George Floyd. Segundo dia de protestos nos EUA com violência nas ruas

por Inês Moreira Santos - RTP
Etienne Laurent - EPA

Os protestos contra a morte de George Floyd continuaram pelo segundo dia consecutivo, nos Estados Unidos. Milhares de pessoas voltaram a sair às ruas de Minneapolis, na quarta-feira, em manifestações que acabaram em confrontos com a polícia.

Minneapolis, no Estado de Minnesota, voltou, na quarta-feira à noite, a ser palco de confrontos entre as forças policiais e os manifestantes contra a morte de George Floyd.

Apesar da pandemia da Covid-19, os protestos continuaram pelo segundo dia consecutivo, com os manifestantes a exigirem a detenção do agente da polícia que asfixiou o afroamericano de 46 anos, na segunda-feira, com o joelho, de acordo com imagens de um vídeo da detenção que se tornou viral.

As manifestações começaram de forma pacífica, mas tornaram-se "extremamente perigosas", segundo o governador do Minnesota, Tim Walz.

A polícia disparou balas de borracha e granadas de gás lacrimogéneo, durante os protestos da última noite, e alguns manifestantes vandalizaram armazéns Target e incendiaram um loja de componentes automóveis.

"A situação perto de Lake Street e Hiawatha, em Minneapolis, evoluiu para uma situação extremamente perigosa", disse Walz no Twitter.

"Para segurança de todos, por favor, deixem a área e permitam que bombeiros e paramédicos entrem em ação", acrescentou.



À semelhança do que aconteceu no primeiro dia de contestação, os manifestantes cercaram o edifício da Polícia. Alguns manifestantes partiram janelas do edifício e as forças policiais criaram, por isso, uma barreira do lado de fora. Em resposta aos atos de vandalismo, a polícia começou a disparar gás lacrimogéneo e balas de borracha.

Do outro lado da rua, uma loja da AutoZone foi incendiada, e alguns grupos de manifestantes vandalizaram e destruiram outras lojas nas áreas próximas, avança a CNN.

Nas redes sociais são divulgadas imagens e vídeos dos protestos violentos desta madrugada, nos quais acabou por ser morto um manifestante.



A casa do agente que terá asfixiado o afroamericano também foi alvo de atos de vandalismo, com inscrições a tinta vermelha da palavra "assassino".

Entretanto, o advogado que representa a família de Floyd, Benjamin Crump, disse num comunicado que, tanto ele como os familiares do afroamericano, pedem que os protestos sejam pacíficos e que se assegure o distanciamento social considerando a situação pandémica atual.

"Todos assistimos à horrível morte de George Floyd em vídeo, enquanto as testemunhas pediam ao agente que o levasse para dentro do carro da polícia, deixando de pressionar o seu pescoço. Esse uso abusivo, excessivo e desumano da força custou a vida a um homem detido pela polícia por questionar uma acusação de forma não violenta", declarou o advogado, em comunicado.

No entanto, "não podemos descer ao nível dos nossos opressores e não devemos colocar em risco outras pessoas durante esta pandemia", lê-se no comunicado.  "Vamos exigir e, finalmente, forçar uma mudança duradoura, eliminando o tratamento horrível e inaceitável e obtendo justiça".
Floyd "merece justiça"
George Floyd, de 46 anos, morreu na segunda-feira, depois de ser detido por suspeita de ter tentado pagar com uma nota falsa de 20 dólares num supermercado. Num vídeo filmado por transeuntes e divulgado nas redes sociais, é possível ver um dos agentes pressionar o pescoço da Floyd com o joelho durante vários minutos.

A polícia alegou que o homem resistiu à detenção, mas segundo novas imagens, captadas pelas câmaras do restaurante em frente ao qual ocorreu a detenção, Floyd foi conduzido para a viatura policial, de mãos algemadas atrás das costas e sem oferecer qualquer resistência.

O mayor de Minneapolis Jacob Frey - que já tinha anunciado o despedimento dos quatro agentes envolvidos no incidente, na terça-feira - pediu na quarta-feira a detenção do responsável pela morte de Floyd.

"O que posso dizer com certeza, com base no que vi, é que o agente policial que estava com o joelho no pescoço de George Floyd devia ser acusado", disse Frey numa conferência de imprensa, na quarta-feira. "Nas últimas 36 horas lidei com uma questão fundamental: porque é que o homem que matou George Floyd não está na prisão? Se o tivessem feito, ou se eu o tivesse feito, ele já estaria atrás das grades", disse.

"George Floyd merece justiça. A sua família merece justiça. A comunidade negra merece justiça e a nossa cidade merece justiça", concluiu Frey.

A chefe da polícia de Minneapolis, Medaria Arradondo, disse que o departamento vai conduzir uma investigação interna completa, alegando, no entanto, que Floyd correspondia à descrição de um suspeito relativo a um caso de falsificação num supermercado e que resistia à detenção.

Em Minneapolis, o regulamento do uso de força do departamento permite que um agente se ajoelhe no pescoço de um suspeito, enquanto uma "opção de força não mortal" para agentes treinados nesse sentido.

Esse regulamento esclarece, porém, que os "agentes devem usar apenas uma quantidade de força necessária que seja objetivamente razoável".

O FBI está a conduzir uma investigação federal, a pedido da polícia de Minneapolis.
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