Fabricantes chineses de chips atualizam equipamento da ASML para contornar sanções
Fabricantes chineses de semicondutores estão a atualizar equipamentos avançados de litografia da holandesa ASML para contornar os controlos de exportação impostos por EUA e Países Baixos, avançou hoje o jornal britânico Financial Times.
A operação visa acelerar a produção de chips usados em sistemas de inteligência artificial (IA), que integra a disputa em curso entre China e EUA pelo domínio das tecnologias do futuro.
Segundo fontes citadas pela publicação, fábricas chinesas que produzem `chips` para telemóveis e aplicações de IA estão a melhorar o desempenho de máquinas de litografia ultravioleta profunda (DUV) - nomeadamente o modelo Twinscan NXT:1980i - através da aquisição de componentes no mercado secundário, incluindo plataformas mecânicas ("stages"), lentes e sensores de maior precisão.
Essas atualizações têm permitido às fábricas aumentar a produção de `chips` de sete nanómetros, apesar das restrições que impedem a ASML de fornecer à China as suas máquinas DUV mais recentes ou qualquer equipamento de litografia ultravioleta extrema (EUV), essencial para processos mais avançados.
Empresas como a Semiconductor Manufacturing International Corporation (SMIC) e a Huawei são conhecidas por usar máquinas DUV antigas da ASML para produzir `chips` de sete nanómetros, embora não esteja confirmado se também receberam atualizações de componentes.
As melhorias, realizadas com assistência de empresas terceiras fora do controlo direto da ASML, permitem às fabricantes mitigar os custos adicionais e as perdas de rendimento associadas ao processo de "multi-patterning" -- exposição múltipla do `wafer` para compensar a falta de tecnologia EUV --, comum nas linhas de produção chinesas mais avançadas.
A ASML confirmou que "cumpre rigorosamente todas as leis e regulamentos aplicáveis" e negou fornecer atualizações que aumentem o desempenho dos sistemas para além do permitido. Atualmente, a empresa está impedida de melhorar a precisão ("overlay") ou a velocidade ("throughput") das máquinas DUV em mais de 1%.
Apesar disso, dados revelam que a ASML exportou várias unidades dos modelos mais recentes - 2050i e 2100i - para a China antes de o Governo dos Países Baixos revogar a respetiva licença em setembro de 2024. A procura por equipamentos disparou antes das restrições, levando a ASML a faturar 10,2 mil milhões de euros na China em 2024, o equivalente a 36% da receita global, face a 7,2 mil milhões de euros no ano anterior.
A administração norte-americana, através do Bureau of Industry and Security (BIS), tem investigado o apoio da ASML às fabricantes chinesas e pondera apertar ainda mais as regras, embora não esteja claro se avançará com novas medidas após o sinal de trégua na guerra comercial entre Washington e Pequim.
Analistas da empresa de análise tecnológica TechInsights afirmaram este mês que a SMIC continua a ultrapassar os limites do processo de sete nanómetros com técnicas avançadas de litografia DUV. Já o novo processador Kirin 9030 da Huawei revela o processo de fabrico mais sofisticado alcançado até agora por fábricas chinesas.
"A indústria chinesa conseguiu feitos impressionantes sem acesso total ao equipamento de ponta usado por empresas como a TSMC ou a Samsung", disse Dan Kim, diretor de estratégia da TechInsights.