Europeus invadem cidades norte-americanas para compras de Natal
Armado com euros de uma força sem paralelo, um exército poliglota de europeus está a invadir as grandes cidades norte-americanas para fazer compras de Natal e saciar a sua sede de luxos proibidos.
De Nova Iorque a Miami, passando por Washington, retalhistas e gerentes de hotéis são unânimes em referir que, nas últimas semanas, milhares de turistas europeus chegaram aos Estados Unidos, atraídos pela fraqueza do dólar, que torna as compras nos Estados Unidos extraordinariamente baratas.
Tradicionalmente, os preços de grande parte de bens de consumo nos Estados Unidos têm sido sempre mais baratos do que na maior parte dos países europeus.
Mas a queda do dólar para o seu nível mais baixo de sempre em relação ao Euro e para o preço mais baixo dos últimos 12 anos em relação à Libra Esterlina faz com que, subitamente, os Estados Unidos se tenham tornado para os europeus num supermercado gigante em saldo.
Os turistas europeus têm estado também a beneficiar da época baixa nos preços das viagens aéreas, o que faz com que, em alguns casos, seja mais barato viajar de uma cidade europeia para Nova Iorque do que para outra capital europeia.
Um porta-voz da representação da Associação dos Agentes de Viagens Britânicos disse que "os preços dos voos da Inglaterra para Nova Iorque estão ao seu nível mais baixo de sempre".
Um jornal britânico escreveu que é mais barato fazer uma viagem de compras de Manchester a Nova Iorque do que de Manchester a Londres.
O jornal Daily News, de Nova Iorque, fez uma comparação de preços de vários produtos à venda nesta cidade, em Londres e em Paris e concluiu que, por exemplo, um casaco Polo Ralph Lauren, que custa 180 dólares em Paris e Londres, custa 97.50 dólares em Nova Iorque.
Câmaras digitais Nikon, que na Europa custam cerca de 1.600 dólares podem ser compradas em Nova Iorque por cerca de mil dólares.
O Wall Street Journal dá o exemplo do iPod digital, com capacidade para 1.000 canções, que custa 249 dólares em Nova Iorque e 347 dólares em Londres.
Um turista inglês, contactado num centro comercial em Washington, disse ter comprado por 299 dólares um iPod, que em Londres lhe custaria 425.
O mesmo turista disse ter comprado também um par de sapatos Timberland, "pois custam três vezes mais na Inglaterra".
Segundo a revista Business Week, um par de calças Levi+s 501, que custa 106 dólares em Londres, pode ser adquirido por 65 dólares em Nova Iorque. Numa cadeia especializada em descontos, nos arredores de Washington, essas mesmas calças podem ser adquiridas por 45 dólares.
Na cadeia Gap uma saia que custa 85 dólares em Londres custa 29 dólares em Nova Iorque.
Até os livros são mais baratos. O livro de memórias de Bob Dylan custa 32.97 dólares em Londres e pode ser comprado em Nova Iorque por 16.80 dólares.
Estas diferenças fazem com que, para os turistas europeus, Nova Iorque, considerada uma cidade muito cara para os norte- americanos, seja um pólo de atracção.
Entidades oficiais da cidade fazem notar que, enquanto os turistas europeus permanecem em média oito dias, os norte-americanos fazem em média uma visita de apenas dois dias.
Isso, dizem, é a razão por que metade do dinheiro gasto por turistas em Nova Iorque provém de cidadãos europeus, que são contudo apenas 15 por cento do número total de visitantes da cidade.
Segundo as estimativas, o número de turistas estrangeiros em Nova Iorque vai este ano aumentar 13 por cento em relação ao ano passado, gastando um total de 3,7 mil milhões de dólares.
Tentando usufruir deste súbito entusiasmo europeu pelos Estados Unidos, cadeias de hotéis americanos estão a fazer promoções especialmente viradas para a Europa, principalmente para a Grã- Bretanha, de onde está a chegar a maioria dos turistas.
O Hotel Portofino Bay, em Miami, anunciou recentemente ter incluído no seu menu vários pratos ingleses e em Orlando, na Florida, uma cadeia de restaurantes tem publicidade sobre a cerveja inglesa.
O Hotel Ritz, em Key Biscayne, na Florida, teve recentemente um fim-de-semana "dedicado à Escócia" devido a uma súbita "invasão" de turistas escoceses na cidade.
Em Nova Iorque, a famosa loja Macy+s - que oferece uma vasta gama de produtos, desde roupa a produtos electrónicos - estava recentemente a oferecer 11 por cento de desconto a todos os turistas que apresentassem o seu passaporte.
"Isso tornou-nos num dos principais pontos de atracção turísticos de Nova Iorque", disse a porta-voz da loja, Elina Kazan.
Especialistas afirmam que a invasão de europeus à procura de preços baixos deverá continuar a aumentar no próximo ano, pois o dólar - que desde Abril caiu 12 por cento em relação ao Euro - deverá continuar a desvalorizar-se.
Se, para os governos europeus, essa desvalorização é um ponto de irritação, por significar que os produtos europeus são mais caros nos Estados Unidos, para os consumidores europeus quanto mais valer o Euro mais baratos são os produtos à venda nos Estados Unidos.
A Câmara de Comércio do governo federal norte-americano quer tirar vantagem desse facto e vai iniciar em breve uma campanha publicitária de seis milhões de dólares para promover o turismo europeu.
Mas nem todos nos Estados Unidos estão satisfeitos com a invasão europeia. Empregados de mesa em restaurantes queixam-se de que muitos turistas europeus não oferecem gorjetas, porque nos seus países estas estão incluídas na conta.
"São mais forretas do que os maiores forretas norte- americanos", queixou-se um empregado de mesa de Washington, acostumado, como em todo o país, a receber gorjetas entre os 12 e os 15 por cento sobre o valor da conta.
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