Fogo tornou-se em nova atracção de Camden Town

** Bruno Manteigas, da Agência Lusa ***

© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

Londres, 10 Fev (Lusa) - O incêndio de sábado em Camden Town transformou-se no fim-de-semana em mais uma atracção do conhecido bairro londrino, mas perdeu um dos seus ícones, o bar Hawley Arms, frequentado por muitos artistas britânicos.

Hoje de manhã o "pub" ainda fumegava, não do tabaco dos seus fregueses (aliás, proibido nos espaços públicos fechados) mas das chamas que destruiram a maior parte do bar na noite anterior.

Os bombeiros continuavam hoje as operações de rescaldo na zona, depois de controlado um incêndio de grandes proporções que terá começado pelas 19:20 horas de sábado (mesma hora em Lisboa).

Os cantores Amy Winehouse e Ozzy Osborne, a modelo Katy Moss, a estilista Sadie Frost e o comediante Noel Fielding são alguns dos artistas famosos considerados clientes habituais do Hawley Arms, remodelado há alguns anos.

No entanto, não era o pub, mas o estado dos mercados e das lojas que mais inquietava as dezenas de turistas e frequentadores de Camden Town que acorreram ao bairro desde manhã cedo para ver com os próprios olhos os estragos.

"Vi as chamas na televisão e vim ver como ficou", disse à agência Lusa Kristin, uma habitante de Londres originária da Noruega, que costuma visitar o bairro "com regularidade" para comprar roupa, e que confessou estar "preocupada" com o seu destino.

"Não gostava que fechasse, é aqui que compro a maior parte da minha roupa e onde encontro amigos no fim-de-semana", explicou.

Um grupo de turistas franceses decidiu também, carregados de malas, vir ao bairro antes de regressar ao seu país, mas ficaram "decepcionados" por algumas das lojas estarem encerradas.

"Ainda queríamos comprar algumas coisas", justificou Émilie.

Poiso habitual de punks, góticos, metaleiros e rockers, o bairro é uma zonas mais coloridas e eclécticas de Londres, com jovens de cabelo vermelho, casacos com picos e botas da tropa que estão imortalizadas nos cartões postais da cidade.

O ambiente é considerado tão relaxado que aqueles que ali se encontravam na noite de sábado quando começou o incêndio continuaram "calmamente a beber as suas cervejas e a tirar fotografias com os telemóveis", conta uma testemunha à Lusa.

Louie, um lojista num dos mercados de Camden entretanto encerrados, estava com alguns amigos num bar quando tudo começou e ficou impressionado com as "chamas acima dos dez metros de altura e o fumo preto".

Mas nem o facto de as autoridades terem fechado as ruas e bares circundantes afastou as pessoas, comenta, elogiando a rapidez com que os bombeiros circunscreveram o fogo.

Hoje de manhã Louie, regressou para tentar obter informação das autoridades sobre se tinha sido lesado pelo fogo e como poderia recuperar a sua mercadoria de objectos de pele no mercado do Canal, mas sem sucesso.

Marisa Cid, outra lojista do mesmo mercado, aguardava igualmente notícias, preocupada com as peças de joalharia que aqui vende todos os fins-de-semana há cerca de 18 anos.

"Vou voltar segunda-feira, mas não sei quanto tempo vai ficar fechado", lamentou-se.

A agência Lusa procurou apurar se algum português teria sido afectado pelo incêndio, mas tal não foi possível, tendo alguns emigrantes considerado a hipótese improvável pois os cafés portugueses da zona estão afastados.

Fonte da secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas adiantou hoje que, "para já", não há registo de quaisquer danos materiais entre os portugueses radicados na capital inglesa.

Custódio Pais, emigrante no Reino Unido há 35 anos e proprietário de uma mercearia em Mornington Crescent, a algumas centenas de metros, admitiu que só se apercebeu do incêndio "esta manhã", mas não se espanta com o sucedido.

"São edifícios muito velhos e construídos com madeiras", refere o português, admitindo que, apesar de ser distante, é beneficiado pela animação de Camden Town.

"O mercado é muito antigo e atrai muitos estrangeiros que também passam por aqui", adianta.

Contudo, queixa-se do tráfico de droga que se realiza na zona durante a noite, e que cria insegurança, o que obviamente inquieta os comerciantes da região.

O bairro de Camden Town é frequentado essencialmente por uma clientela "alternativa" e na rua principal, Camden High Street, e nos vários mercados vendem-se casacos de pele, sapatos, t-shirts e inúmeros adereços difíceis de encontrar noutros lugares.

Estima-se que cerca de 300 mil pessoas visitem todos os fins-de-semana o bairro, considerado pelo guia Lonely Planet "a atracção turística gratuita mais popular" de Londres.

Felizmente para os lojistas e habitantes, o incêndio, entretanto controlado, não causou feridos e o local destruído está circunscrito a uma zona perto do canal Grand Union, tendo parte das ruas sido reabertas ao público.

Muitos comerciantes na rua e nos mercados de Camden mais afastados do local afectado preparavam-se por isso para reabrir hoje os seus negócios, satisfeitos por tirar partido do incêndio, a nova atracção de Camden, dizendo uma frase que se ouviu após os atentados terroristas de 2005: "Business as usual!" (negócio como sempre).


PUB