Fórum Social - Começam debates com forte participação do Governo venezuelano

O VI Fórum Social Mundial começou hoje a sua maratona anual de debates em plena "revolução boliviana" e com uma acentuada participação do Governo do presidente Hugo Chávez, que desperta tantas adesões como dúvidas entre os activistas.

Agência LUSA /

O que alguns classificam como "ingerência" do Governo venezuelano num fórum reservado aos movimentos sociais não consta do programa oficial, mas fala-se nos corredores de um encontro que parece afundar-se como nunca nas suas próprias contradições.

Segundo a Carta de Princípios, o Fórum Social é "um espaço plural e diversificado, não confessional, não governamental e não partidário, que articula de maneira descentralizada e articulada entidades e movimentos envolvidos em acções concretas para a construção de um mundo diferente".

O documento refere igualmente que a participação de governos e partidos políticos só é permitida através de convite e para alguma "actividade específica".

No entanto, em Caracas o "chavismo" está presente não só nas centenas de actividades propostas, como na própria organização do evento.

Fausto Torres, dirigente da organização Via Campesina, que agrupa pequenos agricultores de 140 países, mostrou-se surpreendido pela participação do Governo venezuelano, nada dissimulada, mas considerou que este Fórum tem "mais participação popular".

"No Brasil também participaram o Partido dos Trabalhadores do Governo de Lula, mas eram muito mais discretos", acrescentou.

O brasileiro Cândido Grzybowski, um dos fundadores do Fórum Social, admitiu também que este encontro está a ter um conteúdo muito "mais político", devido ao peculiar processo que vive a Venezuela.

Considerou também que o sexto Fórum decorre quando na América Latina se regista uma "agitação da esquerda", apesar de existirem muitas dúvidas pendentes.

"Em países como o Brasil, Argentina, Uruguai e Panamá há governos que se identificam com a esquerda, mas também estão a decepcionar as pessoas. Evo Morales ganhou na Bolívia, mas é uma incógnita", acrescentou.

Sobre a Venezuela, considerou que "Chavez segue a tradição do populismo de esquerda, com uma forte personalidade e sintonia com as massas, mas continua a faltar no país uma cultura política com partidos e movimentos sociais independentes e sólidos", afirmou Cândido Grzybowski.

O Fórum Social Mundial, este ano dividido em três fases - a primeira reunião em Bamako (Mali) e a última em Carachi (Paquistão)-, juntou em Caracas cerca de 70.000 activistas, que inauguraram terça- feira o encontro com uma marcha pela capital venezuelana.

O dia mais esperado pelos venezuelanos, que estão em maioria, e os curiosos pela "revolução boliviana" é sexta-feira, dia em que decorre o que é anunciado como uma "megaconferência do comandante Chávez".


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