Gerhard Schroeder, um social-democrata no turbilhão das reformas
Legitimar pelo voto a sua política de reformas foi o objectivo anunciado por Gerhard Schroeder a 22 de Maio, quando optou inesperadamente por eleições antecipadas.
Há sete anos no poder, o terceiro chanceler social-democrata da história da República Federal da Alemanha iniciou, em 2003, um ambicioso programa de saneamento das finanças do "Estado-providência".
Os cortes sociais nos subsídios de desemprego, na saúde pública e nas pensões de reforma, por exemplo, provocaram uma onda de contestação, incluindo no seio do SPD, cuja presidência Schroeder acabou por abandonar, há cerca de ano e meio, para se concentrar inteiramente no Governo.
Schroeder, o primeiro chanceler a liderar uma coligação SPD/Verdes a nível nacional, anunciou desde logo a intenção de modernizar a Alemanha, que após 16 anos do consulado do democrata- cristão Helmut Kohl ansiava por uma mudança, como as eleições viriam a demonstrar.
Político pragmático, grande comunicador, o que lhe valeu a designação de "chanceler mediático", Schroeder continua a ser muito popular, mesmo depois de o SPD iniciar a queda a pique nas sondagens.
O chanceler, que nasceu a 07 de Abril de 1944, em Mossenberg, filho de uma empregada doméstica e de um operário que morreu na Roménia, durante a II Guerra Mundial, não se cansa de referir as suas origens modestas.
O jovem Schroeder foi aprendiz num estabelecimento comercial, e formou-se em Direito em 1966, depois de frequentar a escola nocturna.
Para financiar o curso na Universidade de Goettingen, chegou a trabalhar na construção civil, até conseguir, finalmente, abrir escritório de advogado, em Hannover.
É também nesta altura que se inicia a carreira política de Schroeder, que aderiu ao SPD com 18 anos.
Em 1978, já presidia à organização juvenil dos social- democratas (Jusos), e em 1980 foi eleito deputado ao Bundestag (Parlamento Federal).
Foi a região da Baixa-Saxónia, no entanto, que catapultou Schroeder para altos voos políticos.
Depois da derrota do SPD nas regionais de 1986, Schroeder iniciou a reconquista do Hemiciclo de Hannover, e em 1990 foi eleito ministro-presidente da Baixa-Saxónia, liderando então uma das primeiras coligações SPD/Verdes existentes em todo o país.
Em 1994, no mesmo ano em que o presidente do SPD, Rudolf Scharping, foi derrotado por Helmut Kohl nas legislativas, Schroeder teve uma reeleição triunfal na Baixa-Saxónia, obtendo a maioria absoluta.
A sua ascensão no partido tornou-se imparável, e em 1997 já era apontado como potencial candidato a chanceler, apesar de Oskar Lafontaine ser o presidente do SPD.
Em Março de 1998, Schroeder recandidatou-se na Baixa-Saxónia já com os olhos postos em Berlim, pedindo aos eleitores que lhe dessem uma grande demonstração de confiança, e venceu a parada, dilatando ainda mais a sua maioria absoluta.
No auge da sua popularidade, Schroeder foi nomeado candidato a chanceler no Congresso do SPD, a 17 de Abril de 1998, em Leipzig, e cinco meses depois vencia as legislativas alemãs, pondo fim a 16 anos de consulado do democrata-cristão Helmut Kohl.
Investido como chefe do Governo, formou uma coligação com os Verdes e fez equipa com o respectivo chefe de fila, Joschka Fischer, que assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros.
Casado, em quartas núpcias, com a ex-jornalista Doris Schroeder-Koepf, apreciador de ténis e de futebol, Schroeder distingue- se pela impressionante presença mediática e pelo estilo de governação pragmático, que o tornaram bem mais popular do que o seu próprio partido.
Ao longo dos últimos sete anos, o seu Governo levou a cabo uma profunda reforma da Lei da Nacionalidade, que remontava a 1913, introduziu um pilar privado, voluntário, no sistema de pensões de reformas, e reduziu as taxas do IRC e do IRS.
A decisão de encerrar gradualmente as centrais nucleares alemãs, após negociações com a indústria energética, e a criação de um imposto ecológico são também insígnias do seu Governo, embora tenham sido impulsionadas pelos Verdes.
Schroeder, o primeiro chanceler alemão que não viveu a Segunda Guerra Mundial, conduziu também uma política externa em que a Alemanha passou a reclamar uma maior autonomia nas suas decisões, o que ficou bem patente na sua recusa de apoiar a invasão anglo-americana do Iraque.
O envio de soldados alemães para missões de restabelecimento da paz no Kosovo, em 1999, e no Afeganistão, em 2001, com mandatos das Nações Unidas, constituíram também uma estreia, após 1945,e foram reflexo da mesma política.
Apesar de o desemprego continuar elevado (3,5 milhões), a coligação SPD/Verdes foi reconduzida pelos eleitores nas legislativas de 2002, embora por margem de votos mais escassa.
É então que Schroeder inicia o programa de reformas sócio- económicas mais ambicioso da história da Alemanha do pós-guerra, com o objectivo declarado de enfrentar o desafio da globalização e o progressivo envelhecimento da população alemã, que reduz consideravelmente as receitas da previdência social.
As reformas, a chamada Agenda 2010, geraram fortes protestos, e não contribuíram, até agora, para reduzir o desemprego, que na Primavera de 2005 bateu todos os recordes, chegando a 5,2 milhões, cerca de 12 por cento da população activa.
Sem conseguir disciplinar a ala esquerda do SPD, que aderiu aos protestos contra a Agenda 2010, e após 11 derrotas consecutivas dos social-democratas em eleições regionais, a braços com uma maioria conservadora no Bundesrat (segunda câmara legislativa) que vetou alguns dos seus principais projectos, Schroeder resolveu pedir de novo o aval popular, numa arriscada fuga para a frente.