Geração Z. Confrontos anti-governamentais em Marrocos causam três mortos

Pelo menos três pessoas foram mortas pela polícia em Marrocos, durante os protestos do movimento Geração Z 212. As manifestações entram no sexto dia consecutivo e exigem reformas na gestão dos serviços públicos e o fim da corrupção do executivo.

Carla Quirino - RTP /
Confrontos em Rabat Jalal Morchidi - EPA

As autoridades no Marrocos estão a braços com uma agitação social que se estende por todo o país, liderada por um novo movimento - a GenZ212 - que protesta contra os serviços públicos deficientes e alegada corrupção do Governo.

As manifestações em várias cidades marroquinas durante esta semana levaram a pelo menos três mortes, centenas de prisões e vários ferimentos causados por confrontos entre policia e manifestantes.

Num comunicado, o primeiro-ministro marroquino, Aziz Akhannouch elogiou a ação das forças de segurança para controlar os manifestantes da Geração Z 212.

Akhannouch reportou ainda que o número de mortos resultantes da violência dos protestos subiu para três.

A agência de notícias estatal de Marrocos, a MAP, citou as autoridades locais relatando que dois “desordeiros” foram mortos pela polícia quando esta estava a agir em legítima defesa.

As mortes em Leqliaa, a cerca de 500 quilómetros ao sul da capital de Rabat, foram as primeiras vítimas nos protestos da Geração Z 212. 

Ao entrar no sexto dia consecutivo, a contestação e violência continua a alastrar a todo o país do norte da África, desde Rabat a Marrakesh.

Sem aparente liderança, a Geração Z 212 afirma-se como um movimento de jovens que dominam o uso da internet. O movimento Gen Z 212 foi criado depois de oito mulheres grávidas terem morrido num hospital em Agadir, em agosto, revelando deficiências no sistema de saúde.

Este movimento aponta o dedo ao executivo marroquino, exigindo reformas dos serviços públicos e denuncia a corrupção instalada e os gastos do Governo, argumentando que o grupo “se tornou a voz de uma geração que se sente esquecida por seus líderes”.

Nas descrições da publicação britânica Independent, os “protestos da Geração Z” são acompanhados por de cânticos e cartazes, onde chamam a atenção para "o fluxo de milhões de euros aplicados em investimentos para a preparação para o Mundial de Futebol de 2030 da FIFA (que envolve também Portugal e Espanha), enquanto muitas escolas e hospitais carecem de fundos e permanecem num estado terrível". 

Estes jovens dizem ver este evento desportivo como um desperdício de dinheiro público.Estes protestos surpreenderam o país quando emergiram nas ruas das cidades marroquinas, apesar da falta de permissão das autoridades para se manifestarem.

A violência eclodiu em várias cidades na noite desta quarta-feira, após vários dias de detenções em massa em mais de uma dúzia de cidades, particularmente em lugares onde os empregos são escassos e os serviços sociais carentes.

De acordo com a agência de notícias Associated Press, em Sale, centenas de jovens de rosto tapado invadiram ruas, danificaram e saquearam carros, bancos, lojas, partiram janelas e a polícia não foi vista.
A cidade de Sale ficou marcada veículos em chamas durante os protesto liderado por jovens que exigem reformas na saúde e educação | Jalal Morchidi - EPA

Nas cidades e vilas no leste e no sul do país, incluindo Inzegane e Ait Amira, foram registados diversos incidentes com os manifestantes a atirarem pedras e a incendiarem veículos.

O Ministério do Interior do Marrocos afirmou que as manifestações organizadas anonimamente não estavem autorizadas, logo estavam a violar a lei. Por isso, a quem participou nos protestos foi-lhe aplicado "o rigor da lei e tratado com firmeza”.

Citado pelo Irish Times, um site de notícias pró-governo referiu que “alguns desses protestos viram uma escalada perigosa, tendo ameaçado a segurança e a ordem pública depois que os protestos se transformaram em multidões violentas em que um grupo de pessoas usou facas, coquetéis molotov e arremessou pedras”.

As autoridades declararam que 409 pessoas foram detidas.

Acrescentaram ainda que 263 elementos da força da ordem ficaram feridos durante os protestos.

No último balanço, por todo o país foram danificados 142 veículos das autoridades. Pelo menos, vinte carros particulares também foram atingidos e 23 civis ficaram feridos, indicou o ministério.
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