Explosivos provocam quase seis mil vítimas por ano

Lisboa, 03 Abr (Lusa) - Minas terrestres e fragmentos explosivos continuam a matar e a ferir milhares de pessoas por ano em todo o mundo, apesar das desminagens terem reduzido numa década o número de vítimas em três quartos.

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Em 1997, quando foi assinado o Tratado Internacional sobre Minas Terrestres, o número de vítimas ascendia a mais de 26 mil por ano, cifra que em 2007 rondava as seis mil, segundo dados das Nações Unidas divulgados a propósito do Dia Internacional de Consciencialização sobre as Minas Terrestres, que se assinala sábado.

"Em 2008, registámos um forte progresso no caminho da eliminação das minas terrestres e fragmentos explosivos. O apoio do público e dos doadores é vital para os nossos esforços em alcançar o objectivo de zero vítimas", defendeu Max Kerley, director da agência das Nações Unidas para as Minas Terrestres.

Max Kerley, que está no Afeganistão - um dos países mais contaminados do mundo - sublinhou a necessidade de aumentar os esforços para responder a uma estimativa de 473 mil sobreviventes de acidentes com minas.

Mais de 70 estados - entre os quais Angola, Moçambique e Guiné-Bissau - continuavam contaminados em 2008, segundo os dados mais recentes do organismo de supervisão (Landmine Monitor) da Campanha Internacional para Banir Minas Terrestres (ICBL).

A rede, que junta 1.400 organizações não-governamentais em 90 países, aponta novas contaminações no Afeganistão, Colômbia, Gambia, Iraque, Mali e Níger, bem como em estados não signatários como a Geórgia, Myanmar e Sri Lanka.

O relatório adianta ainda que em 2007 foram limpos pelo menos 122 quilómetros quadrados de áreas minadas, tendo sido destruídas mais de 190 mil minas anti-pessoal e mais de 10 mil anti-carro.

Os melhores resultados foram alcançados pelos programas de desminagem no Afeganistão, Angola, Camboja, Croácia, Etiópia, Iraque e Sudão, que concentram 80 por cento do total da área limpa.

Anna Kudarewska, responsável do Landmine Monitor para a África Lusófona, sublinhou em declarações à agência Lusa a "lentidão" do processo de desminagem e a redução dos fundos para este efeito.

"Entre 2007 e 2008 houve menos fundos dos doadores internacionais. Este ano, apesar de as organizações dizerem que têm fundos para a desminagem, falta dinheiro para acções de educação", disse.

Referindo-se a Angola e Moçambique, Ana Kudarewska lembrou a fraca assistência médica e o quase inexistente apoio psicológico às vítimas de acidentes com minas nestes dois países.

O Tratado Internacional de Minas Terrestres, assinado por 156 países, terá a sua segunda conferência de revisão no final do ano em Cartagena, na Colômbia, onde serão serão medidos os progressos e avaliados os desafios futuros.

"Os estados deveriam intensificar os seus esforços para alcançar a meta exposta no preâmbulo do tratado: pôr fim ao sofrimento e às mortes causadas pelas minas terrestres", defende a ICBL, que acredita tratar-se de "uma missão possível".

Além da redução do número de vítimas, nos últimos dez anos foram destruídas mais de 42 milhões de minas, limpos mais de mil quilómetros quadrados.

Segundo a ICBL, o uso de minas é hoje mais uma excepção que a regra, tendo o comércio deste tipo de armamento "praticamente desaparecido".

Ainda assim, as forças militares de Myanmar e da Rússia continuam a usá-las, enquanto o seu uso por grupos armados não estatais acontece em pelo menos nove estados.

Países membros do tratado, como a Bielorússia, Grécia, Turquia, Etiópia, Ucrânia e Koweit ultrapassaram ou estão em risco de ultrapassar as datas limite para destruir os respectivos stocks, enquanto 71 estados armazenam mais de 200 mil minas para investigação.

Mais de 70 países, entre os quais se contam 44 dos que aderiram ao tratado, mantém todas as áreas contaminadas por limpar.

Angola, Afeganistão e Camboja contam-se entre os países mais minados do mundo.

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