Fretilin quer reafirmar compromisso com povo timorense antes de eleições

por Lusa

Os líderes da Fretilin, maior força política timorense, pediram hoje a união do partido e o compromisso político com o povo e a nação, a poucos meses das legislativas, referindo-se à transição geracional no país.

"A resposta não pode ser pequena quando os desafios são grandes. Apelo por isso à consciência política dos delegados, para pensar no futuro com objetividade", disse o presidente da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Francisco Guterres Lú-Olo.

"A vitoria da Fretilin, é a vitória do povo de Timor-Leste", disse, na abertura da 5.ª conferência nacional do partido, este fim de semana, em Díli, dominada pelos debates sobre a campanha para as legislativas, previstas para maio.

No encontro, que termina no domingo, vão ainda ser aprovada a revisão dos estatutos, alterados no congresso de 2022.

Cerca de 500 pessoas participam na conferência, onde estão vários membros do Governo e deputados do partido, responsáveis das várias estruturas e ainda representantes de outras forças políticas convidadas e da Comissão Nacional de Eleições (CNE) timorense.

O também ex-chefe de Estado (2017-2022) disse aos militantes para estarem preparados para "os novos desafios" e trabalhar com as estruturas para preparar as próximas legislativas.

Sobre estes desafios que o país e o partido e enfrentam, incluindo no caso da força política "sobre a sua própria existência", Lú-Olo defendeu um amplo trabalho em conjunto, para consolidar a Fretilin.

Já em tom de campanha, aludiu à importância de atuar para corrigir "os grandes desafios da economia e do emprego" e os "amplos efeitos", bem com responder aos "problemas sociais".

O secretário-geral, Mari Alkatiri, referiu a "combinação da legitimidade histórica e da legitimidade democrática" da Fretilin, e considerou que os próximos cinco anos vão ser determinantes para Timor-Leste.

"A independência significa reforçar o Estado. E o Estado é crucial para a existência da nação. Se não fortalecemos o Estado, a nação morre", sublinhou.

"[A] eleição vai ser uma luta renhida, mas vamos ganhar", disse, afirmando ser necessário "trabalhar com o povo". A população "tem que sentir a diferença, que a sua vida melhora", salientou.

Alkatiri abordou ainda a transição geracional e a necessidade de "identificar líderes naturais, que o povo reconhece, jovens ou velhos" com capacidade de trabalhar, de "servir o povo, não interesses ou grupos".

Ao mesmo tempo, defendeu a necessidade de adoção de medidas consensuais e estruturais. "Mas não é fácil. [É] Tempo de afirmar o partido, de afirmar o Estado, de afirmar a nação. Por favor, deem-nos confiança para que possamos liderar o país cinco anos. Não travem, cooperem a bem de afirmação do Estado e da nação. Não travem a liderança. Trabalhemos juntos", afirmou.

No quadro dos estatutos, uma das novidades é a "Troica de Liderança", formada por Lú-Olo, Alkatiri e pelo ex-comandante das forças armadas Lere Anan Timur, todos com a posição de "copresidente".

A criação da troica, aprovada no congresso do partido em 2022, é vista dentro da Fretilin como uma forma de "reabilitar politicamente" Lere Anan Timur, reintegrando-o no partido, de onde esteve afastado devido às funções militares.

Lere Anan Timur se apresentou como rival de Lú-Olo nas presidenciais do ano passado, levando a grandes debates internos sobre a futura liderança da Fretilin.

A proposta revista de estatutos, a aprovar neste fim de semana e a que a Lusa teve acesso, define a troica como um "comité orientador do partido", formado por "três líderes históricos (...) que desempenhavam as suas tarefas extraordinárias, como fundador, defensor e continuador da Fretilin".

Assim, Mari Alkatiri integra o órgão como "1.º comissário político nacional", Lú-Olo como último secretário da Comissão Diretiva da Fretilin e militante desde 1974" e Lere Anan Timur como "membro do comité central da segunda geração sobrevivente (Partido Marxista-Leninista Fretilin) e militante desde 1974".

Entre as competências, contam-se "garantir a estabilidade institucional do partido e a ampliação da base frentista", apostar na formação e capacitação dos quadros para "garantir unidade de ação na transição geracional" e ainda "reforçar os princípios e valores da luta de libertação para avançar para a libertação do povo".

Ao intervir, Lere, de 70 anos, disse que o próximo ciclo político é crucial para os líderes mais velhos do país.

"Não houve mudança de liderança do país até agora. Xanana Gusmão está a caminho dos 80, Mari Alkatiri também. A liderança de hoje lidera há 30 ou 40 anos. Esta é a sua última página", disse, criticando as divergências entre os líderes históricos do país.

Lere Anan Timur salientou que se está a abrir "uma nova página da vida política do país", sendo "dever e missão" da Fretilin defender o povo de Timor-Leste, país pelo qual luta, sem interrupção, desde 1975.

O período eleitoral deve servir como momento de reflexão para o partido, disse Lere Anan Timur, sublinhando ser necessário um movimento "competente, com capacidade e a trabalhar para o desenvolvimento", em que os militantes "devem servir a Fretilin" e não o contrário.

"A eleição é um grande desafio para a Fretilin. Temos que estar todos juntos. Temos que trabalhar juntos. Alianças ou não decidiremos depois, mas primeiro temos que nos fortalecer a nós", destacou o responsável, que criticou ainda tentativas de "vingança e ódio".

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