Ex-advogado pessoal de Trump indicia colaboração com investigadores do FBI

por Lusa

O antigo advogado pessoal do Presidente norte-americano, Michael Cohen, disse hoje, depois de se ter vangloriado que "receberia uma bala" por Donald Trump, que agora "coloca em primeiro lugar a família e o país".

Na sua primeira entrevista desde que agentes federais fizeram buscas na sua residência e no quarto de hotel, há três meses, como parte da investigação aos seus negócios, incluindo os relacionados com o Presidente norte-americano, que Cohen deixou claro que proteger Trump já não é a sua prioridade.

"A minha mulher, a minha filha e o meu filho têm a minha primeira lealdade e sempre terão", disse Cohen, durante uma entrevista a George Stephanopoulos, da estação televisiva ABC, que foi divulgada hoje, mas na versão narrada, uma vez que não foi gravada em imagens.

Cohen, que ainda não foi acusado, evitou esclarecer sobre se iria colaborar com os investigadores. Mas também não fez nada para excluir essa possibilidade, discutindo algumas críticas de Trump à investigação liderada pelo procurador especial Robert Mueller à alegada interferência russa nas eleições presidenciais e chegando a elogiar os agentes da polícia federal (FBI, na sigla em inglês).

"Não concordo com os que demonizam ou vilificam o FBI", disse Cohen. A operação policial, reconheceu, "foi obviamente perturbadora" para ele próprio e para a sua família, mas acrescentou que "os agentes foram respeitadores, corteses e profissionais".

Robert Mintz, um ex-procurador federal, agora no setor privado, considerou que Cohen "enviou todos os sinais que conseguiu aos procuradores de que irá colocar os seus interesses em primeiro lugar e aceitará qualquer acordo que lhe permita evitar a prisão".

Cohen, que se descreveu como a pessoa que resolve os problemas de Trump e ocupou um lugar chave na Organização Trump durante mais de uma década, com frequência criticava fortemente jornalistas e ameaçava processar quem desafiasse o seu patrão.

Durante uma entrevista à televisão Fox News, no último ano, Cohen declarou: "Farei tudo para proteger o senhor Trump". Também disse à revista Vanity Fair: "Eu sou o tipo que levaria uma bala destinada ao presidente", acrescentando: "Nunca fujo".

Um dia depois de divulgar na rede social Twitter, a mensagem "Eu protegerei sempre o meu POTUS" (acrónimo em inglês para `presidente dos EUA`) em abril, o FBI fez buscas à sua casa, ao seu escritório e ao seu quarto de hotel, como parte da investigação dos procuradores federais, em Nova Iorque, aos seus negócios.

Enterre outros itens, os investigadores procuravam por provas do pagamento de 130 mil dólares (112 mil euros) que ele fez como parte de um acordo de confidencialidade com a estrela de filmes pornográficos Stormy Daniels, que alega ter tido relações sexuais com Trump em 2006, o que este nega.

No passado, Cohen disse que o pagamento foi feito por sua iniciativa. Mas, na entrevista à ABC, escusou-se a falar do assunto, alegando conselhos do seu advogado.

"Quero responder. Um dia vou responder", disse.

Stephanopoulos disse que perguntou repetidamente a Cohen se estava a considerar cooperar com os investigadores e que Cohen respondeu que se for acusado de alguma coisa, irá recorrer ao seu advogado, Guy Petrillo, para obter conselho. Este não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Cohen repetiu negativas anteriores que não teve qualquer envolvimento nas tentativas russas de interferência na eleição presidencial de 2016, mas recusou criticar a investigação liderada pelo antigo diretor do FBI, Robert Mueller.

"Não gosto do termo `caça às bruxas`", Cohen é citado a dizer esta frase, que tem sido utilizada Trump para desvalorizar a investigação de Mueller.

Cohen foi também inquirido sobre como poderia responder se o presidente ou a sua equipa de advogados viessem atrás dele e procurassem desacreditar o trabalho que fez para Trump na última década.

Disse ainda à ABC que discordava das mensagens recentes de Trump na rede Twitter, que repetia a garantia de Putin de que a Federação Russa não tinha interferido na eleição presidencial.

"Aceitar apenas a garantia do senhor Putin é insustentável", disse Cohen, que acrescentou: "Eu respeito as conclusões unânimes das nossas agências de informação", que apontam precisamente para a existência daquela interferência.

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