EUA sancionam alto responsável haitiano e acusam-no de apoiar gangues
O governo norte-americano impôs sanções a Fritz Alphonse Jean, membro do conselho presidencial de transição do Haiti, acusando-o de apoiar gangues e outras organizações criminosas.
Os Estados Unidos (EUA) não nomearam a pessoa sancionada num anúncio de segunda-feira à noite, mas Fritz Alphonse Jean confirmou hoje ser o visado, dizendo à agência de notícias Associated Press que rejeitava as acusações.
Os EUA também acusaram Jean de criar obstáculos à luta do Haiti contra "gangues terroristas", sem mais detalhes.
Os gangues controlam 90% da capital haitiana e vastas áreas do território no centro do país, onde estão a extorquir empresas, matam civis e lutam pelo território, usando armamento de nível militar.
O Haiti deve realizar eleições até 07 de fevereiro e o conselho presidencial de transição, composto nove membros, deve demitir-se.
Confrontando com alegações de que alguns membros do conselho procuram permanecer no poder além dessa data e estão à procura de um novo primeiro-ministro, Jean rejeitou-as.
"Quando começámos a analisar a possibilidade de mudar o chefe do governo, os membros [do conselho] começaram a receber ameaças de cancelamento de vistos e outras sanções por parte do representante da Embaixada dos EUA e do embaixador do Canadá", afirmou Jean.
"Mantemo-nos firmes em combater a corrupção, a captura do Estado por poucos indivíduos e operadores envolvidos no tráfico de drogas, proliferação de armas e munições", adiantou o responsável, economista e ex-governador do banco central, que já presidiu ao conselho presidencial transitório.
O conselho foi formado após a renúncia do ex-primeiro-ministro Ariel Henry, no ano passado, na sequência de ataques generalizados de gangues, deixando o Haiti sem líder.
O gabinete do atual primeiro-ministro do Haiti, Alix Didier Fils-Aimé, não comentou a situação.
As sanções de vistos contra Jean vieram menos de uma semana depois de o subsecretário de Estado dos norte-americano, Christopher Landau, ter alertado nas redes sociais que havia "apelos à guerra aberta contra o governo central" no Haiti.
"Os EUA e outros países da região e do mundo têm uma mensagem clara: basta de violência e destruição de gangues, e de lutas políticas internas. Agora é o momento para os líderes do Haiti unirem-se contra uma ameaça comum, e qualquer pessoa que obstruir o caminho do Haiti para a estabilidade política deve esperar consequências dos EUA e de outros, incluindo revogações de visto", escreveu Landau a 19 de novembro.
O primeiro-ministro do Haiti e o conselho presidencial transitório têm estado sob pressão para realizar eleições antes de o mandato do conselho expirar, mas a violência dos gangues tornou impossível cumprir esse prazo.
O país não realiza eleições há quase uma década, e está sem Presidente desde que o antigo chefe de Estado Jovenel Moïse foi fatalmente baleado na sua residência privada em julho de 2021.
Mais de 4.300 pessoas, incluindo membros de gangues, foram mortas entre janeiro a setembro deste ano em todo o Haiti, e a violência persiste.
Uma missão apoiada pelas Nações Unidas e liderada pela polícia queniana tem tido dificuldades em conter a violência, e agora o Haiti aguarda uma nova força de repressão a gangues que teria o poder de prender suspeitos de gangues, algo que a força atual não possui.
Noutro golpe para o país, a Sunrise Airways, única companhia aérea que oferece voos domésticos e internacionais para o Haiti, anunciou no domingo a suspensão dos serviços por razões de segurança.
A violência dos gangues forçou o principal aeroporto internacional do Haiti a fechar várias vezes desde o ano passado.