EUA. Hospitais com mais recursos obtiveram grandes ajudas durante a pandemia

De acordo com o jornal The New York Times, pelo menos 20 grandes redes de hospitais receberam mais de cinco mil milhões de dólares em subsídios federais que tinham o intuito de ajudar os hospitais mais fragilizados no contexto da pandemia do novo coronavírus.

RTP /
Mark Makela - Reuters

A quantia faz parte dos 72 mil milhões de dólares que o Departamento de Saúde distribuiu a hospitais e outros prestadores de serviços de saúde no âmbito do programa CARES, lei aprovada pelo Congresso em março último para estimular e fortalecer as empresas perante as consequências económicas da pandemia.

No entanto, algumas destas doações foram parar às mãos de instituições abastadas que já tinham enormes reservas monetárias para enfrentarem potenciais crises. O jornal norte-americano dá o exemplo da Providence Health System, que gera cerca de mil milhões de euros em lucro todos os anos,

No contexto da pandemia do novo coronavírus, a cadeia de hospitais recebeu pelo menos 509 milhões de fundos governamentais. Este foi um dos muitos beneficiários com grandes posses a aproveitar o programa federal que tinha como objetivo garantir a estabilidade e a segurança dos prestadores de serviços de saúde com a presente situação.

O NYT refere também o caso da Cleveland Clinic, que no ano passado apresentou lucros na ordem dos sete mil milhões de dólares, e que recebeu 199 milhões de dólares com este programa de ajuda.  

Estas redes hospitalares argumentam que o dinheiro da ajuda estatal foi necessária para ajudar a compensar “pesadas perdas” com a pandemia, até porque a crise gerada pela Covid-19 levou à limitação de cirurgias eletivas, ou seja, sem caráter de emergência, e outros serviços não essenciais.

Por exemplo, o Providence Health System explica que a ajuda federal impediu despedimentos e evitou cortes nos salários dos seus funcionários, tendo também ajudado a manter a estabilidade dos serviços. “A pandemia ainda não acabou. Precisamos de estar financeiramente estáveis para uma possível segunda onda”, disse Melissa Tizon, porta-voz de uma rede hospitalar que tem mais de 12 milhões de dólares de reservas financeiras.

No entanto, a polémica deve-se à discrepância entre os valores entregues a hospitais com maior poder financeiro e a quantia reduzida que foi entregue a hospitais mais pequenos ou depauperados no âmbito deste programa de ajuda, num país em que não existe acesso universal a cuidados de saúde.

De acordo com o jornal, um estudo da Kaiser Family Foundation indicava que os hospitais com clientes mais abastados e com seguros privados receberam duas vezes mais ajuda do que os hospitais e redes hospitalares que abrangem sobretudo utentes mais pobres, sem seguro, ou com o programa de saúde social Medicaid, para pessoas com menores recursos.  

Dois membros da Câmara dos Representantes, Frank Pallone Jr. E Richard E. Neal, eleitos pelo Partido Democrático, escreveram este mês uma missiva ao Departamento de Saúde onde questionam a forma como a Administração Trump está a distribuir a ajuda financeira aos hospitais.

O nível de financiamento parece estar completamente desfasado em relação às necessidades”, consideraram os dois democratas.

Mesmo antes da pandemia, cerca de 400 hospitais em zonas rurais dos Estados Unidos já estavam em risco de encerrar, de acordo com Alan Morgan, diretor da National Rural Hospital Association.

Em média, os 2.000 hospitais em zonas rurais tinham apenas a quantia suficiente para manter as portas abertas por mais 30 dias.
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