General da Guarda Republicana síria foge para Paris

O general-brigadeiro Manaf Tlas é o oficial de mais alta patente a desertar desde o início da revolta na Síria. A oposição a Bashar al-Assad espera que a fuga do general signifique que o círculo íntimo em torno de Bashar al-Assad se está a desagregar. Mas a deserção está ser considerada pelo regime como "pouco significativa". Tlas estava sob prisão domiciliária desde maio de 2011.

Graça Andrade Ramos, RTP /
Manaf Tlas é considerado muito próximo do Presidente Bashar al-Assad mas opõe-se à repressão da população civil síria www.yalibnan.com

Em março, notícias da deserção de Manaf Tlas foram desmentidas.

Desta vez, o próprio ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, confirmou que o general é aguardado em Paris, onde mora o pai, Mustafa, antigo ministro da Defesa do pai de Bashar, durante três décadas.

Uma testemunha, em Damasco, afirma que a casa de Tlas foi vasculhada por agentes da segurança, após as notícias da sua fuga para a Turquia, esta quinta-feira.
Prisão domiciliária
O general-brigadeiro da Guarda Republicana tem cerca de 40 anos e pertence a uma família muito próxima do poder, tendo sido companheiro de Bashar al-Assad no colégio militar.

Apesar do posto, Manaf Tlas encontrava-se em prisão domiciliária desde maio de 2011, segundo a BBC, devido à sua oposição à estratégia adotada pelo regime contra a revolta.

A sua deserção poderá apesar de tudo revelar-se um sério revés para o governo do Presidente Bashar al-Assad, sobretudo se Tlas se juntar aos rebeldes, algo provável já que ele é um sunita, a mesma corrente do islão seguida pelos revoltosos, enquanto Bashar al-Assad é um alauíta.
"Carisma"
Manaf Tlas comanda uma brigada da Guarda Republicana síria, o corpo de elite militar mais próximo do Presidente.

"A sua deserção é uma grande notícia porque significa que o círculo interno está a desintegrar-se", afirmou um diplomata ocidental. Devido ao seu desacordo com a estratégia seguida por Assad, Tlas terá sido relegado para as franjas desse círculo "mas ele tem peso entre os militares", segundo o mesmo diplomata.

A brigada de Tlas na Guarda Republicana será muito leal ao seu comandante e muitos dos seus membros poderão segui-lo na fuga.

"O general Tlas é um nome importante e a sua aparente decisão de largar Assad, fere", acrescenta um responsável norte-americano também sob anonimato. "Ele tem carisma e se se juntar aos revoltosos isso pode ser significativo", acrescenta a fonte.

Não há para já sinais que o general tencione juntar-se à revolta contra Bashar.
Deserções "todos os dias"
O ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Ahmet Davutuglu, diz por seu lado que todos os dias há deserções do exército de Assad, prova de que o regime se está a desagregar.

"Há soldados a fugir e dizem-nos que têm instruções para atacar as populações e é por isso que desertam, para não matarem civis", afirmou à televisão France 24.

"Todos os dias recebemos generais, coronéis, oficiais e temos, creio, cerca de 20 generais e talvez uma centena de oficias de alta patente, coronéis" acrescentou.

O Exército síria livre, ESL, o corpo que organiza os ataques ao exército sírio, é composto maioritariamente por desertores aliados à resistência local das províncias e muito do seu armamento foi levado na fuga ou roubado em operações militares.
Missões de reconciliação
Segundo a televisão al Jazeera, a família Tlas é oriunda de Rastan, uma cidade na província central de Homs que, após violentas manifestações e combates entre oposição e exército, se encontra praticamente nas mãos dos rebeldes.

Pertence também à família, Abdul Razzak Tlas, um ex-primeiro tenente do exército sírio que desertou há mais de um ano e se tornou um dos comandantes mais populares do ESL em Homs.

Fontes próximas em Damasco afirmam que Manaf Tlas tentou diversas vezes reconcilar opositores e lealistas do regime em Homs e na província sul de Daraa, sem sucesso.

Mas desde o assalto das forças do regime contra o bairro Bab Amr em Homs, em fevereiro de 2012, o afastamento de Manaf Tlas do regime tornou-se definitivo.
Fuga "não quer dizer nada"
Nos últimos meses, Manaf Tlas deixou de usar uniforme e passou a vestir-se à civil, deixando crescer a barba e o cabelo.

Riad al-Asaad, um comandante do ESL, afirmou à al Jazeera a partir da Turquia, que apanharam Tlas "na fronteira com a Síria" mas que não se tinha reunido com o general-brigadeiro.

Um sítio de notícias na internet, Syriasteps, pró-regime, citou fontes de segurança sírias que reconheceram que Tlas estava na Turquia.

Mas acrescentou, "a sua deserção não quer dizer nada. Se os serviços de informação sírios tivessem querido detê-lo, te-lo-iam feito".

PUB