EUA. Miliciano de extrema-direita detido pelo assassínio de dois manifestantes

por RTP
Esquadra de Antioch, onde Kyle Rittenhouse foi detido Stephen Maturen, Reuters

A polícia de Kenosha está a ser acusada de ter deixado o homicida abandonar o local, empunhando uma arma de fogo longa, apesar de a multidão em redor o apontar como autor dos disparos. Ainda assim, Kyle Rittenhouse foi detido horas depois no Illinois e acusado de homicídio em primeiro grau.

As manifestações de protesto pela agressão policial em que o negro Jacob Blake foi alvejado pelas costas com sete tiros deram lugar à mobilização de um imponente dispositivo policial, coadjuvado por milícias de extrema-direita, em que se integra o autor dos dois homicídios de ontem.

Kyle Rittenhouse, natural de Antioch, no Illinois, a cerca de 25 quilómetros de Kenosha, foi amplamente filmado a efectuar os disparos fatais com uma espingarda semi-automática, e gravado a dizer: "Acabo de matar alguém". Além das duas vítimas mortais, há uma terceira pessoa hospitalizada com ferimentos, que segundo a polícia deverá sobreviver.

A agência Associated Press cita uma testemunha, Devin Scott, que declarou ao Chicado Tribune ter ouvido os disparos e logo em seguida ter visto "aquele tipo com uma arma enorme a correr entre nós pelo meio da rua, e as pessoas a gritarem: 'Ele abateu alguém! Ele abateu alguém'. E toda a gente tentou apanhá-lo, e então ele pôs-se a disparar novamente".

A Associated Press relata também que, segundo testemunhas e registos de vídeo, a polícia parece ter deixado o atirador passar entre as suas fileiras para abandonar o local com a arma ao ombro, ao mesmo tempo que a multidão gritava que ele tinha de ser detido, porque tinha matado pessoas.

O xerife David Beth procurou justificar os agentes no local, por terem deixado escapar o assassino, alegando que se tratava de um ambiente de grande tensão,, caótico, com muito gente a gritar e a correr e muitas mensagens de rádio, que poderá ter causado a chamada "visão de túnel" entre os polícias.

O xerife admitiu também que tinha havido uma milícia a patrulhar as ruas de Kenosha nas noites anteriores, mas afirmou que não sabia se Rittenhouse fazia parte dela. Mas um dos vídeos com imagens da milícia mostram um jovem que parece ser Rittenhouse. Um website de direita, The Daily Caller, entrevistou Rittenhouse na sua atividade miliciana dessas noites em frente de uma loja e ele declarou, nomeadamente: "O nosso papel é proteger esta loja".

Outro dos vídeos regista a voz de um polícia a dizer aos milicianos: "Estamos contentes por vocês estarem aqui".

O vice-governador do Estado do Wisconsin, Mandela Barnes, também ele negro, declarou entretanto numa entrevista ao programa “Democracy Now!” que os disparos não o surpreendem, porque as milícias supremacistas brancas foram toleradas durante demasiado tempo. E estranhou que se considere normal haver civis a circularem com espingardas de assalto.

Rittenhouse foi detido mais tarde e identificado como adepto do presidente Trump, que já esteve a fazer uma formação com vista a seguir uma carreira na polícia e milita no grupo Blue Lives Matter, de apoio à polícia. Segundo a legislação do Estado do Wisconsin, a sua idade de 17 anos, não o exime de ser julgado como adulto e de se expor, portanto, à pena máxima.
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