"Geração de 70" está a enfraquecer desenvolvimento institucional de Timor-Leste

A organização não-governamental Fundação Mahein afirmou hoje, numa análise para reflexão crítica sobre a prática política, que a dependência de redes informais em Timor-Leste, dominada por antigos veteranos, está a enfraquecer o desenvolvimento institucional do país.

Lusa /

"A dominação dos ex-veteranos e da elite militar na esfera política timorense continua a moldar uma forma de populismo marcado por redes informais, lealdades e falta de governação profissional baseada no mérito", pode ler-se na análise feita pela Fundação Mahein.

Apesar de as elites manterem a unidades através da identidade da resistência, a "prioridade à lealdade em detrimento da competência marginaliza mulheres e jovens profissionais qualificados, perpetuando discriminações nas instituições", salienta a organização não-governamental na análise.

Para a Fundação Mahein, os ex-líderes da resistência controlam os "grandes projetos de desenvolvimento e recursos do Estado" e orientam o investimento em infraestruturas e outras iniciativas para "consolidar redes de lealdade".

"Este centralismo e clientelismo reduzem a participação e fiscalização externas, priorizando os interesses de fações da elite sobre as necessidades mais amplas da sociedade timorense", salienta-se na análise.

A Fundação Mahein critica também o facto de o poder político se organizar com base na lealdade partidária, nas ligações familiares e as redes determinarem o acesso ao emprego, a promoções e recursos nas instituições do Estado.

"As instituições públicas, em vez de funcionarem com base em critérios profissionais e avaliações transparentes, refletem as relações de clientelismo, privilegiando lealdades pessoais em vez de competição justa e procedimentos formais", salienta.

Aqueles fatores, segundo a organização não-governamental, estão a enfraquecer a eficiência administrativa e a confiança pública nas instituições do Estado e a afastar profissionais competentes.

"A corrupção em Timor-Leste enraíza-se no legado histórico do período colonial português e indonésio e continua pós-independência", diz a Fundação Mahein, explicando que os projetos de grande escala têm sido criticados pelo "recurso a fornecedores únicos, falta de concursos competitivos e utilização de contratos públicos para beneficiar famílias e aliados políticos".

Na análise denuncia-se também que o domínio das elites baseada em redes informais permitiu um "ciclo contínuo de corrupção, limitando resultados de desenvolvimento e impedindo progressos na governação".

"A cultura de clientelismo, o Estado de direito débil e a falta de ações judiciais concretas tornam a corrupção uma prática normalizada, reduzindo a eficácia das políticas públicas e a confiança dos cidadãos no governo", refere.

"A agravar estes desafios, quase não existe debate ou planeamento sério sobre uma transição política geracional, apesar das crescentes preocupações nacionais e internacionais", sublinha.

Segundo a Fundação Mahein, a liderança continua concentrada em figuras da era da resistência, que cria "obstáculos para o surgimento de novas lideranças com perspetivas inovadoras e competências técnicas capazes de responder aos desafios contemporâneos".

"A falta de preparação para a renovação da liderança representa um risco de instabilidade futura e ameaça a coesão nacional, limitando a capacidade de Timor-Leste de tirar pleno proveito da sua entrada na ASEAN [Associação das Nações do Sudeste Asiático], tanto em reformas de governação, como numa agenda política mais progressista e progressista", afirma a fundação.

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