France Telecom. Administradores acusados de causar suicídios podem acabar na cadeia

por RTP
Louis-Pierre Wenès, o antigo vice-presidente da France Telecom Charles Platiau, Reuters

A France Telecom e os seus administradores tiveram de sentar-se no banco dos réus por assédio moral contra trabalhadores da empresa. As duas procuradoras do Ministério Público pedem um ano de prisão efectiva.

A France Telecom, que entretanto se chama "Orange" desde 2013, é acusada de estar na origem do suicídio de 19 pessoas, devido aos meios de pressão que usou sobre estas e outras quando decidiu levar a cabo um plano drástico de redução dos seus 100.000 postos de trabalho, com a eliminação de uma parte e a precarização do restante.

Segundo a Agência France Press, as duas procuradoras que tinham a seu cargo a acusação apontaram o dedo à empresa por ter posto em prática uma "política empresarial de desestabilização" dos trabalhadores. Uma delas, a procuradora Brigitte Pesquié, sublinhou que, neste processo, "o que é invulgar é o assédio [erigido em] estratégia numa das maiores empresas do país".

A outra procuradora, Françoise Benezech, afirmou por seu lado que "a obsessão da saída em três anos, de 2007 a 2010, de 22.000 assalariados e da mobilidade de 10.000 pessoas tornou-se o centro da actividade dos dirigentes da France Télécom". E prosseguiu, sublinhando que os administradores tinham consciência de estarem a degradar as condições de trabalho e procuraram deliberadamente essa desestabilização.

Num requisitório que foi apresentado ao longo de cinco horas, o Ministério Público pediu, além de uma multa quase simbólica de 75.000 euros, uma pena de prisão efectiva de um ano para os administradores de então, incluindo o antigo presidente da France Telecom, Didier Lombard, o seu lugar-tenente, Louis-Pierre Wenès, e o antigo director de Recursos Humanos, Olivier Barberot.

Pesquié considerou que um ano de prisão efectiva é uma pena demasiado leve para a gravidade dos factos imputados aos administradores. Mas, acrescentou, sendo esse o máximo que a lei prevê, as duas procuradoras viam-se obrigadas a pedi-lo ao tribunal.

Quatro outros directores foram acusados de cumplicidade, sendo pedida para eles uma pena de oito meses de prisão efectiva e multas de 10.000 euros.

À imprensa, o filho de um trabalhador que se autoimolou pelo fogo no parque de estacionamento da empresa, lamentou a ligeireza das penas pedidas para acções que tiveram efeitos tão graves, chamando a atenção para a falta de arrependimento dos réus, por saberem "que não arriscam grande coisa".

A advogada Sylvie Topaloff, da acusação particular, reforçou o requisitório das duas magistradas lembrando que a política de assédio fora concebida "ao mais alto nível" e que os administradores procuravam cumprir a promessa feita aos bancos, de reduzir os tais 22.000 postos de trabalho.

Do lado oposto, o advogado da defesa, Patrick Maisonneuve, sustentou que as rescisões seriam "voluntárias" e que "a  responsabilidade pessoal [dos réus, nos suicídios] não foi demonstrada". As alegações da defesa vão prosseguir na segunda feira e o processo deverá estar concluído em 11 de julho.




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