Exército israelita reconhece "falhas profissionais" na morte de paramédicos em Gaza

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Hatem Khaled - Reuters

Uma investigação sobre a morte dos 15 socorristas abatidos pelo exército israelita na Faixa de Gaza, em março, concluiu que houve um “mal entendido operacional” e violações de ordens. No entanto, o exército israelita diz que não tentou encobrir o ataque e defende que os soldados “não dispararam indiscriminadamente”.

"A análise identificou várias falhas profissionais, violações de ordens e uma falha em relatar completamente o incidente", concluiu a investigação conduzida pelas Forças de Defesa de Israel (IDF), divulgada este domingo.

"Os disparos nos dois primeiros incidentes resultaram de um mal-entendido operacional por parte das tropas, que acreditavam estar perante uma ameaça tangível por parte das forças inimigas. O terceiro incidente envolveu uma violação de ordens durante um combate", acrescenta.

A investigação diz respeito ao incidente ocorrido a 23 de março, em que 14 socorristas e um funcionário da ONU foram abatidos a tiro por tropas israelitas perto da cidade de Rafah, no sul de Gaza.

Os seus corpos, juntamente com os veículos destruídos, foram enterrados numa vala comum de areia em Gaza pelas tropas israelitas.

As IDF garantem, no entanto, que os soldados israelitas não dispararam “indiscriminadamente” e afirmam não ter encontrado qualquer sinal de execução.

"As tropas não abriram fogo indiscriminadamente, mas mantiveram-se em alerta para responder às ameaças reais que identificaram", disse o exército, acrescentando que a investigação "não revelou qualquer prova para apoiar as alegações de execução".

O exército alega que seis dos 15 palestinianos mortos “foram identificados retrospetivamente como terroristas do Hamas", e lamenta “os danos causados a civis não envolvidos". O Hamas já rejeitou a acusação.
Dispararam com "a intenção de matar"
Logo após o incidente, o exército israelita alegou que os seus soldados receberam informações de que um conjunto de veículos estava "a mover-se de forma suspeita na sua direção no escuro", com as luzes apagadas, o que os levou a abrir fogo à distância.

No entanto, a tese israelita foi desmentida quando um vídeo recuperado do telemóvel de um dos socorristas e publicado pelo Crescente Vermelho Palestiniano mostra equipas de emergência fardadas e um comboio de ambulâncias e carros dos bombeiros claramente identificadas, com as luzes acesas, a serem alvejados por soldados.

Os militares israelitas alegam que o comandante adjunto não reconheceu inicialmente os veículos como ambulâncias devido à "má visibilidade noturna" e ordenou que as tropas abrissem fogo contra um grupo de indivíduos que saíram de um conjunto de veículos de bombeiros e ambulâncias. O oficial que comandou a unidade nesse dia foi dispensado das suas funções, anunciaram as IDF.

O Crescente Vermelho, por sua vez, alega que os soldados israelitas dispararam com "a intenção de matar".
“Crise incomparável em gravidade”
O exército israelita bloqueou a entrada de ajuda humanitária em Gaza a 2 de março. Desde então, o enclave não tem recebido alimentos, combustível, água e medicamentos.

Civis, médicos e funcionários humanitários dizem que Gaza está a viver uma “crise incomparável em termos de gravidade”. O bloqueio está a entrar na oitava semana, tornando-se o mais longo cerco total contínuo que Faixa enfrentou até hoje na guerra de 18 meses.

Israel tem reiterado que vai continuar a bloquear a entrada de ajuda humanitária em Gaza, ao mesmo tempo que tem intensificado os ataques para pressionar o Hamas a libertar os restantes reféns dos ataques de 7 de outubro de 2023.

Enquanto tenta um novo acordo de cessar-fogo, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, prometeu levar a luta contra o Hamas até ao fim.

"Estamos numa fase decisiva do conflito, e esta etapa exige paciência e determinação", disse Netanyahu no sábado, afastando a hipótese da retirada das tropas israelitas do território, como exige o Hamas.

De acordo com o Ministério da Saúde do Hamas, pelo menos 1.827 palestinianos foram mortos desde que Israel quebrou o cessar-fogo, a18 de março, elevando para 51.201 o número de mortos em Gaza desde o início da ofensiva de retaliação israelita, há pouco mais de 18 meses.

c/agências
PUB