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EUA usam mísseis com lâminas para atingir alvos na Síria

por Joana Raposo Santos - RTP
Uma aeronave pilotada remotamente da Força Aérea norte-americana carrega mísseis Hellfire, cada um dotado de seis lâminas. Josh Smith - Reuters

As forças militares norte-americanas na Síria estão a levar a cabo cada vez mais ataques com aeronaves pilotadas remotamente que soltam mísseis carregados de lâminas para atingirem alvos específicos. Este aumento é justificado pelo facto de ser menos provável que os ataques com estas armas atinjam erradamente civis inocentes. Organizações não-governamentais alertam, porém, que não se deve cair no erro de as apelidar de "armas humanitárias".

Estes mísseis não-explosivos, que receberam o nome de “bombas ninja”, terminaram de ser desenvolvidos no ano passado e são descritos como menos prováveis de matar civis. Este ano foram utilizados diversas vezes para provocar a morte a militantes do autoproclamado Estado Islâmico na Síria, incluindo membros do Al Qaeda no início deste mês.

O nome oficial destes recentes dispositivos é Hellfire AGM-114R9X, sendo também conhecidos apenas por “R9X” ou “facas voadoras”. O seu uso está a aumentar por parte da unidade militar norte-americana Joint Special Operations Command.

De acordo com o Guardian, a arma é transportada por uma aeronave pilotada remotamente (os chamados reaper drones) e utiliza uma combinação de 45 quilogramas de um material denso a voar a alta velocidade e seis lâminas que são largadas antes da queda do dispositivo, de modo a golpearem as vítimas.

Um vídeo divulgado em junho deste ano pelo Observatório Sírio para os Direitos Humanos mostra o que aparentam ser partes de um destes mísseis, utilizado para atingir um veículo na província de Idlib. Nesse ataque morreram dois homens – um da Jordânia e outro do Iémen -, ambos alegados membros do grupo Hurras al-Din, afiliado ao Al-Qaeda.

Especialistas acreditam que esta arma terá sido utilizada pela primeira vez em 2017 para matar, na província de Idlib, o então líder número dois do Al-Qaeda, Abu Khayr al Masri. No entanto, os dispositivos apenas captaram a atenção pública depois de terem sido motivo de uma reportagem do Wall Street Journal no ano passado.

É possível que a arma tenha sido desenvolvida durante a Administração Obama, numa altura em que a política norte-americana sobre assassinatos de alvos com reaper drones foi motivo de críticas devido ao número de civis que, muitas vezes, acabavam por ser mortos durante os ataques.
Arma é terceira versão do míssil Hellfire
Desde a sua criação, este dispositivo tem sido aparentemente usado de forma moderada, normalmente em território sírio. Segundo o New York Times, o seu uso mais recente ocorreu a 14 de setembro deste ano para matar o tunisino Sayyaf al-Tunsi.

Até maio do ano passado os R9X não terão sido utilizados mais de uma dezena de vezes. A partir de então, os drones que as transportam começaram a voar de forma mais regular.

A arma é uma variação dos mísseis conhecidos por Hellfires, de grande dimensão e peso, criados para destruir tanques e normalmente usados no Afeganistão. Esses mísseis deixaram, porém, de ser utilizados por se considerar que não serviam corretamente a sua função.

Mais tarde foi criada uma segunda versão do míssil, que conseguia transportar uma carga ainda mais pesada, mas que levou por sua vez à morte de civis, sendo descontinuada e originando esta terceira versão: as “bombas ninja”, Hellfire AGM-114R9X.

Este novo míssil parece ter sido pensado para situações nas quais mísseis explosivos mais convencionais poderiam não ser considerados por receio de morte de civis. As lâminas permitem que sejam atingidos alvos mais concretos.
ONG alerta contra ideia de “arma humanitária”
Apesar de concordar que a nova arma seja menos perigosa para civis, a organização não-governamental Action on Armed Violence alertou contra a ideia de que a mesma seja “uma arma mais humanitária”.

“Esta arma, apesar de ter sido usada poucas vezes, realmente aparenta ter efeitos em áreas menos extensas do que outras armas explosivas lançadas do ar”, reconheceu a organização ao Guardian. “No entanto, a larga maioria do arsenal de explosivos dos Estados Unidos causa, demasiadas vezes, terríveis danos colaterais”.

“Dado que a Administração Trump também autorizou a maior explosão não-nuclear da história do mundo no Afeganistão, é importante ter cuidado com a ideia de que as forças militares norte-americanas estão agora a usar armas humanitárias”, avisou.

“Esta nova arma, descrita como uma alternativa a bombas maiores, pode ser vendida como quase ética, mas se na realidade for tão suscetível a atingir alvos errados como outras armas, passa a não ser mais do que uma lâmina assassina empunhada por um Estado raramente responsabilizado pelas suas ações”, considerou a organização.

A Action on Armed Violence sublinhou também a necessidade de prestar atenção a campanhas de homicídio de alvos concretos, com qualquer que seja a arma, quando as mesmas têm pouca supervisão.
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