Fumo dos incêndios da Califórnia é mais prejudicial à saúde do que outros tipos de poluição

por RTP
Mike Blake - Reuters

Um estudo publicado na sexta-feira no jornal Nature Communications concluiu que as partículas finas lançadas pelos incêndios florestais da Califórnia resultaram num número de hospitalizações relacionadas com doenças respiratórias dez vezes superior em comparação com outros tipos de poluição, nomeadamente a automóvel.

A investigação avaliou o impacto das partículas finas (PM2.5) presentes no fumo dos incêndios florestais da Califórnia na saúde da população, em comparação com outras fontes de poluição.

As conclusões da pesquisa indicam que as partículas de incêndios estão associadas a um maior impacto na saúde respiratória do que partículas de outros tipos de poluição, como a provocada pelos automóveis.

Os investigadores responsáveis pelo estudo analisaram os internamentos hospitalares durante um período de 13 anos, entre 1999 e 2014, e concluíram que os picos da poluição do ar durante a pior temporada de incêndios no sul da Califórnia – alimentados maioritariamente pelos ventos fortes de Santa Clara – estão correlacionados ao aumento de dez por cento nas hospitalizações devido a problemas respiratórios.

“Concluímos que as partículas finas dos incêndios são dez vezes mais prejudiciais à saúde do que partículas de outras fontes de poluição”, lê-se no estudo.

Tal como explica o estudo, os incêndios têm a capacidade de aumentar “considerável e repentinamente” a concentração de partículas finas (PM2.5), ultrapassando muitas vezes os “limites seguros” e atingindo níveis considerados nocivos. Numa altura em que os incêndios são cada vez mais frequentes e mais impactantes, muito em parte devido às alterações climáticas, os especialistas alertam para consequências cada vez mais graves na saúde da população, mais concretamente nos habitantes do ocidente dos EUA.

Sabemos que os incêndios florestais se tornarão mais extremos devido às alterações climáticas”, disse ao jornal The Guardian Rosana Aguilera, uma das autoras do estudo. “E é importante que comecemos a contar com os efeitos secundários disso”, acrescentou.

Embora a poluição por partículas nos Estados Unidos tenha, de uma forma geral, diminuído nos últimos anos devido a regulamentações ambientais mais rígidas, a poluição no noroeste do país aumentou devido aos incêndios florestais.

Em 2020, a Califórnia esteve em chamas durante meses e os incêndios devastaram mais de oito mil quilómetros quadrados, uma área recorde neste Estado norte-americano desde 1987. E segundo este estudo, “a gravidade e o risco de incêndio florestal nesta região provavelmente irão intensificar-se no futuro ainda mais aquecido”.
Impacto desproporcional
Tal como observa a investigação, o aumento destas partículas tóxicas devido aos incêndios afeta particularmente a população mais vulnerável, como os idosos e as crianças, bem como os trabalhadores de baixo rendimento e comunidades pobres de cor em toda a Califórnia – uma fatia da população que está já mais exposta a outras fontes de poluição, nomeadamente rodoviária, de fábricas e refinarias.

Tal como descreve The Guardian, nos municípios de Riverside e Imperial, no sul da Califórnia, os trabalhadores agrícolas respiram regularmente um ar poluído por pesticidas. “Na nossa região, a maioria dos trabalhadores tem asma”, disse ao jornal Luz Gallegos, diretora executiva do grupo de defesa TODEC. “Os seus filhos têm asma, os seus pais têm asma. Esta tem sido uma crise constante”, acrescenta.

Mary Prunicki, investigadora da Universidade de Stanford que estuda o impacto da poluição atmosférica na saúde, sublinha que um estudo recente demonstrou que o fumo provocado por um incêndio pode ser um fator agravante não só para doenças respiratórias, mas também para problemas cardíacos, podendo estar na origem de ataques cardíacos e derrames.

Prunicki, que não faz parte da equipa de investigadores do estudo agora publicado no Nature Communications, não tem dúvidas de que o fumo dos grandes incêndios da Califórnia não é apenas grave para a saúde do ser humano, mas “extra grave, provavelmente pior do que outros tipos de poluição”.

Na causa do problema poderá estar a natureza do material que está a ser queimado. Devido à exploração da área florestal da Califórnia, os incêndios são cada vez mais propensos a queimar casas e outros tipos de infraestruturas, expelindo uma mistura nociva de plásticos, metais, produtos químicos de limpeza doméstica e outros tipos de partículas.

O estudo ressalva que são precisas pesquisas adicionais para perceber os perigos a longo prazo da exposição às partículas proveniente do fumo dos incêndios. “Mas acho que já sabemos o suficiente sobre os impactos para exigir uma ação de emergência”, alerta a investigadora de Stanford.
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