EUA. Will Smith boicota Geórgia devido a lei eleitoral dita racista

por Inês Moreira Santos - RTP
Atores Will Smith e Martin Lawrence Reuters

O próximo filme de Will Smith e de Antoine Fuqua, "Emancipação", já não vai ser filmado como planeado no Estado norte-americano da Geórgia. O ator e o realizador anunciaram, na segunda-feira, a decisão em protesto contra uma lei aprovada recentemente que segundo os opositores limita o acesso eleitoral a minorias.

Após a aprovação de uma lei eleitoral na Geórgia que tem sido contestada por limitar o acesso às urnas das minorias, em particular de eleitores afro-americanos, o filme sobre a história da escravatura nos Estados Unidos, realizado pelo famoso cineasta Antoine Fuqua e que terá como protagonista o ator Will Smith, não será rodado, como previsto, nesse Estado norte-americano, onde as feridas da escravatura e da segregação ainda estão vivas.

"Não podemos, na nossa alma e consciência, dar apoio económico a um Estado que aplica leis eleitorais retrógradas destinadas a restringir o acesso às urnas (...). É com pesar que nos sentimos obrigados a transferir o nosso trabalho de produção cinematográfica da Geórgia para outro Estado", divulgaram os artistas num comunicado conjunto enviado à imprensa.

"Neste momento, a nação está a consciencializar-se da sua história e está a tentar eliminar vestígios institucionais de racismo para lutar por uma justiça racial verdadeira", continua a justificação.

A lei promulgada pelo governador republicano da Geórgia impõe requisitos de identificação do eleitor, limita o número de urnas e proíbe os voluntários de fornecerem garrafas de água aos eleitores que podem ter de esperar durante horas em filas para votar. A oposição acusa o governo de ter aprovado esta legislação para limitar o acesso das minorias às urnas.

Segundo os opositores, esta lei é mesmo comparada às restrições impostas nas chamadas leis segregacionistas 'Jim Crow', introduzidas por muitos Estados do sul após a Guerra Civil para limitarem o direito de voto dos afro-americanos.

"As novas leis eleitorais da Geórgia lembram os obstáculos para votar que foram adotados no final da Reconstrução para impedir o voto de muitos norte-americanos", escreveram ainda Smith e Fuqua.

Não é de agora que as minorias na Geórgia, como os afro-americanos, vêem ameaçados os seus direitos eleitorais e o acesso às urnas. Mas desde que Joe Biden venceu as eleições presidenciais, em novembro de 2020, e que Donald Trump alegou ter havido fraude eleitoral neste Estado norte-americano, o governador decidiu aprovar esta nova lei eleitoral.

A Geórgia tornou-se nos últimos anos um dos principais locais de filmagem nos Estados Unidos, devido aos incentivos fiscais significativos, acolhendo, por exemplo, os filmes da Marvel ou a série 'The Walking Dead'. Contudo, a aprovação de uma lei que visa supostamente combater a fraude eleitoral, em particular para controlar a identidade dos eleitores que votam por correio, criou uma onda de críticas e pedidos de boicote por parte de vários setores económicos, artísticos e desportivos - entidades como a Liga Profissional de Basebol dos Estados Unidos, a Delta Airlines e a Coca-Cola.

As gravações de "Emancipação", filme adquirido pela Apple Studios, estavam previstas para começar em junho. O filme é baseado numa história verídica, na qual Will Smith protagonizará um escravo que foge de uma plantação da Louisiana e se junta ao Exército da União.

Este novo filme de Will Smith e Antoine Fuqua é a primeira e uma das maiores produções de Hollywood a decidir não produzir na Geórgia, desde que a foi aprovada a nova legislação. A Liga Norte-americana de Basebol (MLB) já tinha anunciado, na semana passada, que o 'All-Star Game 2021', marcado para 13 de julho em Atlanta, capital da Geórgia, vai ser realizado noutro Estado, também em protesto.

Mas até à decisão de cancelar a rodagem do filme "Emancipação", os pedidos de boicote ainda não tinham causado muito eco em Hollywood, para além de alguns 'tweets' de artistas indignados, como os de James Mangold, que realizará o próximo filme da saga de Indiana Jones, ou do ator Mark Hamill, que interpreta Luke Skywalker na saga Star Wars.
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