Explicado mistério do sono dos golfinhos
As partes do cérebro dos golfinhos "desligam-se" alternadamente fazendo com que não precisem de dormir, um fenómeno único entre os mamíferos, conclui um estudo publicado numa altura em que se celebra o Ano Internacional do Golfinho.
Segundo biólogos da Universidade de Carolina em San Diego, Estados Unid os, o "mistério do sono" à volta dos golfinhos, que há muito tempo intrigava esp ecialistas, deve-se à capacidade que estes animais têm em desligar alternadament e uma parte do cérebro para descansar, enquanto a outra parte se mantém activa.
Este fenómeno explica o facto de os golfinhos não dormirem semanas após o parto, estarem sempre em alerta e serem capazes de reagir imediatamente mesmo que se encontrem a descansar, de acordo com o estudo citado esta semana pela re vista alemã "Die Welt" e que data de Agosto de 2006.
A descoberta foi feita através de uma experiência com um sinal acústico , ao qual o golfinho reagia, tendo os investigadores norte-americanos analisado durante cinco dias seguidos as correntes cerebrais do mamífero, comprovando assi m as "alterações das partes cerebrais".
Após cinco dias de teste, nos quais o animal não descansou, os investig adores efectuaram análises ao sangue do golfinho, não tendo estas indicado qualq uer indício de cansaço ou qualquer rasto de stress, como a adrenalina ou acrésci mo de células brancas.
Em declarações a agência Lusa, o presidente do "Projecto Delfim", Manue l Eduardo dos Santos disse que não conhece o estudo, mas que a "questão da funçã o assimétrica do cérebro dos golfinhos, que também é utilizada para manter a res piração de forma voluntária, já é conhecida desde os anos 70".
"Não julgo que seja um trabalho totalmente inovador, embora os investig adores norte-americanos possam ter avançado num aspecto que, até agora tinha sid o ignorado [que é a relação das funções cerebrais com o sono]", acrescentou.
Para o presidente da associação científica que reúne investigadores, es tudantes universitários e simpatizantes dos mamíferos marinhos, "os golfinhos tê m vindo a sofrer uma série de agressões ao seu ambiente provocadas principalment e pelo homem e, consequentemente, há muitas espécies, como o goto do Golfo da Ca lifórnia que se encontram em vias de extinção eminente e várias outras espécies fortemente ameaçadas".
Entre as várias ameaças à sobrevivência dos golfinhos, o presidente apo nta sobretudo para a "poluição química da água, a poluição sonora que perturba o seu sistema de orientação, as redes e aparelhos de pesca que são deixados no ma r, assim como a pesca excessiva que acaba com os recursos alimentares dos golfin hos".
Para contribuir para a preservação dos golfinhos e alertar o mundo para as ameaças as quais este animais estão expostos, o "Programa das Nações Unidas para o Ambiente e a Convenção sobre Espécies Migratórias" e outros acordos espec ializados na conservação dos golfinhos, decidiram fazer de 2007 o Ano do Golfinh o.
Esta iniciativa, lançada a 17 de Setembro do ano passado na reserva nat ural de Larvotoo, no Mónaco, envolve governos, organizações não governamentais e várias entidades do sector privado.
A campanha pretende aumentar a consciencialização das pessoas acerca da s espécies de golfinhos existentes, educar e informar políticos e envolver as co munidades locais na sua defesa, segundo o Instituto Nacional da Conservação da N atureza (ICN).
"Se esta tomada de consciência estimular medidas extremas para proteger as espécies em perigo e encorajar a protecção de outras, esta campanha deve ser considerada de enorme importância", disse à Lusa Manuel Eduardo do Santos sobre a iniciativa da ONU.
Em Portugal, o principal esforço na defesa dos golfinhos concentra-se n o Rio Sado, onde "ainda existe uma das poucas populações de golfinhos concentrad as e residentes na Europa", tendo a protecção e conservação desta espécie "uma g rande importância ecológica e cultural para o país".
O Ano Internacional do Golfinho faz ainda parte da "Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável", contribuindo para que se alcancem os object ivos do "Projecto Milénio" das Nações Unidas, em termos de diminuição da perda d e biodiversidade.