Gaza denuncia morte de 1.500 palestinianos que procuravam ajuda e condena GHF

As autoridades da Faixa de Gaza indicaram hoje que mais de 1.500 palestinianos foram mortos pelo Exército israelita enquanto aguardavam ajuda humanitária, incluindo mais de 1.100 dentro de centros da Fundação Humanitária de Gaza.

Lusa /
Mahmoud Issa - Reuters

A controversa organização sem fins lucrativos conhecida pela sigla inglesa GHF, única responsável pelo fornecimento de ajuda humanitária ao enclave palestiniano autorizada por Israel desde maio até ao cessar-fogo de outubro, anunciou na segunda-feira o fim das suas operações no território.

Num comunicado divulgado na plataforma digital Telegram, as autoridades de Gaza, controladas pelo movimento islamita palestiniano Hamas, sublinharam que "1.506 pessoas foram assassinadas pelas forças de ocupação enquanto esperavam para obter ajuda, em cenas representativas dos crimes de fome e homicídio".

"Documentámos 1.109 mortes causadas pelas forças de ocupação dentro destes centros israelo-norte-americanos, como resultado de disparos e ataques de artilharia contra civis famintos que se aproximaram ou entraram neles", referiu o gabinete de imprensa no texto publicado.

Entre estas vítimas, "há 225 crianças, 852 adultos e 32 anciãos", precisaram as autoridades de Gaza, vincando que "a GHF era uma empresa de fachada humanitária falsa que transformou os centros de ajuda em armadilhas mortais e locais para o assassínio em massa".

"A GHF é uma entidade diretamente envolvida em atrair sistematicamente civis famintos para armadilhas mortais", reiteraram, acrescentando que "tais armadilhas foram planeadas e geridas no âmbito do sistema israelo-norte-americano, sob a aparência de trabalho humanitário".

"Esta organização foi um parceiro fundamental na criação de palcos de massacre e um executor prático do mais perigoso plano da era moderna contra civis através da fome e do genocídio", denunciou o Governo do Hamas.

Segundo as autoridades de Gaza, "2.615 pessoas morreram de fome enquanto recebiam tratamento em hospitais".

"Estas violações constituem crimes de guerra e contra a humanidade, como parte de uma política de genocídio através da fome", sustentaram.

"Consideramos as autoridades de ocupação israelitas, os funcionários da GHF e as entidades norte-americanas patrocinadoras da GHF totalmente responsáveis por estes crimes, que não estão sujeitos a qualquer estatuto de prescrição e serão perseguidos a todos os níveis", afirmaram.

"Reiteramos que a ocupação, o seu sistema e os seus parceiros, em primeiro lugar a GHF, são totalmente responsáveis por todos os crimes cometidos", sublinharam as autoridades da Faixa de Gaza, antes de expressarem o seu empenho em "documentar tais crimes e apresentar os casos para responsabilização ao nível internacional, assegurando que nenhuma das partes envolvidas escape à punição".

A entrada da GHF em Gaza em maio deste ano, como única entidade distribuidora de ajuda humanitária e com apenas alguns postos de distribuição de alimentos, em quantidade insuficiente e que rapidamente se esgotavam, originou mais fome e mais mortes por fome no enclave palestiniano, após quase dois meses de cerco, sem entrada de qualquer ajuda.

A fundação, que tinha ao seu serviço ex-militares norte-americanos, empresas privadas de segurança e mercenários, não só controlava essa entrada a conta-gotas de mantimentos no território como, com o Exército israelita, regularmente abria fogo sobre os civis famintos.

Tal levou as Nações Unidas a alertar, há vários meses, que a GHF não trabalhava segundo os princípios do Direito Internacional Humanitário.

Havia muito que a ONU declarara o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo, mas a 22 de agosto emitiu uma declaração oficial do estado de fome na cidade de Gaza e arredores.

Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusara Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça, e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos.

Está desde 10 de outubro em vigor em Gaza um cessar-fogo, a primeira fase de um plano de paz proposto pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, para pôr fim a dois anos de guerra, desencadeada pelo ataque de 07 de outubro de 2023 do Hamas a Israel, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e 251 sequestradas.

A retaliação de Israel fez mais de 69.500 mortos - entre os quais mais de 20.000 crianças - e quase 171.000 feridos, na maioria civis, segundo números atualizados (com as vítimas das quebras do cessar-fogo por Israel) pelas autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.

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