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Fuga à guerra. O que está a acontecer nas fronteiras da Rússia?

por Cristina Sambado - RTP
Imagens de drone mostram as longas filas de veículos à saída da Rússia na fronteira com a Geórgia. Foto: Insider via Reuters

O anúncio da primeira mobilização militar parcial da Rússia desde a II Guerra Mundial está a levar a uma fuga em massa de homens em idade militar para evitar serem enviados para a guerra na Ucrânia. Nas passagens fronteiriças há filas de vários quilómetros.

Os destinos escolhidos preferencialmente são os que têm fronteira terrestre com a Rússia.

Finlândia, Mongólia, Cazaquistão, Geórgia, Arménia, Bielorrússia, Uzbequistão, Letónia. Lituânia, Estónia, Polónia, Azerbaijão e Sérvia são alguns dos exemplos.

As opções de fuga são limitadas: quatro dos cinco países da União Europeia que fazem fronteira com a Rússia já anunciaram que não permitem a entrada de russos com vistos turísticos.

Os voos diretos de Moscovo para Istambul, Yerevan, Toshkent e Baku, as capitais dos países que permitem aos russos a entrada sem visto, esgotaram-se para a semana seguinte ao anúncio da mobilização. O valor elevado das passagens aéreas torna a o valor possível apenas para uma minoria.

Geórgia
Foto: The Insider via Reuters

As chegadas de russos à Geórgia quase duplicaram para dez mil por dia, após o anúncio da mobilização parcial anunciada por Vladimir Putin no passado dia 21 de setembro.

O Ministério do Interior da Geórgia revelou que o “número aumentou para cerca de dez mil por dia. Havia 11.200 no domingo e menos de dez mil na segunda-feira”, em comparação com “cinco mil a seis mil” antes da mobilização.

O número de entradas está a diminuir, mas continua mais elevado do que o normal.

No domingo, num dos pontos fronteiriços, o tempo de espera para entrar na Geórgia era de 48 horas, e mais de três mil viaturas estavam na fila.

Desde a invasão russa à Ucrânia, a 24 de fevereiro, cerca de quatro mil russos chegaram a Tbilissi, a capital do país do Cáucaso.

A Rússia travou uma guerra em 2008 com a Geórgia pelo controle das regiões separatistas da Ossétia do Sul e da Abkhazia. A Geórgia contínua hostil ao Kremlin.

Cazaquistão 

O presidente do Cazaquistão revelou esta terça-feira que está disposto a acolher refratários russos que estão a fugir para o território cazaque para evitar a incorporação militar.

"Nos últimos dias, muitas pessoas vêm da Rússia para aqui. A maior parte é obrigada a sair" do país vizinho, disse Kassym-Jomart Tokaiev, citado pelos meios de comunicação social russos.

"Temos de nos preocupar com eles e assegurar-lhe segurança", acrescentou o chefe de Estado do Cazaquistão, país aliado da Rússia mas que está manter distância sobre as questões relacionadas com a nova invasão iniciada no passado dia 24 de fevereiro.

Nas fronteiras do antigo Estado soviético registaram-se várias filas de pessoas que querem deixar a Rússia.

Apesar de ser um parceiro próximo de Moscovo, devido aos seus laços históricos, o Governo de Astana já revelou que não vai reconhecer a anexação das regiões orientais da Ucrânia, se a Rússia usar os referendos como pretexto para o fazer.

Finlândia
Foto: Lehtikuva/Sasu Makinen via Reuters

Na última semana, quase 17 mil russos cruzaram a fronteira com a Finlândia, um aumento de 80 por cento face à semana anterior.

Alguns dos russos que fizeram a travessia no passado fim-de-semana revelaram que partiram de São Petersburgo – a segunda maior cidade da Rússia- e fizeram mais de três horas de carro.

Na sexta-feira, o governo da Finlândia afirmou que vai impedir a entradas de todos os cidadãos russos com visto de turista, apesar de poderem ser feitas exceções em casos de motivos humanitários.

Letónia, Lituânia, Estónia e Polónia 
Foto: Fronteira com a Estónia | Janis Laizans - Reuters

Tal como a Finlândia, são quatro países da União Europeia que partilham fronteira terrestre com a Rússia – dois em redor do enclave de Kaliningrado e ou outros adjacentes ao Continente europeu.

Os quatro países decidiram recentemente rejeitar turistas russos, limitando as possibilidades de russos fugitivos usá-los como rota de saída.

A UE, que já tinha proibido voos diretos entre seus 27 estados membros e a Rússia, recentemente concordou em limitar a emissão de vistos Schengen, permitindo a livre circulação em grande parte da Europa, para cidadãos russos.

Bielorrússia 

O Governo de Minsk é um dos poucos que apoia a invasão russa à Ucrânia, no entanto há relatos de vários russos terem entrado no país.

Uma fuga que pode não ser das mais seguras, os serviços de segurança da Bielorrússia foram instruídos a rastrear os russos que fugiram do alistamento.

Mongólia
Foto: Maxar Technologies via Reuters

Entre as minorias étnicas em áreas remotas e pobres da Sibéria, de onde no passado foram retiradas grandes proporções das Forças Armadas profissionais da Rússia, houve protestos.

No sábado, o ex-presidente da Mongólia Tsakhia Elbegdorj, atual chefe da Federação Mongol Mundial, disse que qualquer um que fugisse do alistamento militar seria recebido calorosamente em seu país.

Uzbequistão 

A principal autoridade religiosa do Uzbequistão, uma ex-república soviética na Ásia Central, instou os habitantes a não se envolverem no conflito da Ucrânia, por que isso iria contra a fé islâmica.

O Conselho Muçulmano do Uzbequistão disse que membros de algumas "organizações terroristas" estavam recrutando muçulmanos para lutar no conflito na Ucrânia sob o pretexto de jihad, ou guerra santa.

Turquia, Arménia, Azerbaijão e Sérvia 
Foto: Aeroporto internacional de Yerevan, Armédia | Hayk Bagdasaryan/Photolure via Reuters

São países nos quais os russos não necessitam de visto para entrar.

Os voos foram vendidos a preços exorbitantes devido ao aumento da procura nos últimos dias.

Alguns russos chegam à Turquia com a esperança de voar para outros países.
Foto: Antália, Turquia | Kaan Soyturk - Reuters
E os que ficam?

Muitos dos que não conseguiram fugir sentem que o tempo se está a esgotar. Pelo menos três regiões russas já anunciaram que fecharam as fronteiras internas para homens elegíveis para o alistamento.

Nos aeroportos os agentes fronteiriços começaram a interrogar os passageiros do sexo masculino e a verificar os voos de regresso.

Em várias cidades russas prosseguem os protestos contra a mobilização parcial, com muitos a acusar as tropas do seu país de estarem a cometer crimes contra a humanidade em Bucha, Irpin e outras localidades ucranianas.

Oficialmente Moscovo afirma que são necessários 300 mil militares com experiência.
Foto: Reservistas convocados em Tara na região de Omsk, Rússia | Alexey Malgavko - Reuters
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