FNLA apela ao MPLA para não interferir na vida interna do partido

por Agência LUSA

A direcção da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) apelou hoje ao MPLA, partido no poder, para que se abstenha de "interferir, instigar e alimentar" a ala fraccionista, que acusa de pretender tomar o poder "a qualquer preço".

O apelo da direcção deste partido histórico angolano, que consta de um comunicado de imprensa distribuído em Luanda, é também dirigido ao governo, ao Tribunal Supremo, ao Banco de Poupança e Crédito (onde se encontram as contas do partido) e aos órgãos de comunicação social.

No comunicado, a direcção da FNLA recorda que as divisões internas começaram quando a facção de Lucas Ngonda reclamou a liderança do partido num congresso que nunca foi reconhecido por Holden Roberto, líder histórico da FNLA.

Apesar do Tribunal Supremo continuar a reconhecer Holden Roberto como presidente da FNLA, o governo angolano, liderado pelo MPLA, decidiu cancelar as contas do partido, onde são depositados os subsídios estatais, atribuindo-as em 1997 à facção de Lucas Ngonda.

"Durante sete anos, o governo permitiu o reconhecimento promíscuo de dois partidos, um reconhecido pelo poder judicial (liderado por Holden Roberto) e outro pelo poder político (dirigido por Lucas Ngonda)", refere o comunicado.

Nesse sentido, denuncia a "situação caricata de um partido com dois presidentes, a mesma bandeira, o mesmo hino, os mesmos carimbos, mas com duas agendas".

Esta situação apenas se resolveu em Abril de 2004, quando Holden Roberto e Lucas Ngonda assinaram um acordo de reunificação do partido, viabilizando a realização de um congresso da reconciliação interna, que decorreu em Outubro de 2004.

Os problemas acabaram, no entanto, por se agravar durante o congresso, com as negociações entre as duas partes a caírem num impasse.

Para ultrapassar o problema, o poder interno foi dividido entre as duas facções, tendo sido decidido que Holden Roberto se manteria na liderança por um período de 10 meses, após o que seria realizado um novo congresso e o líder histórico da FNLA se afastaria da vida política.

A realização deste congresso, que deveria ter ocorrido em Agosto, tem vindo, no entanto, a ser atrasada devido às divergências entre as duas facções quanto à forma como devem ser indicados os delegados.

A facção de Holden Roberto defende a eleição dos delegados em assembleias locais, enquanto a ala de Lucas Ngonda pretende que os delegados sejam indicados de forma paritária por cada uma das facções em que o partido está dividido.

Nas últimas semanas, as divergências acentuaram-se e culminaram com a suspensão do secretário-geral, Francisco Mendes, afecto à facção de Lucas Ngonda, que respondeu acusando Holden Roberto de estar a adiar o congresso, o que implicaria a perda de legitimidade da sua liderança por não estar a respeitar os acordos assumidos em Outubro do ano passado.

A troca de acusações culminou no último fim-de-semana com uma reunião do Bureau Político da FNLA, principal órgão entre congressos, que reafirmou o seu apoio a Holden Roberto e convocou para meados de Outubro uma reunião do Comité Central que deverá marcar a data do próximo congresso.

"A direcção da FNLA mostra-se determinada em realizar o congresso e desafia os fraccionistas a aceitarem o repto de participarem na eleição dos delegados. Quem diz que tem força, que a mostre no ringue e não na secretaria", refere o comunicado hoje distribuído em Luanda.

A liderança de Holden Roberto acusa Lucas Ngonda de ter "um medo assustador das eleições", reafirmando a sua intenção de realizar "um congresso democrático, com a eleição dos delegados".

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