Exército dos EUA usou armas químicas na ofensiva em Fallujah
O exército norte-americano usou armas químicas contra civis, entre as quais uma variante de napalm, durante a ofensiva de Novembro de 2004 contra a cidade iraquiana de Fallujah, segundo uma reportagem emitida hoje pela televisão italiana RAI.
O autor da reportagem "Fallujah, o massacre escondido", Sigfrido Rannuci, entrevista soldados norte-americanos, habitantes da cidade e jornalistas, que confirmam a utilização de fósforo branco e de MK77 (uma variante do napalm usado durante a guerra do Vietname) durante a tomada da cidade bastião da resistência iraquiana à ocupação.
"Em Fallujah, vi corpos de mulheres e crianças queimados. O fósforo branco rebenta em forma de nuvem e quem estiver num raio de 150 metros não escapa", afirma na reportagem Jeff Englehart, um antigo "marine" e veterano do Iraque que participou na ofensiva.
Os Estados Unidos confirmaram, em Janeiro de 2005, a utilização de fósforo branco em Fallujah, mas apenas para iluminar as zonas inimigas e nunca contra combatentes. Na altura, segundo refere a reportagem, o Pentágono sublinhou que o fósforo branco não é uma arma ilegal.
Segundo Jeff Englehart, um projéctil de fósforo branco, que na verdade permite iluminar um quilómetro quadrado durante dois minutos, tem "um efeito devastador sobre a carne": "queima os corpos, dissolve- os até aos ossos e deixa as roupas intactas".
Trata-se de uma arma para ser utilizada no campo de batalha, mas não numa localidade habitada, segundo a reportagem, que refere também que os Estados Unidos nunca admitiram vítimas civis naquela operação, mas apenas "1.600 combatentes inimigos assassinados" e 51 soldados norte-americanos mortos.
Sigfrido Rannuci entrevista também Mohamed Tarek al-Deraiji, de 33 anos, director do Centro de Estudos para os Direitos Humanos e a Democracia, de Fallujah, que denunciou o uso de fósforo branco criticando como, de maneira ambígua, os técnicos incluem esta arma no grupo das incendiárias e não do das químicas.
A reportagem recolhe ainda declarações da jornalista italiana Giuliana Sgrena, sequestrada em Março passado no Iraque, que diz ter recolhido testemunhos de refugiados sunitas segundo os quais foram usados fósforo branco e MK77 em Fallujah.
A jornalista explica que esses contactos foram feitos antes do seu sequestro e que se preparava para se encontrar com algumas dessas pessoas no dia em que foi sequestrada.
Sgrena, jornalista assumidamente contra a guerra no Iraque, foi sequestrada a 04 de Fevereiro nas imediações da Universidade de Bagdad e libertada um mês depois, numa conturbada operação de resgate que acabou com a morte de um agente dos serviços secretos italianos, Nicola Calipari, atingido a tiro por uma patrulha norte-americana.