevista.

Atualmente, Carolyn Donham Bryant tem 83 anos e é a única testemunha viva.
Julgamento e testemunhos
O julgamento foi feito no final de setembro. Apesar do testemunho de Wright, primo mais novo de Till, que disse aos juízes que Bryant e Milam tinham entrado em casa e sequestrado o rapaz, e de Willie Reed, outra testemunha, um negro de 18 anos, que viu na manhã seguinte ao sequestro, Till num camião com quatro homens ao pé da casa de Milam, o júri de juízes decidiu absolver os homens depois de 67 minutos de deliberação.
Reabertura do caso
O projeto Cold Case Justice Initiative, na Universidade de Syracuse, em Nova Iorque, investiga assassinatos originados por motivos raciais que ocorreram durante a era do Direitos Civis. O projeto é realizado por estudantes de direito que fazem pesquisas, identificam as vítimas e encontram novas informações para a resolução dos casos. John Lewis, líder do movimento dos direitos civis e político americano, apresentou o caso que ficou fechado em 2007.
Casos relacionados com direitos civis anteriores a 1970 vão ser reabertos.
“Apresentei o (Emmett Till Act) porque existem centenas, talvez milhares, de casos frios da era dos direitos civis que nunca foram resolvidos”, disse o deputado à TIME. "Precisamos de fazer tudo o que pudermos, mesmo 40 ou 50 anos depois, para responder a essas tragédias”, acrescentou.

Segundo a Time, há especulações de que o caso foi reaberto devido às informações divulgadas no livro The Blood of Emmett Till, de Timothy Tyson, onde Carolyn Bryant, mulher de Till contrariou o seu testemunho. “Nada do que o miúdo fez justifica o que lhe aconteceu”, disse Carolyn.
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