Europeias. Facebook e Google lançam campanha para combater "fake news"

A rede social Facebook e o motor de busca Google vão lançar ferramentas para combater as fake news durante a campanha para as eleições europeias, que vão decorrer no final de maio. Também a Comissão Europeia comunicou o lançamento de uma semana para a educação digital, que visa “dar ferramentas” aos cidadãos europeus para os tornar “críticos” perante a informação online.

Cristina Sambado - RTP /
Kacper Pempel . Reuters

O motor de busca Google revelou algumas medidas implantadas para evitar a desinformação, entre as quais a criação de equipas dedicadas às eleições para reprimir abusos antes e depois do ato eleitoral.

“Estas equipas, muitas das quais baseadas na Europa, estão treinadas para identificar e impedir uma ampla gama de possíveis abusos que podem variar entre ataques de phishing patrocinados por governos a ataques que tentam alterar o Google Maps para que as pessoas não encontrem os seus locais de voto”, lê-se num comunicado enviado às redações.

A Google acrescenta que está a trabalhar “constantemente” para “encaminhar as pessoas para um conteúdo confiável e oficial” e a “aperfeiçoar os sistemas de maneira a combater os efeitos da desinformação”.

O motor de busca vai lançar também o “projeto Shield para campanhas políticas, jornalistas e ONG na Europa”.

O objetivo é “defender estes grupos de ataques digitais que podem explorar milhares de computadores para sobrecarregar os servidores de um site e colocá-lo offline impedindo que os eleitores recebam informações oficiais quando mais precisam delas”. O Project Shield usa a infraestrutura do Google para proteger sites de notícias independentes contra ataques DDoS.

De forma a garantir a segurança, a Google está a realizar “formações de segurança” para os que correm mais riscos. “Até ao momento, formámos perto de 1000 técnicos, jornalistas e pessoas de ONG relacionadas com as eleições na Europa de modo a poderem saber quais as ferramentas de segurança que precisam e como utilizá-las”, diz a Google.

“O objetivo é apoiar estes grupos para manter as suas informações seguras e permitir que as continuem a publicar livremente de modo a que as pessoas possam continuar a aceder às suas histórias, debates, políticas e resultados, quando isso é ainda mais importante”, acrescenta o gigante da tecnologia.

“As pessoas querem entender melhor a publicidade política que veem online. Por isso, estamos a introduzir uma nova política e novos processos para verificar os anunciantes nas eleições europeias. Qualquer pessoa que queira publicar anúncios políticos para as Europeias nas plataformas da Google terá de fornecer documentação que ateste que é uma entidade com sede na UE ou um cidadão de um país membro da UE - e iremos divulgar dados em cada anúncio para tornar claro aos eleitores quem está a pagar pela publicidade”, remata a nota.

Falando numa conferência organizada pela Comissão Europeia sobre desinformação na Internet, em Bruxelas, o responsável da Google para políticas públicas e relações governamentais na Europa, Médio Oriente e África, Jon Steinberg, afirmou que a empresa está a “desenvolver colaborações com fact checkers ’ [pessoas que verificam dados] para as eleições europeias”.“Vamos ter uma news room [redação virtual] para que os jornalistas digam que informação é ou não verdadeira para as eleições europeias”, acrescentou.

O responsável vincou que o motor de busca leva “muito a sério a veracidade da informação”, pelo que “costuma verificar que a informação divulgada sobre os eurodeputados é correta”.

“E os eurodeputados podem sempre contactar os nossos técnicos se identificarem algum problema”, assinalou.

Jon Steinberg classificou esta plataforma norte-americana como “um instrumento incrível que leva informação às pessoas que, de outra forma, não conseguiriam ter acesso”, defendendo que isso é “uma ferramenta poderosa para as eleições” porque “aumenta o pluralismo”.
Facebook anuncia novas ferramentas
Também a rede social Facebook anunciou segunda-feira, em Bruxelas, o lançamento de "novas ferramentas" para combater as ingerências externas nas eleições europeias, agendadas para o final de maio.

O diretor de relações internacionais e comunicação do Facebook prometeu para finais de março "o lançamento de novas ferramentas para ajudar a prevenir a ingerência nas próximas eleições (europeias) e para tornar a publicidade política mais transparente" naquela rede social.

Thomas Myrup Kristensen, responsável pela representação do Facebook em Bruxelas, anunciou que esta plataforma vai criar “um código de conduta para a Europa sobre a propaganda política”.

“Assim será possível ver quem são os anunciantes e quanto dinheiro gastaram”, explicou, falando numa aposta “na transparência”.

Sublinhando a necessidade de criar ferramentas de educação digital para os cidadãos, Thomas Myrup Kristensen notou que o Facebook quer que “todos os utilizadores sejam capazes de fazer fact check [verificação dos dados]”.

“Tudo tem a ver com a literacia mediática. Precisamos de fact checkers profissionais, mas também de cidadãos críticos”, referiu.
Para o representante do Facebook, hoje em dia, as fake news também já são disseminadas em forma de vídeo ou de fotografia, pelo que estes conteúdos “também devem ser verificados”.


O problema, a seu ver, é que “a informação falsa não é ilegal, já que, se fosse ilegal, seria mais fácil de combater”.

Dados revelados por Thomas Myrup Kristense indicam que, ainda assim, “apenas 3 a 4 por cento” das contas na rede social Facebook são falsas.

Garantindo um permanente acompanhamento destas situações, o responsável exemplificou que, recentemente, o Facebook contratou “30 mil pessoas para trabalhar só na área dos conteúdos, na verificação de dados".

“Queremos reduzir a divulgação de fake news na rede social, nomeadamente com a introdução de conteúdos relacionados, que contribuem para a credibilidade da informação”, adiantou.
Bruxelas aposta em educação digital

A Comissão Europeia anunciou esta terça-feira o lançamento de uma semana para a educação digital, em março, a dois meses das eleições europeias, visando "dar ferramentas" aos cidadãos europeus para os tornar "críticos" perante a informação online.

"Pela primeira vez vamos lançar uma semana europeia para a educação digital e literacia mediática a 18 de março, a dois meses das eleições europeias", marcadas para 23 a 26 de maio, anunciou a comissária para a Economia Digital, Mariya Gabriel.

Falando numa conferência organizada pela Comissão Europeia sobre desinformação na internet, em Bruxelas, a responsável vincou que "é necessário sensibilizar os cidadãos" e "dar-lhes ferramentas para atuar", nomeadamente perante as notícias falsas (fake news)."Dar aos cidadãos ferramentas técnicas e digitais é crucial para os tornar críticos", vincou Mariya Gabriel.

Nesta semana europeia, Bruxelas quer, assim, contribuir para a inclusão digital, pelo que vai reunir, através de ações em todos os Estados-membros, fact-checkers (investigadores que fazem verificação dos dados), professores e jornalistas.

"As tecnologias estão a mudar, os nossos valores tradicionais mantêm-se e é isso que nos une, a necessidade de preservar uma Europa baseada na equidade, sendo por isso crucial que os cidadãos consigam pensar pela sua própria cabeça", vincou Mariya Gabriel.

O combate à desinformação está no topo da agenda da Comissão Europeia e também da nova presidência romena do Conselho da União Europeia.

Foi, por isso, criado no final do ano passado um Plano de Ação Conjunto que contém medidas como a criação de um sistema de alerta rápido para sinalizar campanhas de desinformação em tempo real, aumentando para isso o orçamento do Serviço Europeu de Ação Externa de cerca de dois milhões de euros para cinco milhões de euros.

O plano prevê também um instrumento de autorregulação para combater a desinformação 'online': um código de conduta subscrito por grandes plataformas digitais, como Facebook, Google, Twitter e Mozilla, que se comprometeram a aplicá-lo.

No que toca às campanhas dirigidas aos cidadãos, o documento define que as instituições da UE e os Estados-membros promovam a literacia mediática através de programas específicos.

c/ Lusa
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