Ex-assessor do filho de Bolsonaro preso por suspeita de corrupção

A polícia brasileira prendeu, esta quinta-feira, um ex-assessor de Flávio Bolsonaro, filho do Presidente do Brasil, no âmbito de uma investigação sobre transações financeiras e desvio de dinheiro público. O filho de Jair Bolsonaro alega que a detenção de Fabrício Queiroz tem como objetivo atingir o presidente brasileiro.

RTP /
Sebastiao Moreira - EPA

Fabrício Queiroz foi detido na manhã desta quinta-feira na cidade de Atibaia, no interior do estado de São Paulo, no âmbito das investigações do chamado caso "Rachadinha" - um suposto esquema de corrupção que será liderado pelo filho do Presidente brasileiro, incluindo desvio e lavagem de dinheiro público.

O suspeito foi detido num imóvel que pertence a Frederick Wasseff, advogado da família Bolsonaro e, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), a prisão do ex-assessor de Flávio Bolsonaro decorreu no quadro da Operação Anjo, realizada em parceria com autoridades de São Paulo.

O ex-assessor e ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro já morava na casa do advogado há cerca de um ano, segundo informou à Polícia Civil um dos caseiros da residência. Contudo, em setembro de 2019 Wasseff tinha afirmado não saber do paradeiro de Queiroz.

De acordo com a investigação, a habitação onde Fabrício Queiroz estava, em Atibaia, começou a ser vigiada há 10 dias, a pedido dos investigadores do Rio de Janeiro. Fabrício Queiroz estava a dormir quando a polícia chegou para o levar e não se mostrou surpreendido com a detenção nem ofereceu resistência.

Esta operação - também conhecida por "Rachadinha" - está associada a um inquérito que investiga um esquema ilícito em que servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro, atualmente senador do Rio de Janeiro, terão sido coagidos a devolver parte dos seus salários ao filho do Presidente brasileiro quando ele ocupava o cargo de deputado estadual (entre 2003 e 2019), na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Em causa estará um montante equivalente a 350 mil euros, suspeitando-se que parte dos vencimentos de várias pessoas contratadas para trabalhar na Assembleia do Rio de Janeiro era investida numa loja de chocolates fantasma.

Queiroz é conhecido como braço direito de Flávio Bolsonaro e pessoa responsável por arrecadar o dinheiro dos funcionários no gabinete na Alerj.

O inquérito em curso começou após um relatório do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de controlo financeiro atualmente ligado ao Banco Central do país, ter detetado movimentações financeiras suspeitas nas contas bancárias de Fabrício Queiroz, no final de 2018.

As movimentações de dinheiro acima dos rendimentos do ex-assessor chamaram a atenção também porque aconteciam através de depósitos em dinheiro vivo em datas próximas do pagamento dos funcionários da Alerj.

Inicialmente, o antigo assessor de Flávio Bolsonaro disse que o dinheiro era fruto de um trabalho paralelo que fazia com a venda de carros.

Mas mais tarde mudou a versão e afirmou que recebia e usava o dinheiro arrecadado para remunerar outros assessores informais, sem conhecimento do então deputado estadual, Flávio Bolsonaro.
Senador diz que prisão de ex-assessor é para atingir o Jair Bolsonaro

O filho de Jair Bolsonaro é também suspeito e está a ser investigado neste caso por peculato, branqueamento de capitais e organização criminosa.

Os investigadores suspeitam que Flávio Bolsonaro terá branqueado dinheiro alegadamente arrecadado na Alerj através de uma loja de chocolates no Rio de Janeiro da qual é sócio e também comprando e vendendo imóveis. No entanto, o atual senador na câmara alta do Congresso brasileiro tem negado todas as acusações.

Após o anúncio da detenção de Fabrício Queiroz, Flávio Bolsonaro disse que se tratava de um movimento calculado para atacar o Governo.

"Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje. A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio [de Janeiro] nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente [Jair] Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!", escreveu Flavio Bolsonaro na rede social Twitter.

Embora assumam a "tranquilidade" relativamente ao assunto, Jair Bolsonaro, ao contrário do que costuma fazer todos os dias, não falou com apoiantes que ficam à espera para conversar com ele todas as manhãs, na porta da residência oficial do governante.

Já o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, comentou a prisão de Queiroz, afirmando ser importante serem "esclarecidos" todos os factos.



O comentário de Moro, que ficou conhecido por atuar como juiz da operação Lava Jato, chamou a atenção porque, quando estava no Governo, se recusou a comentar investigações criminais que envolviam os filhos do Presidente.
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