Filha de herói da independência da RDCongo pede ao rei belga que devolva "relíquias" ao país

Kinshasa, 21 jul 2020 (Lusa) -- A filha do herói da independência da República do Congo, Patrice Emery Lumumba, pediu ao rei belga que devolva as "relíquias" ao país, quase 60 anos depois do assassinato do líder independentista e primeiro-ministro congolês.

Lusa /

"Nós, filhos de Lumumba, nós, a família de Lumumba, pedimos o regresso justo das relíquias de Patrice Emery Lumumba à terra dos seus antepassados", escreveu Juliana Amato Lumumba, numa carta endereçada ao rei Filipe dos belgas.

A carta, citada hoje pela agência France-Presse, é datada de 30 de junho, dia em que se assinalou a independência da RDCongo, uma antiga colónia belga.

Na ocasião, o rei Filipe manifestou o seu "mais profundo pesar" por atos de violência e crueldade durante o período colonial.

Na missiva hoje noticiada pela AFP, a filha de Patrice Emery Lumumba refere que o independentista permanece um "herói sem túmulo".

Primeiro-ministro entre junho e setembro de 1960, Patrice Emery Lumumba foi afastado, preso e entregue a separatistas catangueses, seus inimigos, que acabariam por assassiná-lo em janeiro de 1961, com o apoio de alguns belgas.

Em 2000, um dos belgas envolvido, o comissário da polícia Gérard Soete, disse à AFP que mutilou e dissolveu em ácido os corpos de Lumumba e de dois dos seus seguidores, Joseph Okito e Maurice Mpolo.

Num documentário transmitido no canal televisivo alemão ARD, durante o mesmo ano, Soete afirmou ter guardado os dentes de Lumumba, mostrando-os.

Em 2016, o sociólogo belga Ludo De Witte apresentou uma queixa contra a filha de Soete, acusando-a de ter um dos dentes do antigo primeiro-ministro congolês, sendo que esta também o tinha mostrado numa entrevista a um jornal.

Na carta agora citada pela AFP, a filha de Lumumba criticou as "declarações abjetas, feitas na Bélgica, sobre a detenção de alguns dos restos mortais" do seu pai.

Em 2001, após uma comissão de inquérito no parlamento, a Bélgica reconheceu a sua "responsabilidade moral" pela morte de Lumumba.

Para além do Congo (depois Zaire a agora RDCongo), a Bélgica foi ainda potência colonial do Ruanda-Urundi, de cuja independência, em 1962, resultaram o Ruanda e o Burundi.

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