Ficheiros do KGB revelam métodos soviéticos de repressão após ocupação da Estónia

Novos ficheiros do KGB revelam como o primeiro presidente da Estónia, Konstantin Päts, o chefe militar, general Johan Laidoner - bem como as famílias - suportaram a vigilância soviética e a prisão.

Um Olhar Europeu com ERR /
O General Johan Laidoner, o Presidente Konstantin Päts e o Primeiro-Ministro Kaarel Eenpalu na varanda do Palácio de Kadriorg, em 1939. Arquivos Nacionais da Estónia


Chegaram aos Arquivos Nacionais da Estónia três caixas de ficheiros do KGB, contendo registos de vigilância e interrogatórios do Presidente Konstantin Päts, o primeiro Presidente da Estónia independente, do Comandante-em-Chefe, General Johan Laidoner, e dos colaboradores mais próximos.

Os documentos, na maioria de 1940 a 1952, revelam o que Päts, Laidoner e as famílias tiveram de suportar após a tomada da Estónia pelos soviéticos a partir de 1940. A coleção inclui protocolos de interrogatório pormenorizados e extensos ficheiros de vigilância.

"No final dos anos 80, estes materiais estavam armazenados em milhares de ficheiros no Comité de Segurança do Estado (KGB) da RSS da Estónia", explicou o historiador Küllo Arjakas.

Na altura, foram utilizados, segundo a expressão da época, para a "reabilitação das vítimas das ações de repressão em massa estalinistas".

Durante muito tempo, pensou-se que Vladimir Pool, antigo vice-presidente do KGB da RSS da Estónia e autor de livros sobre Päts e Laidoner, apenas tinha utilizado cópias e extratos dos ficheiros.

Na realidade, guardou alguns documentos originais para si próprio, enviando cópias para a Rússia
e, em 1993, Pool recuperou o ficheiro pessoal de Laidoner na Prisão Central de Vladimir, na Rússia.

Entre os dossiers recém-chegados, o historiador destacou uma cifra e breves notas que Laidoner registou todos os dias enquanto esteve preso em 1952.

Só faltam dois dossiers na coleção dos Arquivos Nacionais. Foram enviados da RSS da Estónia para Matty Päts - não o jovem neto do Presidente, Matti, mas o seu filho, Viktor, cuja alcunha era Matty.

"Estavam codificadas, mas os oficiais soviéticos do NKVD em Ufa conseguiram decifrá-las", disse Arjakas. O historiador explicou que as cartas descreviam a vida na RSS da Estónia.Principais dirigentes estónios
Konstantin Päts (1874-1956) foi um importante estadista e cinco vezes primeiro-ministro que liderou o país como primeiro presidente da Estónia de 1938 até à ocupação soviética em 1940. Depois de ter sido forçado a demitir-se, foi preso e deportado para a URSS, onde morreu em 1956.

O General Johan Laidoner (1884-1953) foi comandante-chefe das Forças Armadas da Estónia durante a Guerra da Independência e foi uma figura importante na política estónia do período entre guerras. Foi reconduzido no cargo de comandante-chefe durante a tentativa de golpe comunista de 1924 e novamente de 1934 a 1940.

Após a ocupação soviética, Laidoner foi preso e igualmente deportado para a URSS, onde morreu na prisão em 1953.

Os últimos ficheiros do KGB que chegaram foram organizados e estarão disponíveis digitalmente para o público a partir do próximo ano, informaram os Arquivos Nacionais da Estónia.

Hanneli Rudi / 11 dezembro 2025 10:53 GMT

Edição e Tradução / Joana Bénard da Costa - RTP
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