França. Mulher agredida por "usar saia" na rua

por RTP
Kim Kyung Hoon - Reuters

A polícia francesa abriu esta semana uma investigação depois de uma mulher, de 22 anos, ter sido assediada e agredida “por usar saia” na rua. A denúncia recebeu “condenação absoluta” por parte do Governo francês, que considerou o incidente “gravíssimo” e inaceitável.

Em entrevista à rádio France Bleu Alsace, a estudante, identificada apenas como Elisabeth, de 22 anos, explicou que estava a regressar a casa, no dia 18 de setembro, quanto três homens a agrediram. “Um dos três homens disse olha para esta p**** de saia”, testemunhou a jovem de Estrasburgo.

De seguida, Elisabeth afirma que dois dos homens a imobilizaram com os braços, enquanto o terceiro a agredia, deixando-a com marcas visíveis no rosto. Os agressores acabaram por fugir.

À rádio francesa, a jovem afirma que cerca de 15 pessoas testemunharam a agressão, mas ninguém interveio. “Nem antes, nem durante, nem depois, nem agora. Nenhuma reação. Como se ninguém tivesse visto nada e nada acontecesse”, disse Elisabth. “Isto é o que mais me revolta nesta história”, acrescentou.

O Governo francês denunciou o incidente “gravíssimo” como inaceitável. “Os factos descritos são muito graves. Em França, devemos poder sair vestidos à rua como quisermos”, disse o porta-voz do Governo, Gabriel Attal. “Não podemos aceitar que hoje uma mulher se sinta em perigo, seja assediada, ameaçada ou espancada por causa de uma saia”, acrescentou.

Na quarta-feira, a secretária de Estado Marlène Schiappa dirigiu-se a Estrasburgo para debater a segurança das mulheres em público e defendeu que “a saia não é responsável pelo ataque e muito menos a mulher”.

“Uma mulher nunca é agredida porque está a usar uma saia. Uma mulher é agredida porque há pessoas que são misóginas, sexistas e violentas”, argumentou Schiappa. “Quando se é estudante e se tem de pensar na roupa que se deve vestir e na mensagem que ela passa, é uma pressão psicológica avassaladora”, acrescentou a ministra, apelando a que as pessoas chamem a polícia se testemunharem qualquer tipo de incidente de assédio na rua ou em espaços públicos.

Elisabeth cresceu em Estrasburgo e afirma que nunca sentiu um clima tão hostil em relação às mulheres jovens, com o assédio nas ruas a revelar-se uma “praga” quase diária. “Há sempre um comentário nas costas. Ele vai dizer ‘és boa’ e desaparece imediatamente. É sempre muito cobarde. Foi isso que percebi este verão, é o verão dos cobardes”, declarou a vítima da agressão.

A denúncia de Elisabeth surge após um outro testemunho, de duas mulheres que foram agredidas na cidade de Mulhouse, na quarta-feira, depois de um homem ter dito a uma delas que a saia era “muito curta”.
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