EUA. McDonald`s acusada de espiar funcionários em luta por melhores condições

por Joana Raposo Santos - RTP
Em sua defesa, a gigante da restauração diz que o objetivo é identificar protestos que "possam colocar em risco a segurança de funcionários e clientes". Mike Blake - Reuters

A McDonald's tem alegadamente espiado funcionários e ativistas envolvidos em lutas pela criação de um sindicato e por melhores condições de trabalho, incluindo os que participam no movimento "Luta por 15$", que defende o aumento do salário mínimo nos Estados Unidos para 15 dólares por hora. A denúncia foi feita pelo site de notícias norte-americano Vice, que diz ter tido acesso a documentos internos da empresa.

Segundo o Vice, a McDonald’s tem reunido “informações estratégicas” sobre os trabalhadores e ativistas envolvidos em esforços por melhores condições, salários mais elevados e pela criação de um sindicato.

Para isso, a empresa tem utilizado software de recolha de dados e ferramentas de monitorização de redes sociais, tendo ainda juntado “uma equipa de analistas de dados de inteligência nos escritórios em Chicago e Londres”.

Segundo fontes ouvidas pelo Vice, esses analistas controlam ativistas que estejam envolvidos no movimento “Luta por 15$”, identificam quais deles trabalham para a McDonald’s e descobrem com quem estão a combinar a organização de greves, protestos ou tentativas de formar sindicatos.

Em sua defesa, a gigante da restauração diz que o objetivo é identificar protestos que “possam colocar em risco a segurança de funcionários e clientes”.

Até agora, nenhum empregado da McDonald’s pertence a sindicatos, mas muitos deles estão envolvidos no movimento que quer elevar para 15 dólares/hora o salário mínimo. Esse movimento tem organizado greves e protestos de trabalhadores de empresas de fast food desde 2012 e está filiado num dos maiores sindicatos dos Estados Unidos. A McDonald’s tem-se recusado a negociar com os funcionários pois, segundo diz, estes não são funcionários seus, mas sim dos franchises para os quais trabalham.

Um dos documentos a que o Vice teve acesso apresenta detalhes assustadoramente pormenorizados sobre as atividades dos trabalhadores, incluindo o número de protestos físicos e virtuais organizados pelos mesmos.

“Manifestantes juntaram-se em parques de estacionamento, colocaram cartazes nos seus carros enquanto passavam pelos restaurantes [da McDonald’s], bloquearam o trânsito e estacionaram carrinhas com mensagens sobre o ‘Luta por 15$’ no seu exterior à porta da sede [da empresa] e de restaurantes”, detalha o relatório dos analistas.
McDonald’s segue passos da Amazon
A denúncia chega anos depois de a Amazon ter sido acusada de utilizar uma estratégia semelhante para impedir a formação de um sindicato de trabalhadores. O Vice garante que a Amazon também usou analistas para monitorizar e reportar “ameaças de trabalho organizado”, espiou funcionários em redes sociais e, recentemente, alterou as luzes dos semáforos à saída dos armazéns da empresa numa cidade do Alabama para impedir que os trabalhadores comunicassem durante as trocas de turno.

O site de notícias sublinha que a vigilância em si não é novidade, mas que o uso de tecnologia para ajudar ao controlo dos funcionários é algo novo e que pode mesmo violar a lei federal em torno do trabalho.

Não existem, até ao momento, provas que sugiram o envolvimento do Governo norte-americano na vigilância de trabalhadores pela Amazon ou pela McDonald’s. No entanto, as últimas administrações da Casa Branca estão a ser criticadas por não condenarem estas violações laborais, assim como não têm condenado o enorme contraste entre a riqueza das grandes empresas e os baixos vencimentos dos trabalhadores.

No domingo, Joe Biden quebrou o silêncio quanto a este tema ao declarar o seu apoio aos sindicatos. Apesar de não mencionar diretamente a Amazon, o presidente dos Estados Unidos dirigiu-se aos “trabalhadores do Alabama”.


“Não se deve esquecer que a Lei Nacional das Relações Laborais não diz apenas que os sindicatos podem existir; diz que devemos encorajar a sua existência”, declarou Biden. “Não deve haver intimidação, coerção, ameaças ou propaganda anti-sindicatos. Todos os trabalhadores devem ter a escolha livre e justa de se juntarem a um sindicato. A lei garante essa escolha”, frisou.

Antes de ser eleito, Joe Biden tinha mesmo estabelecido o objetivo de passar para 15 dólares por hora o salário mínimo nacional. Mais tarde, porém, mudou de tom ao dizer que a crise de Covid-19 poderia não permitir tal mudança.
Tópicos
pub