Extremismo religioso continua a impulsionar violência em África

O extremismo religioso continua a impulsionar violência na África Subsaariana, com mais de 22 mil mortes, em 2024, atribuídas a grupos militantes islamistas no "Relatório da Liberdade Religiosa no Mundo 2025", hoje divulgado.

Lusa /

No documento da autoria da organização Ajuda à Igreja que Sofre Internacional é analisado o período entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024 e destaca a situação da África Subsaariana como a região "mais afetada pela atividade `jihadista`".

Há 25 anos que a fundação católica divulga o relatório em que analisa o direito à liberdade religiosa em 196 países, garantindo que a análise "documenta abusos, violações e restrições à liberdade religiosa que afetam todos os grupos religiosos".

No relatório evidencia-se a atividade dos grupos `jihadistas` e as consequências descritas como "devastadoras para os civis, incluindo as comunidades cristãs" nas regiões analisadas.

África surge "como o cenário da atividade `jihadista` mais mortífera", a começar pelo Sahel, onde "os grupos `jihadistas`, filiados no autoproclamado Estado Islâmico e na Al-Qaeda, intensificaram os ataques contra todos os grupos religiosos".

 No Burkina Faso, Mali, Nigéria e Níger, prossegue, "os ataques violentos desenraízam comunidades inteiras, provocando deslocações em massa e desmantelando o culto comunitário".

A Nigéria tem registado um aumento acentuado da violência por motivos religiosos, aponta-se na análise feita, "especialmente no norte e na região do MiddleBelt", onde "grupos armados como o Boko Haram, o ISWAP e pastores fulani radicalizados têm como alvo igrejas, aldeias e líderes religiosos, levando a deslocações generalizadas, apreensões de terras e ataques a comunidades cristãs".

No Corno de África, a guerra no Sudão está a desencadear uma das maiores crises de deslocações da história, segundo o relatório que denuncia que "os locais de culto são reutilizados para combate, os clérigos são detidos e são reportadas conversões forçadas".

De acordo com o documento, "na Somália, a morte é imposta por apostasia, e a Etiópia vê locais religiosos destruídos no meio de conflitos étnicos, obrigando os líderes religiosos a esconderem-se".

"Da mesma forma, em partes da África Subsaariana, incluindo o Burkina Faso, a Nigéria e a República Democrática do Congo, os líderes religiosos e as comunidades religiosas sofreram violência mortal e continuam a enfrentar sérias ameaças por parte do crime organizado e de milícias não estatais", acrescenta.

No período em análise, o relatório aponta "uma vaga de golpes de Estado e revisões constitucionais" na África Subsaariana com "consequências diretas na liberdade religiosa".

A violência religiosa é também citada nas repercussões das guerras civis no Corno de África, concretamente nos casos do Sudão, com 13 milhões de desalojados, conversões religiosas forçadas, detenções arbitrárias e ataques violentos.

A situação é considerada "crítica" na Somália, com a imposição da ´sharia` e proibição do culto cristão, seguindo-se o Quénia, descrito como "o país mais afetado pela violência ligada ao al-Shabaab".

A liberdade religiosa na Etiópia "continua precária", assim como na Eritreia, com "cristãos, testemunhas de Jeová e muçulmanos, incluindo menores e clérigos rotineiramente visados".

A Nigéria "assistiu a um aumento da violência com motivação religiosa entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024", com grupos armados como o Boko Haram, o Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP) e várias milícias a realizarem ataques em grande escala contra igrejas, aldeias e líderes religiosos".

"Nos estados de Plateau e Benue, milhares foram deslocados e centenas foram mortos, incluindo mais de 1.100 cristãos, entre eles 20 clérigos, em apenas um mês após a tomada de posse presidencial de 2023", concretiza.

Na África Central e na África Austral, a República Democrática do Congo "vive uma das mais graves e multifacetadas crises da África Subsariana" com grupos armados como as Forças Democráticas Aliadas (ADF), filiadas no autoproclamado Estado Islâmico, a competirem pelo controlo das áreas ricas em minerais".

"À medida que a violência aumenta e as comunidades religiosas perdem o acesso a espaços seguros e a proteções básicas, as condições para a liberdade religiosa no leste da República Democrática do Congo continuam a deteriorar-se, ameaçando a estabilidade geral em toda a região dos Grandes Lagos", lê-se no documento.

Os ataques terroristas são apontados como "a principal causa da deslocação em massa de milhões de pessoas na África Subsaariana", com o relatório a alertar que, "por vezes, aqueles que procuram asilo por motivos religiosos tornam-se vítimas de intolerância e discriminação nos países de acolhimento".

No documento relata-se ainda que há pedidos de asilo "frequentemente rejeitados (...) , o que leva muitas vezes ao regresso ao país de origem, o que pode significar a pena de morte para estas pessoas".

 

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