Mundo
FBI debaixo de fogo por não ter investigado Tamerlan Tsernaev
A polícia Federal norte-americana interrogou em 2011 o mais velho dos irmãos Tsernaev, acusados de serem responsáveis pelos atentados de Boston. A entrevista decorreu a pedido das autoridades russas anti-terroristas, que suspeitavam Tamerlan, de 26 anos, de ter ligações ao islamismo radical. O FBI afirma que investigou igualmente os Tsernaev, sem encontrar indícios que confirmassem a suspeita russa. Mas a ação da agência de investigação federal norte-americana está agora a ser posta em causa.
"Ele foi entrevistado pelo FBI em 2011 e deixado ir. Regressou à Rússia para visitar os pais e passou lá seis meses," recordou na CNN o congressista republicano com a pasta da Segurança Interna, Michael McCaul, sublinhando que, ao regressar aos Estados Unidos em julho de 2012, Tamerlan de imediato publicou na internet vídeos islâmicos.
"Obviamente alguma coisa aconteceu nesses seis meses. Nalgum momento ele radicalizou-se," considerou McCaul, exigindo saber porque é que as ações de Tamerlan não fizeram disparar alarmes no FBI.
Tamerlan Tsarnaev e o irmão, Dzhokhar, de 19 anos, vivem há largos anos nos Estados Unidos, a princípio com a família e, nos últimos anos, sozinhos. De origem chechena, só Tamerlan tinha cadastro, por ser acusado de ter batido na namorada. O episódio atrasou a atribuição de passaporte americano, que o irmão já detém.
Suspeitos dos atentados
Tamerlan terá sido o líder nos atentados da maratona de Boston, há precisamente uma semana. Ele e o irmão são acusados pelas autoridades americanas de terem largado duas mochilas com bombas artesanais junto à meta da maratona, na segunda-feira passada.
Imagens captadas em vídeos e publicadas nos media após serem divulgadas pela polícia, mostram os dois irmãos na zona, carregando mochilas. A polícia garante ter outros vídeos em que os irmãos largam as mochilas e se afastam após as explosões.
Os dois acabaram cercados pela polícia num bairro de Boston, quinta-feira. As autoridades afirmam que ambos possuíam grande poder de fogo e mais bombas artesanais e acreditam que os irmãos estavam a planear mais ataques. Tamerlan morreu no tiroteio de quinta-feira ao qual Dzhokhar, apesar de gravemente ferido, conseguiu escapar.
Foi capturado sexta-feira após uma das mais intensas caças ao homem nos Estados Unidos que durante várias horas praticamente paralisou Boston. O mais novo dos irmãos Tsarnaev está internado, alegadamente ferido na garganta e impossibilitado de falar. A polícia espera que um interrogatório por escrito esclareça as razões que levaram aos atentados.
Contradições do FBI
As ações e declarações do FBI em todo este caso estão a causar perplexidade. Parecem contradizer-se e não se percebe até que ponto Tamerlan foi investigado ou sequer quantas vezes os agentes falaram com ele.
Na sexta-feira, a polícia federal norte-americana disse que só nesse dia tinha sabido quem eram os suspeitos dos atentados de Boston, apesar das fotografias dos dois irmãos estarem a circular deste quarta-feira, com pedidos de informação sobre eles ao público, fazendo concluir que, apesar de ter sido interrogado e apontado pelas autoridades russas, a imagem de Tamerlan não estava incluída em nenhuma base de dados de suspeitos islâmicos.
De acordo com a mãe dos rapazes, Tamerlan telefonou-lhe na segunda-feira, contando ter sido contactado pelo FBI após os atentados. Disseram-lhe que era considerado suspeito e que deveria apresentar-se para ser interrogado. Zubeidat Tsarnaev garante que o filho recusou.
"Ele disse-lhes, "suspeitam de mim porquê? Isso é um problema vosso e se precisam de mim deviam vir ter comigo"." Tamerlan acrescentou que ia levar o irmão à universidade e desligou.
O porta-voz do FBI, Michael Kortan, afirma por seu lado que o único contacto da agência de investigação federal com Tamerlan foi na entrevista de 2011, conforme as declarações feitas sexta-feira passada.
A ser verdadeiro o telefonema relatado por Zubeidat aos media americanos, as ações do FBI voltam a causar estranheza, para além das "falhas" no acompanhamento da alegada radicalização de Tamerlan, suspeitada pelos russos.
Zubeidat afirma ainda que o filho foi interrogado no aeroporto de Nova Iorque, quando regressou aos Estados Unidos, em julho de 2012. "Ele disse ao telefone "imagina, mamã, fizeram perguntas interessantes como seu eu fosse assim um homem estranho e assustador: onde é que foi? Com quem esteve?", recorda a mãe dos suspeitos.
O boxeur rotineiro
Outro dado estranho são as memórias que aqueles que conheceram os dois irmãos revelam sobre as suas personalidades, que não parecem indicar traços de radicalismo. Ambos eram "normais" e apenas Tamerlan reconhecia publicamente, numa entrevista sobre as suas ambições como boxeur, "não ter um único amigo americano", já que "não os entendia".
Um brasileiro, treinador no ginásio frequentado por Tamerlan, lembra-o ainda como alguém de rotinas. "Quando começava a bater no saco, entrava em transe" afirma Carlos Neto, treinador de Jiu-jitsu, ao brasileiro Fantástico. De acordo com Neto, Tamerlan entrava, colocava as luvas, batia no saco meia-hora, trocava de roupa e saía. Aparentemente, sem falar com ninguém. "Todos sabíamos que ele era assim", afirma Neto.
Este será um traço de personalidade de Tamerlan a indicar uma natureza possivelmente mais rancorosa do que reservada e que poderá estar por detrás dos atentados da maratona.
"Normal"
Já o irmão mais novo, Dzhokahr, nos dias a seguir às explosões da maratona, fez vida normal, foi à universidade e participou mesmo numa festa na quarta-feira à noite.
O único nervosismo que aparentou é reportado também ao Fantástico por um mecânico de origem brasileira que mora no mesmo bairro dos irmãos. Gilberto Júnior considera o mais novo dos Tsernaev um adolescente normal "que gosta de carro, gosta de futebol, gosta de mulher" e que sonhava visitar o Brasil e conhecer Ronaldinho.
Mas na terça-feira, o simpático e relaxado Dzhokhar apareceu nervoso na oficina onde tinha deixado o carro duas semanas antes. "Eu preciso da chave agora, eu tenho que ir agora, eu tenho que ir agora. Eu dei a chave pra ele e em cinco minutos ele saiu", recorda Júnior.
Inocentes ou culpados?
Na quinta-feira seguinte, os dois irmãos foram capturados, após um novo surto de violência ainda por explicar e no qual perdeu a vida um guarda do campus do Instituto de Tecnologia de Massachussets, MIT. Foi esse novo episódio que levou à perseguição policial que culminou na morte de Tamerlan e na captura, vivo, de Dzhokhar.
De acordo com a mãe dos dois suspeitos, Tamerlan terá telefonado na altura para a sua mulher, para lhe dizer que estavam a ser perseguidos e alvejados. Terá sido esse o seu último contacto.
Longe, no Daguestão, os pais Tsarnaev acreditam que os filhos estão a ser falsamente acusados. A polícia garante contudo ter encontrado os irmãos na posse de um extenso arsenal que usaram contra as forças da ordem para evitar a captura.Visita "a dormir"
Entrevistado ao telefone por vários media norte-americanos, o pai de Tamerlan garante que, durante o tempo que passou no Daguestão, o filho passou a maior parte do tempo a dormir, "até às três da tarde", após o que saía para comer qualquer coisa e regressava poucas horas depois a casa para voltar para a cama. "Perguntei-lhe se ele tinha vindo cá para dormir", afirma.
Durante os seis meses que passou na Rússia em 2012, Tamerlan terá visitado, com o pai, a família que tem na Chechenia, "vários tios e tias", assim como uma irmã, casada numa família ligada às autoridades chechenas. O pai garante que nessas duas ou três visitas não houve espaço para contactos com grupos radicais.
Os grupos islâmicos chechenos têm negado igualmente quaisquer laços a Tamerlan. Um deles, o Emirado do Cáucaso, lembra mesmo que a sua luta é "contra a Rússia" e não contra os Estados Unidos, afastando-se de qualquer cumplicidade no sucedido na maratona de Boston.
"Obviamente alguma coisa aconteceu nesses seis meses. Nalgum momento ele radicalizou-se," considerou McCaul, exigindo saber porque é que as ações de Tamerlan não fizeram disparar alarmes no FBI.
Tamerlan Tsarnaev e o irmão, Dzhokhar, de 19 anos, vivem há largos anos nos Estados Unidos, a princípio com a família e, nos últimos anos, sozinhos. De origem chechena, só Tamerlan tinha cadastro, por ser acusado de ter batido na namorada. O episódio atrasou a atribuição de passaporte americano, que o irmão já detém.
Suspeitos dos atentados
Tamerlan terá sido o líder nos atentados da maratona de Boston, há precisamente uma semana. Ele e o irmão são acusados pelas autoridades americanas de terem largado duas mochilas com bombas artesanais junto à meta da maratona, na segunda-feira passada.
Imagens captadas em vídeos e publicadas nos media após serem divulgadas pela polícia, mostram os dois irmãos na zona, carregando mochilas. A polícia garante ter outros vídeos em que os irmãos largam as mochilas e se afastam após as explosões.
Os dois acabaram cercados pela polícia num bairro de Boston, quinta-feira. As autoridades afirmam que ambos possuíam grande poder de fogo e mais bombas artesanais e acreditam que os irmãos estavam a planear mais ataques. Tamerlan morreu no tiroteio de quinta-feira ao qual Dzhokhar, apesar de gravemente ferido, conseguiu escapar.
Foi capturado sexta-feira após uma das mais intensas caças ao homem nos Estados Unidos que durante várias horas praticamente paralisou Boston. O mais novo dos irmãos Tsarnaev está internado, alegadamente ferido na garganta e impossibilitado de falar. A polícia espera que um interrogatório por escrito esclareça as razões que levaram aos atentados.
Contradições do FBI
As ações e declarações do FBI em todo este caso estão a causar perplexidade. Parecem contradizer-se e não se percebe até que ponto Tamerlan foi investigado ou sequer quantas vezes os agentes falaram com ele.
Na sexta-feira, a polícia federal norte-americana disse que só nesse dia tinha sabido quem eram os suspeitos dos atentados de Boston, apesar das fotografias dos dois irmãos estarem a circular deste quarta-feira, com pedidos de informação sobre eles ao público, fazendo concluir que, apesar de ter sido interrogado e apontado pelas autoridades russas, a imagem de Tamerlan não estava incluída em nenhuma base de dados de suspeitos islâmicos.
De acordo com a mãe dos rapazes, Tamerlan telefonou-lhe na segunda-feira, contando ter sido contactado pelo FBI após os atentados. Disseram-lhe que era considerado suspeito e que deveria apresentar-se para ser interrogado. Zubeidat Tsarnaev garante que o filho recusou.
"Ele disse-lhes, "suspeitam de mim porquê? Isso é um problema vosso e se precisam de mim deviam vir ter comigo"." Tamerlan acrescentou que ia levar o irmão à universidade e desligou.
O porta-voz do FBI, Michael Kortan, afirma por seu lado que o único contacto da agência de investigação federal com Tamerlan foi na entrevista de 2011, conforme as declarações feitas sexta-feira passada.
A ser verdadeiro o telefonema relatado por Zubeidat aos media americanos, as ações do FBI voltam a causar estranheza, para além das "falhas" no acompanhamento da alegada radicalização de Tamerlan, suspeitada pelos russos.
Zubeidat afirma ainda que o filho foi interrogado no aeroporto de Nova Iorque, quando regressou aos Estados Unidos, em julho de 2012. "Ele disse ao telefone "imagina, mamã, fizeram perguntas interessantes como seu eu fosse assim um homem estranho e assustador: onde é que foi? Com quem esteve?", recorda a mãe dos suspeitos.
O boxeur rotineiro
Outro dado estranho são as memórias que aqueles que conheceram os dois irmãos revelam sobre as suas personalidades, que não parecem indicar traços de radicalismo. Ambos eram "normais" e apenas Tamerlan reconhecia publicamente, numa entrevista sobre as suas ambições como boxeur, "não ter um único amigo americano", já que "não os entendia".
Um brasileiro, treinador no ginásio frequentado por Tamerlan, lembra-o ainda como alguém de rotinas. "Quando começava a bater no saco, entrava em transe" afirma Carlos Neto, treinador de Jiu-jitsu, ao brasileiro Fantástico. De acordo com Neto, Tamerlan entrava, colocava as luvas, batia no saco meia-hora, trocava de roupa e saía. Aparentemente, sem falar com ninguém. "Todos sabíamos que ele era assim", afirma Neto.
Este será um traço de personalidade de Tamerlan a indicar uma natureza possivelmente mais rancorosa do que reservada e que poderá estar por detrás dos atentados da maratona.
"Normal"
Já o irmão mais novo, Dzhokahr, nos dias a seguir às explosões da maratona, fez vida normal, foi à universidade e participou mesmo numa festa na quarta-feira à noite.
O único nervosismo que aparentou é reportado também ao Fantástico por um mecânico de origem brasileira que mora no mesmo bairro dos irmãos. Gilberto Júnior considera o mais novo dos Tsernaev um adolescente normal "que gosta de carro, gosta de futebol, gosta de mulher" e que sonhava visitar o Brasil e conhecer Ronaldinho.
Mas na terça-feira, o simpático e relaxado Dzhokhar apareceu nervoso na oficina onde tinha deixado o carro duas semanas antes. "Eu preciso da chave agora, eu tenho que ir agora, eu tenho que ir agora. Eu dei a chave pra ele e em cinco minutos ele saiu", recorda Júnior.
Inocentes ou culpados?
Na quinta-feira seguinte, os dois irmãos foram capturados, após um novo surto de violência ainda por explicar e no qual perdeu a vida um guarda do campus do Instituto de Tecnologia de Massachussets, MIT. Foi esse novo episódio que levou à perseguição policial que culminou na morte de Tamerlan e na captura, vivo, de Dzhokhar.
De acordo com a mãe dos dois suspeitos, Tamerlan terá telefonado na altura para a sua mulher, para lhe dizer que estavam a ser perseguidos e alvejados. Terá sido esse o seu último contacto.
Longe, no Daguestão, os pais Tsarnaev acreditam que os filhos estão a ser falsamente acusados. A polícia garante contudo ter encontrado os irmãos na posse de um extenso arsenal que usaram contra as forças da ordem para evitar a captura.Visita "a dormir"
Entrevistado ao telefone por vários media norte-americanos, o pai de Tamerlan garante que, durante o tempo que passou no Daguestão, o filho passou a maior parte do tempo a dormir, "até às três da tarde", após o que saía para comer qualquer coisa e regressava poucas horas depois a casa para voltar para a cama. "Perguntei-lhe se ele tinha vindo cá para dormir", afirma.
Durante os seis meses que passou na Rússia em 2012, Tamerlan terá visitado, com o pai, a família que tem na Chechenia, "vários tios e tias", assim como uma irmã, casada numa família ligada às autoridades chechenas. O pai garante que nessas duas ou três visitas não houve espaço para contactos com grupos radicais.
Os grupos islâmicos chechenos têm negado igualmente quaisquer laços a Tamerlan. Um deles, o Emirado do Cáucaso, lembra mesmo que a sua luta é "contra a Rússia" e não contra os Estados Unidos, afastando-se de qualquer cumplicidade no sucedido na maratona de Boston.