Mundo
Guerra no Médio Oriente
Europeus a lucrar com a guerra de Israel em Gaza
Londres suspendeu parcialmente a exportação de armas do Reino Unido para Israel. No entanto, uma investigação do jornal The Guardian revela que a fabricante europeia de mísseis MBDA continua a lucrar com a venda de peças para bombas utilizadas em Gaza.
A investigação do jornal eletrónico britânico descobriu que a MBDA, multinacional europeia que é a maior fabricante de mísseis da Europa, está a fornecer componentes cruciais para bombas que Israel lança em Gaza. Alguns desses ataques de Israel provocaram a morte de crianças e civis palestinianos, segundo uma investigação conduzida pelo The Guardian, em colaboração com os meios independentes Disclose e Follow the Money (plataformas de jornalismo de investigação).
Os três concentraram-se na bomba GBU-39, produzida pela norte-americana Boeing. Esta bomba leve, mas altamente destrutiva em espaços fechados, é equipada com asas desenvolvidas pela MBDA Inc., filial norte-americana da multinacional.
Designadas por Diamond Back, estas asas são fundamentais para a precisão da bomba e são fornecidas exclusivamente pela MBDA.
Elas desdobram-se após o lançamento, permitindo que a bomba seja guiada até o alvo.
As receitas da MBDA Inc., filial no Alabama (EUA), são canalizadas para a MBDA UK, no Reino Unido, antes de serem distribuídas à sede do grupo em França.
Em 2023, o grupo MBDA entregou dividendos de cerca de 404 milhões de euros aos seus três acionistas principais: BAE Systems (Reino Unido), Airbus (França) e Leonardo (Itália).
Esta bomba (GBU-39) foi utilizada em 24 ataques entre novembro de 2023 e maio de 2024. Todos os ataques mataram civis palestinianos, incluindo pelo menos 100 crianças.
Esta bomba (GBU-39) foi utilizada em 24 ataques entre novembro de 2023 e maio de 2024. Todos os ataques mataram civis palestinianos, incluindo pelo menos 100 crianças.
Um dos casos considerado mais chocante ocorreu em maio (dia 26) quando uma escola em Gaza – usada como abrigo – foi atingida durante a noite.
Morreram 36 pessoas, metade delas crianças.
Nos escombros foram identificados fragmentos das asas da bomba.
O Exército israelita afirmou que os ataques tinham como alvo centros de comando de Hamas e Jihad Islâmica escondidos em escolas e mesquitas. No entanto, testemunhas, a Amnistia Internacional e as Nações Unidas classificaram vários destes ataques como possíveis crimes de guerra.
Apesar de o Reino Unido ter suspendido 29 licenças de exportação de armamento para Israel, alegando risco de “graves violações” do direito humanitário internacional, essa suspensão não abrange filiais fora do país.
Com a crescente preocupação sobre até que ponto as empresas europeias estão a lucrar com a devastação de Gaza, esta investigação analisou a cadeia de produção da bomba GBU-39 e como tem sido utilizada por Israel na Faixa de Gaza.
A MBDA é uma multinacional europeia especializada em projeto, desenvolvimento e fabrico de mísseis e sistemas relacionados.
Publicamente, a multinacional europeia anuncia um compromisso com os direitos humanos e querer “evitar impactos negativos diretos e indiretos” sobre os direitos humanos.
No entanto, a MBDA não revela se pondera vender a filial norte-americana. Nem admite suspender a produção de componentes para equipamento usado por Israel na Faixa de Gaza.