Europa exige que Hamas reconheça Israel e renuncie violência

O Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, Javier Solana, juntou-se hoje a vários dirigentes europeus ao exigir ao Hamas, previsível vencedor das eleições palestinianas, que reconheça o Estado de Israel e renuncie à violência.

Agência LUSA /

"A União Europeia (UE) apoia o reconhecimento de Israel e uma solução pacífica negociada que leve a dois Estados independentes" disse Solana, juntando-se assim a reacções no mesmo sentido expressas pelos primeiros-ministros britânico, Tony Blair, e francês, Dominique de Villepin, e pelos chefes das diplomacias alemã, Frank-Walter Steinmeier, sueca, Laila Freivalds, e dinamarquesa, Per Stig Moeller.

Já antes, a comissária europeia para as Relações Externas, a austríaca Benita Ferrero-Waldner, reagiu à previsível vitória do Hamas afirmando que a UE "tenciona cooperar com o governo palestiniano, qualquer que seja ele, desde que esteja determinado a prosseguir uma via pacífica".

O movimento radical islâmico Hamas é o vencedor provável das eleições legislativas palestinianas de quarta-feira e, embora os dados oficiais só devam ser anunciados às 17:00 de Lisboa, altos responsáveis do Fatah (no poder) já admitiram publicamente a derrota.

"Aguardamos a confirmação dos resultados (mas) esses resultados podem colocar-nos numa situação completamente nova, que deverá ser analisada segunda-feira pelo conselho" de ministros dos Negócios Estrangeiros europeus, disse Solana, através de um comunicado divulgado em Bruxelas, que está em Pristina para o funeral do presidente kosovar, Ibrahim Rugova.

Em Londres, o porta-voz de Tony Blair afirmou hoje que, embora o Governo britânico "reconheça, naturalmente, os mandatos eleitorais", "tem de ser claro e dizer que só lida com quem tenha renunciado ao terrorismo".

"A distinção é clara: as pessoas apoiam o terrorismo ou não?", acrescentou o porta-voz de Blair, que falava depois de o chefe da diplomacia britânica, Jack Straw, ter já afirmado que "o Hamas tem de entender que a democracia obriga à renúncia da violência".

"Cabe ao Hamas escolher. Temos de esperar para ver, (mas) a comunidade internacional vai querer que o Hamas faça a devida renúncia à violência e reconheça que Israel existe", disse Straw, que está na Turquia em visita oficial.

Em França, o primeiro-ministro, Dominique de Villepin, manifestou a sua preocupação com a vitória do Hamas e sublinhou, também, a importância de uma "renúncia à violência".

"Estamos perante uma situação que me leva a frisar a minha preocupação", disse Villepin em conferência de imprensa, acrescentando que as "condições indispensáveis para trabalhar com um governo palestiniano" são "renunciar à violência", "aceitar avançar em conformidade com os objectivos do processo de paz" e "reconhecer o Estado de Israel e os acordos internacionais".

Também na Alemanha, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, advertiu o Hamas de que só poderá ser reconhecido como uma força governamental por Berlim quando renunciar à violência e reconhecer o direito de Israel a existir como Estado independente.

"Podemos imaginar diferentes forças no governo (palestiniano) mas, para isso, há pelo menos duas condições: as forças que participarem no governo devem renunciar à violência (Ó) e reconhecer Israel. Neste sentido, o Hamas parece ter ainda um longo caminho a percorrer", disse o ministro alemão à rádio Bayerischer Rundfunk.

Na Suécia, a ministra dos Negócios Estrangeiros, Laila Freivalds, afirmou à rádio sueca que "o Hamas tem de mudar radicalmente a sua política", porque "a UE não pode cooperar com um regime que não se distancia da violência e que não reconhece o direito de existência de Israel".

Per Stig Moeller, ministro dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca, considerou também "essencial que o Hamas se comprometa com uma solução negociada para a paz e não com uma solução militar ou terrorista".

Em declarações à televisão estatal TV2, o ministro disse que, no entanto, a Dinamarca "não vai acabar" com a ajuda aos palestinianos, no valor de cerca de 114 milhões de coroas dinamarquesas (15,3 milhões de euros) por ano, porque considera errado "castigar o povo palestiniano".

Silvio Berlusconi, chefe do Governo de Itália, disse por seu lado que a vitória anunciada do Hamas "é muito, muito negativa", mas que "é preciso não perder a esperança".

"Se essa informação for infelizmente confirmada, então tudo aquilo por que esperávamos, uma possibilidade de paz entre Israel e a Palestina, dois Estados independentes, amigos e em paz, será adiado indefinidamente", disse Berlusconi.

O tom mais moderado nesta série de reacções foi adoptado pela Rússia, que integra o Quarteto responsável pelo Roteiro de Paz para o Médio Oriente, que anunciou a manutenção da sua política de cooperação com a Autoridade Nacional Palestiniana "independentemente da composição do futuro governo".

"A nossa linha geral de cooperação com a Autoridade Nacional Palestiniana não vai ser sofrer alterações. Julgaremos o futuro governo pelas suas acções", declarou o representante especial do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo para o Médio Oriente, Alexandr Kaluguin, que chefia a missão de observadores russos nas eleições palestinianas.

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