Frances Haugen trabalhou para o gigante da tecnologia e diz ter ficado alarmada quando se apercebeu que as políticas da empresa estavam dirigidas a otimizar o lucro em detrimento do bem público. A colaboradora reuniu documentação que diz provar que o algoritmo da rede social está a servir conteúdos que incitam a violência, ódio e desinformação.
"O Facebook percebeu que, se mudarem o algoritmo para ser mais seguro, as pessoas passarão menos tempo no site, clicarão em menos anúncios e [o Facebook] ganhará menos dinheiro", disse Frances Haugen ao programa da CBS 60 Minutes.
Lucro vs bem público
Por ver o lucro reduzir, a empresa que gere o Facebook, "repetidamente, escolheu otimizar a rede a favor dos seus próprios interesses, para ganhar mais dinheiro", afirmou Haugen.
Acrescentou que "havia conflitos de interesse entre o que era bom para o público e o que era bom para o Facebook".
Mas cedo sentiu que o Facebook não estava disposto a alterar o funcionamento, mesmo tendo as ferramentas. Afirmou no entanto que "ninguém no Facebook é malévolo". "Mark Zuckerberg nunca se propôs a fazer uma plataforma odiosa".
Heugen disse que a empresa "deliberadamente desprezou o conteúdo político no feed de notícias", o que prova que, se o Facebook quiser, pode atenuar conteúdos que promovam o ódio, violência e a desinformação.
Mas sem assuntos polémicos havia menos interação dos utilizadores, menos publicidade associada a circular, logo menos lucro.
A ex-colaboradora entende que as escolhas da empresa foram graves, nomeadamente quando mudou as políticas de conteúdo por várias semanas em torno das eleições de 2020 nos Estados Unidos.
A plataforma regressou aos algoritmos antigos que "valorizam o engajamento acima de tudo", um movimento que, segundo Haugen, terá contribuído para o motim de 6 de janeiro no Capitólio.
Reações
"As redes sociais tiveram um grande impacto na sociedade nos últimos anos e o Facebook costuma ser um espaço onde grande parte desse debate se desenrola", escreveu Nick Clegg, vice-presidente de políticas e relações públicas da empresa aos funcionários do Facebook, num memorando na sexta-feira.
Clegg, citado na publicação do The Guardian, diz que "as evidências que existem simplesmente não apoiam a ideia de que o Facebook, ou as plataformas digitais em geral, são a principal causa da polarização".
O porta-voz do Facebook, Andy Stone, também rebateu as acusações, dizendo que "sugerir que encorajamos um conteúdo maléfico e não fazemos nada não é verdade".
Denúncia
Frances Haugen decidiu reunir um conjunto de provas para denunciar a plataforma Facebook.
Partilhou os documentos com o Wall Street Journal e autoridades policiais, dias antes de se apresentar como testemunha perante o Congresso dos EUA, para falar sobre esses estudos e outras informações associadas à gestão de conteúdos.