EUA e China disputam influências no continente africano
A crescente presença da China em África gerou uma disputa de influências entre o gigante asiático e os Estados Unidos da América que poderá atingir a rivalidade entre Moscovo e Washington durante a "guerra fria", dizem analistas norte- americanos.
O aumento da influência chinesa em África foi alvo de recentes discussões entre entidades chinesas e norte-americanas, durante a recente visita do Presidente Hu Jintao a Washington.
No final do ano passado a Secretária de Estado adjunta para África, Jendayi Frazier, visitou Pequim com o objectivo específico de discutir o aumento do interesse da China por África.
Frazier disse posteriormente que "o interesse ou envolvimento da China em África não está a ser feito em competição directa com os Estados Unidos", acrescentando existirem muitas áreas (em África) em que os dois países podem cooperar.
Mas se é verdade que, em muitos círculos de Washington, a presença da China em África ainda não é considerada uma ameaça directa aos interesses estratégicos dos Estados Unidos, todos concordam que o envolvimento chinês no continente africano vai continuar a aumentar, pelo que os Estados Unidos têm que intensificar os seus contactos e implantação nos países africanos.
Alguns analistas e mesmo entidades governamentais norte- americanas queixam-se abertamente de que a China usa meios económicos "desleais" para intensificar a sua presença no continente africano, ignorando também propositadamente as violações de direitos humanos de alguns regimes condenados pelo ocidente para cimentar a sua presença em África. O Sudão e o Zimbabué são casos mencionados.
A galopante economia chinesa requer acesso a matérias-primas, principalmente petróleo, e as autoridades chineses tem oferecido pacotes de ajuda em termos favoráveis, fazendo uso de companhias estatais para oferecer contratos, numa área em que companhias privadas não podem concorrer.
Segundo uma fonte oficial norte-americana, o objectivo da China é ganhar presença e apoio e não lucros imediatos e, por isso, as suas companhias têm ordens para apresentar propostas a custos muito baixos.
Noutros casos, a China oferece empréstimos recusados por instituições internacionais, como em Angola, a troco da garantia de contratos para companhias chinesas.
Os dois mil milhões de dólares emprestados a Angola têm como condição que 70 por cento dos contratos de reconstrução sejam dados a companhias chinesas.
Princeton Lyman, especialista em questões africanas no influente Conselho de Relações Externas, afirma que a China "investe também em áreas há muito negligenciadas pelas agências de ajuda ocidentais e investidores privados, nomeadamente infra-estruturas, indústria e agricultura".
Estima-se que no ano passado o comércio entre a China e o continente africano tenha atingido os 37 mil milhões de dólares, acima do previsto e muito perto do nível de comércio entre os Estados Unidos e o continente africano que foi o ano passado de 44,5 mil milhões de dólares.
O comércio sino-africano cresceu 700 por cento nos anos de 1990 e a formação do Fórum China-África, em 2000, abriu uma nova era.
Entre 2002 e 2003, o comércio entre a China e África duplicou para 18,5 mil milhões de dólares, duplicando novamente entre 2004 e o final de 2005.
Lyman considera que o aumento da presença chinesa em África não significa que "os interesses americanos estejam seriamente ameaçados".
Mas, disse o especialista, "há novos parâmetros estratégicos a operar no continente e isso exige novos meios de actuação".
O Conselho de Relações Externas elaborou recentemente um relatório sobre a presença chinesa em África em que afirma que os Estados Unidos têm que adoptar uma política "mais abrangente e global" no continente africano.
O conservador centro de estudos Heritage Foundation também divulgou um relatório sobre a presença chinesa em África, aconselhando o Governo norte-americano a desenvolver uma "estratégia coordenada e global", aumentado a sua presença diplomática e as relações comerciais e económicas com os países africanos.
"A China está activamente a expandir a sua influência em África para assegurar os fornecimentos de recursos naturais, contrabalançar a influência política e económica ocidental, aumentando, ao mesmo tempo, a influencia global da China", disse a Heritage Foundation, que acusou o país de "apoiar a repressão política e económica em África", para contrabalançar as influências liberalizantes dos parceiros tradicionais norte-americanos e europeus.
Para Princeton Lyman, no entanto, tendo em conta a aspiração chinesa de ser reconhecida como uma potência mundial, os Estados Unidos deveriam procurar áreas de cooperação com Pequim no continente africano, em vez de "tentar limitar a influência chinesa", porque isso é difícil de concretizar.