EUA avisam líderes de gangues que "a era da impunidade" acabou no Haiti

Os Estados Unidos avisaram hoje que a "era da impunidade acabou" para os líderes de gangues que promovem a violência e minam a estabilidade e a governação do Haiti, garantindo que "permanecerão implacáveis" na perseguição ao terrorismo.

Lusa /

Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação no Haiti, o embaixador norte-americano junto das Nações Unidas, Mike Waltz, expressou confiança de que a nova Força de Supressão de Gangues - aprovada no mês passado na ONU - dará uma resposta imediata à insegurança do Haiti, mas defendeu que a recuperação a longo prazo do país dependerá do povo haitiano.

"A era da impunidade acabou para estes líderes de gangues que promovem a violência e minam a estabilidade e a governação do país. A estabilidade e a segurança são o oxigénio que qualquer tipo de investimento, economia ou governação necessita para avançar", afirmou o diplomata norte-americano.

Os Estados Unidos "permanecerão implacáveis" na perseguição daqueles que minam a segurança haitiana e armam e financiam estes gangues terroristas, acrescentou.

"Iremos alargar a utilização de todas as ferramentas disponíveis, utilizando todos os meios necessários, incluindo acusações, detenções, sanções financeiras, apreensões de armas, vistos e outras restrições à imigração, para combater a impunidade que rouba o futuro às crianças haitianas", alertou Waltz.

No final de setembro, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a transformação da Missão de Apoio Multinacional à Segurança no Haiti numa "Força de Supressão de Gangues" por um período inicial de 12 meses. 

A Força já realizou as suas primeiras ações no terreno e enfrentou uma "resistência feroz" por parte dos gangues armados, informou na segunda-feira a própria entidade.

Os EUA indicaram que estão a trabalhar em estreita colaboração com outros Estados-membros para uma rápida expansão da Força de Supressão de Gangues. 

O embaixador norte-americano defendeu ainda que a classe política e o setor privado no Haiti "façam também a sua parte" em apoio a um Governo democraticamente eleito.

Já o diplomata francês defendeu hoje a inclusão de novos nomes na lista de sanções do Haiti, incluindo atores políticos e económicos que financiem gangues.

Na reunião de hoje, o novo representante da ONU no Haiti, Carlos Ruiz-Massieu, explicou que os gangues armados permanecem no controlo da capital, Porto Príncipe, e continuam a expandir-se para o departamento de Artibonite e, mais recentemente, para o departamento do Noroeste, espalhando o terror entre a população haitiana.

Entre julho e agosto, os gangues passaram a atacar com mais frequência comunidades agrícolas nos arredores de Porto Príncipe e noutras zonas do país.

Nesse sentido, a escala e o impacto da deslocação interna no Haiti são sem precedentes, com mais de 1,4 milhões de pessoas deslocadas, assinalou o enviado da ONU.

Também a situação dos direitos humanos no país é profundamente preocupante e a violência sexual continua a ser sistematicamente utilizada pelos gangues para dominar e aterrorizar mulheres e raparigas.

Já o processo político no país entrou na fase final do processo de transição, que prevê a transferência de poder para as autoridades eleitas até 07 de fevereiro de 2026.

"O tempo da transição está a passar. Preocupa-me que ainda não tenha sido traçado um caminho estável para a restauração da governação democrática", alertou o enviado da ONU.

Ainda na reunião de hoje, o representante do Haiti indicou que gostaria que o mandato da ONU no país incluísse uma forte componente destinada a apoiar a elaboração, desenvolvimento e implementação de um programa de redução de conflitos e violência para os membros dos gangues que deponham voluntariamente as armas, assim como para a reintegração de crianças e adolescentes vítimas de terrorismo.

O Haiti há muito que sofre com a violência de grupos criminosos organizados que cometem homicídios, violações, pilhagens e raptos, num contexto de instabilidade política crónica.

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