Finlândia "prepara-se para o pior". Rússia a expandir presença militar junto à fronteira

por Cristina Sambado - RTP
Leonhard Foeger - Reuters

A Finlândia espera que a Rússia aumente ainda mais as tropas ao longo da fronteira comum quando a guerra na Ucrânia terminar, depois de ter sido revelado que Moscovo reforçou as bases militares perto da fronteira da NATO.

O major-general Sami Nurmi, chefe de estratégia das forças de defesa finlandesas, afirmou que os militares estão a seguir as manobras de Moscovo “muito de perto” e que a sua função, como parte da aliança da NATO, é “preparar-se para o pior”.

Imagens de satélite mostram uma expansão das infraestruturas militares na zona da fronteira finlandesa, incluindo filas de tendas, veículos militares, renovação de abrigos de caças e construção de uma base de helicópteros anteriormente não utilizada.A guarda fronteiriça finlandesa anunciou, na quarta-feira, ter concluído os primeiros 35 quilómetros de uma vedação de 200 quilómetros prevista para a fronteira oriental com a Rússia, que está fechada há mais de um ano, depois de Helsínquia ter acusado Moscovo de encaminhar os requerentes de asilo para a Finlândia numa “operação híbrida”.

“Estão a mudar as estruturas e estamos a assistir a preparativos moderados no que diz respeito à construção de infraestruturas perto das nossas fronteiras, o que significa que, assim que a guerra na Ucrânia terminar, começarão a trazer de volta as forças que têm estado a combater na Ucrânia, especialmente as forças terrestres”, afirmou o chefe de estratégia das forças de defesa finlandesas.

Apesar de esta situação não ser inesperada, uma vez que a Finlândia aderiu à NATO a uma velocidade recorde em 2023, após a invasão total da Ucrânia pela Rússia, Sami Nurmi frisou que estavam a acompanhar os preparativos “de muito perto”.

"Estão a fazê-lo por fases. Diria que ainda se trata de números moderados. Não se trata de grandes construções, mas em determinados locais estão a construir novas infraestruturas e a preparar-se, trazendo novos equipamentos", acrescentou ao jornal britânico The Guardian.

Para Sami Nurmi, "também é preciso avaliar se estão a preparar-se para enviar mais tropas para a Ucrânia ou se estão a preparar-se para reforçar as suas forças perto da nossa fronteira. Mas penso que estão a fazer as duas coisas".

Em resposta à mudança de atividades da Rússia, Donald Trump disse aos jornalistas na terça-feira que “não estava nada preocupado com isso”, acrescentando que a Finlândia e a Noruega “vão estar muito seguras”.

Fazendo eco do sentimento do presidente norte-americano, Sami Nurmi realçou que “não existe qualquer ameaça militar imediata contra a Finlândia ou a NATO vinda desta direção”.

O que aconteceu logo após o ataque ucraniano foi que nos candidatámos à adesão à NATO e, quando fomos aceites, a Rússia anunciou que iria começar a mudar a sua postura militar do outro lado da fronteira.

Os cidadãos finlandeses habituaram-se à ameaça iminente do seu vizinho oriental, mas centenas de pessoas continuam a inscrever-se em cursos de formação para se prepararem para situações de emergência.

A Associação Nacional de Preparação para Emergências das Mulheres Finlandesas (conhecida como Nasta) considera que o interesse nos cursos de treinamento ainda é alto desde que surgiu em 2022, com mais de 800 mulheres inscritas na formação primavera.

Suvi Aksela, diretora de comunicação e organização da Nasta, considera que a construção de fronteiras não é um grande ponto de discussão em Helsínquia. “Não é muito alarmante para nós”, acrescentou.

“Estamos habituados a ouvir coisas da Rússia, como todas estas ameaças, e sabíamos que quando aderíssemos à NATO iam reforçar a presença na fronteira, e provavelmente vão fazê-lo, só porque é a Rússia”.
Vedação de 35 quilómetros na fronteira está concluída
A Finlândia concluiu os primeiros 35 quilómetros de uma vedação de 4,5 metros de altura que está a construir na sua fronteira oriental com a Rússia para impedir que os migrantes atravessem a região selvagem, revelou a Guarda de Fronteiras finlandesa na quarta-feira.

A Finlândia começou a construir a vedação, que acabará por cobrir 200 quilómetros dos 1.344 quilómetros de comprimento total da fronteira, no ano passado, em resposta à migração através da Rússia pela fronteira em 2023, que acredita ter sido deliberadamente orquestrada por Moscovo.A vedação é constituída por grades metálicas de 3,5 metros de altura encimadas por um rolo de arame farpado de um metro de altura e está equipada com câmaras, sensores, altifalantes e luzes e estará concluída até ao final de 2026.

O principal objetivo da vedação é controlar uma grande massa de pessoas que tentam entrar da Rússia para a Finlândia”, afirmou à Reuters o comandante adjunto do Distrito da Guarda Fronteiriça do Sudeste da Finlândia, Antti Virta.

Em Nuijamaa, perto de um dos pontos de passagem fronteiriços fechados, a cena é tranquila, com apenas o som do canto dos pássaros a ser ouvido em ambos os lados da nova vedação na quarta-feira. Mas a Finlândia tem sido alvo de críticas, e não só da Rússia, por causa do encerramento da fronteira e da construção da vedação.

Após décadas de relações pacíficas com a Rússia, a Finlândia aderiu à aliança militar da NATO há dois anos, em resposta à invasão russa da Ucrânia, o que levou Moscovo a ameaçar Helsínquia com retaliações.

No mesmo ano - em 2023 - cerca de 1.300 migrantes de países terceiros, como a Síria e a Somália, chegaram através da Rússia à fronteira finlandesa para pedir asilo, até que a Finlândia fechou indefinidamente os oito pontos de passagem de passageiros para a Rússia para pôr fim ao fenómeno.

A Rússia negou ter orquestrado os fluxos migratórios. Na altura, o governo russo afirmou lamentar profundamente a decisão da Finlândia de encerrar os pontos de passagem na sua fronteira, afirmando que tal refletia a adoção de uma posição anti-russa por parte de Helsínquia.Praticamente nenhum migrante chegou depois de a Finlândia ter fechado a fronteira para passageiros no final de 2023, mas a Guarda de Fronteiras defendeu a decisão de construir a cerca.

A barreira fronteiriça é absolutamente necessária para manter a segurança da fronteira”, frisou o chefe de operações Samuel Siljanen.

“Do ponto de vista da Guarda de Fronteiras, melhora a nossa capacidade de efetuar a vigilância, de agir se houver algum tipo de perturbação ou um incidente na fronteira”, disse, acrescentando que a vedação era necessária para combater a imigração orquestrada.

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos pediu à Finlândia que justificasse o encerramento da fronteira por tempo indeterminado.


O Comissário para os Direitos Humanos do Conselho da Europa, Michael O'Flaherty, advertiu no ano passado que as restrições temporárias impostas por Helsínquia aos pedidos de asilo “violariam as obrigações internacionais, incluindo a proibição da repulsão e da expulsão coletiva”.
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